Celebram-se este ano os 500 anos da beatificação da rainha Santa Isabel de Portugal. Isabel de Aragão de seu nome, viveu entre 1270 e 1336, e faleceu a 4 de julho, dia em que se comemora a sua memória litúrgica. Casada com D. Dinis, foi uma das mais extraordinárias rainhas da História portuguesa, em grande parte pelo exemplo de dedicação ao próximo em vida e pelo rasto de devoção que nem 500 anos conseguem apagar.
«O impacto que a ação dela e a sua vida teve sobre as pessoas que com ela conviveram e que depois da sua morte logo de imediato começaram a prestar-lhe culto - porque ela morreu com fama de santidade - foi de tal forma profundo que manteve uma veneração muito viva e acesa junto dos portugueses, sobretudo dos mais simples, pois ela manifestou sempre as suas preocupações com o mais carenciados, os mais desprezados por todos, fosse por condição social, fosse por doença», diz António Rebelo, presidente da Confraria da Rainha Santa Isabel, que está atualmente encarregada de manter e promover o culto e a devoção à Rainha Santa. Sendo natural do Reino de Castela, é em Coimbra que passa os últimos anos da sua vida e é nessa cidade que morre e que deixa uma fama de santidade que leva as pessoas a rezarem pela sua intercessão a Deus, de tal forma que, em 1516, o Papa Leão X a beatifica e autoriza o culto à Rainha Santa em toda a diocese de Coimbra.
A rainha Santa Isabel não era uma simples rainha, figura subalterna do rei que se limitava a uma figura de corpo presente ou a aparições públicas com gestos grandiosos. «Mãe de família, rainha, princesa, infanta, colocada na alta roda da política diplomática, mas mesmo assim, porque era extraordinariamente culta, foi excecional. Isso tinha raiz na sua humanidade», conta-nos o Pe. Pedro Miranda, vigário-geral da diocese de Coimbra, que explica que parte da sua educação e dos seus valores lhe vieram da sua avó, Santa Isabel da Hungria, uma mulher também ela muito dedicada aos mais pobres.
Aliás, a questão da proximidade do povo em vida foi o que fez que, após a sua morte, a fama de santidade tenha crescido ainda mais. «Sendo rainha e podendo ficar enclausurada no seu castelo, ela agia de forma oposta, descia dos seus aposentos e ia ao encontro dos mais necessitados, de quem ela cuidava com as suas próprias mãos», argumenta o presidente da confraria.
O Pe. Pedro Miranda explica que não há «nada mais democrático na Igreja que os santos». «É o povo que os reconhece, tem aquele sexto sentido. Se 600 ou 700 anos depois ainda se mantém, deve-se à memória do povo cristão e o reconhecimento que as elites também foram fazendo. Não há dúvida que, na altura em que claramente se decidiu a beatificação e a canonização, o povo impôs, quer à dinastia lusa quer à dinastia filipina, às elites e às hierarquias civis e religiosas o reconhecimento da santidade de Isabel de Portugal», explica o sacerdote.

O ponto alto das comemorações destes 500 anos, e o mais esperado por todos os devotos da Rainha Santa, é a exposição da mão incorrupta à veneração dos fiéis, até dia 13 de julho. «Teremos também o túmulo aberto, com exposição da mão direita da Rainha Santa à veneração dos fiéis, porque a mão direita da Rainha Santa simboliza toda a bondade, carinho e amor que ela foi dispensando ao longo da vida, às crianças, aos doentes, leprosos, aos idosos, a mesma mão direita que escrevia cartas a pacificar os familiares desavindos e os monarcas dos povos ibéricos. É na mão direita que temos o maior símbolo do seu amor e que nela se reflete a misericórdia de Deus.»
D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, afirma que «a santidade não tem prazo de validade» e que por isso o exemplo da Rainha Santa se mantém válido nos dias de hoje. «Santa Isabel de Portugal poderia ter-se centrado nas intrigas quotidianas da corte, poderia ter-se fechado na procura do seu bem-estar pessoal, poderia ter desfrutado das possibilidades que o seu estatuto social lhe conferia. Mas ardia um fogo no seu coração, de tal modo que, movida pela fé e pelo desejo de ser fiel ao Espírito Santo recebido no batismo, quis, livremente, renunciar a tudo por causa de um amor maior», conclui o prelado.
Pode ler mais sobre os 500 anos da Rainha do Povo e sobre o milagre da incorruptibilidade do seu corpo na edição de julho-agosto da revista Família Cristã.
Texto e Fotos: Ricardo Perna
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