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A doença mental não é o fim
10.10.2015
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Clínica Psiquiátrica de São José, em Lisboa. A luz natural e os jardins estão presentes em todos os espaços. Aqui não há portas sempre trancadas a sete chaves, nem doentes em coletes de forças, como vemos nos filmes.

Fernanda Lobo e Ana Lobo, mãe e filha
Fernanda Lobo é mãe de Ana. «Havia qualquer coisa que eu achava que não estava bem e não sabia o que era: entrava em crises depressivas com muita facilidade, tornava-se agressiva, mas também era um amor de pessoa. Quando o pai faleceu foi um boom e ela tentou por várias vezes suicidar-se. O psiquiatra disse-me que era bipolar.» Fernanda tentou a Clínica de São José, das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Os dois primeiros anos foram difíceis. Mas Fernanda reencontrou a filha, que «voltou a ser bem-disposta e alegre».

Ana tem 46 anos e está há seis na residência Galileia, uma casa de treino de autonomia dentro da clínica. Ana diz que gosta de estar ali, reconhece que se tornou mais autónoma, mas o seu sonho «é ser ainda mais e voltar a ir para o pé da minha mãe». O pedido faz os olhos da mãe brilharem.

A pessoa no centro da atenção e não a doença
Paula Carneiro é irmã hospitaleira do Sagrado Coração de Jesus desde 1990, enfermeira e diretora de enfermagem da clínica psiquiátrica de São José. Ela explica que o modelo hospitaleiro tem uma «abordagem holística ao doente, abordando as dimensões física, psicológica, social, espiritual e ética». Por isso, uma equipa multidisciplinar trabalha tendo como centro a pessoa e não a doença.

Paula Carneiro é diretora de enfermagem da Clínica Psiquiátrica de São José.
Na instituição, há 195 camas, distribuídas por sete unidades, há o curto e o longo internamento. Há quem já aqui viva há mais de 50 anos. Daí que a preocupação seja «criar ambiente acolhedor onde se possam sentir protegidas e efetivamente amadas».

Cada unidade tem cerca de 30 doentes, um refeitório, quartos, duas salas de estar e uma equipa técnica fixa. A clínica está dividida em quatro áreas: psiquiatria, psicogeriatria (doentes mentais com mais de 65 anos ou dependentes), deficiência intelectual e reabilitação psicossocial.

Famílias precisam de ser acompanhadas e ouvidas
Pedro Varandas é psiquiatra e o diretor clínico da clínica de São José. Explica que as doenças mentais «não são necessariamente incapacitantes, mas podem incapacitar durante um período de tempo». Para o médico, o internamento justifica-se quando «o sofrimento psicológico é muito intenso e/ou quando está incapaz de funcionar na sua própria vida, de relação e de cuidar de si próprio, etc.».Pedro varandas, o diretor clínico, diz que as famílias precisam de acompanhamento.
Uma doença mental perturba muito a família. «É preciso acompanhar para que não se sintam sós e completamente infelizes no sofrimento, sem saber o que fazer, sem quem os oiça no seu desespero e na sua aflição.» Não será alheio a este sofrimento o preconceito social. «Há uma faceta de medo como se o doente mental nos pudesse contaminar; há outra faceta que é achar que é um perigo e que nos pode fazer mal; outra faceta é que se está com depressão é porque quer, é fraco», conta o psiquiatra.

«Deixamos de ser “a casa dos maluquinhos”»
A terapeuta ocupacional Teresa Dias apresenta-nos o serviço de que fazem parte alguns ateliês (artesanato, informática, treino de atividades psicopedagógicas, tecelagem, cavaquinhos, folclore, etc). «A terapia ocupacional tem como objetivo promover a funcionalidade e a autonomia e inserção no dia a dia dos indivíduos na comunidade onde vivem», explica. A parceria com a Junta de Freguesia de Carnide quebrou barreiras. «Deixamos de ser aquele gueto, “a casa dos maluquinhos”. Passou a ser uma instituição de saúde aberta à comunidade.»

Noutra unidade, na sala às escuras, vê-se um filme. «É sobre o quê?», pergunta Cláudia Antunes, a assistente espiritual. «Os milagres de Jesus», responde uma senhora. «Está ali uma mulher numa cama?!», pergunta outra, provocando risos. Hoje, neste grupo de catequese, é dia de ver um filme.

Doentes mentais são capazes de encontro com Deus
Cláudia tem «cinco grupos de catequese e há um outro com uma voluntária, desde a psicogeriatria, aos deficientes mentais profundos ou mais ligeiros até à área da psiquiatria». A assistente espiritual tem a seu cargo a organização das celebrações festivas da clínica e das unidades, o acompanhamento individual de utentes, colaboradores e voluntários e a evangelização.

A área espiritual faz parte da pessoa e, por isso, do projeto de intervenção que cada doente tem, uma espécie de plano do que se vai passar com ele. Teresa Dias salienta que «trabalhar com pessoas com doença mental é perceber que isto não pode ser o fim; isto tem de ser o princípio de alguma coisa, o abrir portas para mais qualidade de vida… Temos pessoas que estão aqui 24 sobre 24 horas…»

Leia a reportagem completa na edição de outubro de 2017 da FAMÍLIA CRISTÃ.
Reportagem: Cláudia Sebastião
Fotos: Ricardo Perna
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