20.06.2022
«– Luísa! Depressa! Olha para aqueles ali à pancada, vem ver!». Assim começa o primeiro livro que li, a propósito de uma atividade em contexto escolar, da coleção Uma Aventura. Uma aventura na cidade. Depois, li muitos outros, de uma vasta coleção com mais de 60 títulos. Agora, mais de vinte anos volvidos, tenho o privilégio de poder ler uma entrevista das autoras, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, nesta edição da revista FAMÍLIA CRISTÃ, nas comemorações dos 40 anos desta vastíssima coleção que entusiasmou gerações de jovens leitores.
Andamos todos muito depressa, quase à mesma velocidade que a Luísa, que, convidada pela sua irmã gémea, se abeirava da altercação entre o Chico e o Pedro, que, de resto, depois se tornam grandes amigos! Pelo menos nos livros Uma Aventura. Na aventura da vida, também ela cheia de outras tantas contendas, também andamos a um ritmo muito acelerado. Uma aceleração que motiva a constante “falta de tempo”! Na maioria das vezes não há tempo e também não o há para a família.
Não é esta uma novidade. Já o Chico, em Uma aventura na cidade, se lamentava: «A minha mãe não tem tempo para fazer bolos!». Provavelmente, a mãe daquele Chico, e de muitos outros, não tem tempo porque os pais hodiernos investem muitíssimo tempo na gestão da sua atividade profissional e carreira profissional. Ao longo destes anos em que exerço o ministério sacerdotal, várias vezes ouvi o desabafo de pais que, querendo dar um futuro melhor aos filhos, não podem estar com eles, tendo que trabalhar mais horas e turnos seguidos! É difícil conciliar o trabalho com a vida familiar (e, ainda mais, quando se aproxima a interrupção das atividades letivas). É com alegria que constato o esforço de algumas empresas na implementação de sistemas de gestão de conciliação da vida profissional e laboral dos seus colaboradores, como é o caso da Direção-Geral dos Emprego e das Relações de Trabalho, citada a título de exemplo no artigo sobre «Economia Familiar» deste mês.
Há momentos em que a conciliação se torna complexa, e ficam reduzidas as opções para os filhos em férias, quando os pais ainda estão obrigados a cumprir as obrigações laborais. Uma das opções que a DECO sugere são os campos de férias. Que agora, após a interrupção por causa da pandemia, retomam o seu normal funcionamento. Há inúmeros campos de férias católicos, organizados, na sua grande maioria, por jovens muitíssimo empenhados. São oportunidades únicas em que os jovens e os mais pequenos vivem verdadeiras aventuras e, onde apesar de haver sempre muita pressa, há sempre tempo!
As autoras que deram vida às personagens de Uma Aventura, reconhecendo-se como muito trabalhadoras, e diferente não podia ser, comprovável pela sua vastíssima obra, afirmam que «há tempo para tudo, se a pessoa quiser». O que queremos nós? Ana Maria Magalhães afirma na entrevista: «A família está sempre em primeiro lugar.»
Na aventura de ser família parece não haver receitas ideais para a gestão correta de tantas vontades e necessidades a ritmos tão distintos. Não obstante, querer colocar o estar em família em primeiro lugar parece ser o ingrediente primeiro, mais necessário e urgente. A única pressa que deve existir é investir tempo de qualidade em família!
