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A «Igreja é tão pobre como os pobres que vivem à sua volta»
14.09.2017
Presente em 140 países no mundo, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS) esteve estes dias em Fátima a celebrar o seu 70º aniversário e os 50 anos da consagração da instituição a Nossa Senhora de Fátima. Catarina Martins, presidente da Fundação AIS, falou à Família Cristã sobre estes dias e sobre a efeméride que assinalam.


Que balanço podemos fazer destes dias?
Para a AIS estes dias foram muito importantes, porque reunimos aqui um grupo de amigos e benfeitores de todo o mundo. Estamos aqui em Fátima para agradecer a Nossa Senhora o facto de nos ter protegido estes anos, ajudado a sermos fiéis à nossa missão, que é estarmos juntos dos cristãos que mais sofrem. Estarmos aqui é um agradecimento e um reconhecimento da importância de Nossa Senhora de Fátima no nosso trabalho.
 
Não foi uma escolha inocente o local para a celebração dos vossos 70 anos?
De forma alguma (risos). Quando o nosso fundador, no final dos anos 60, descobriu a Mensagem de Fátima, descobriu que estávamos ligados. Nossa Senhora deixou esta mensagem de oração pela conversão da Rússia, de oração pela paz, e nós já o fazíamos antes de conhecermos a mensagem. Quando ele a conheceu, percebeu que a mensagem era também para nós, para ajudar nesta conversão dos povos, de rezar diariamente pela paz. Ele esteve cá em 1967 para consagrar a instituição, e por isso o local ideal para celebrar os 70 anos da instituição, os 50 da consagração e o centenário das aparições era mesmo aqui em Fátima, para juntos agradecermos e pedirmos para conseguirmos manter-nos fiéis a esta missão, porque cada vez mais a nossa ação é necessária no mundo.
 
A Igreja continua a sofrer?
A Igreja sofre, e cada vez mais. Temos repetidamente falado que os cristãos são a comunidade mais perseguida no mundo, e estão a sofrer muito. Seja em países em que a pobreza é muito grande e a Igreja tem de estar próximo aos pobres para os ajudar e não tem forma de ter os apoios necessários, ou em situações de guerra, é necessária uma instituição como a nossa, e outras, que estão no terreno a ajudar estas comunidades a permanecer nos seus países. Esta igreja que sofre é cada vez maior no mundo, cada vez há mais pessoas a pedir-nos ajuda, são cada vez mais os pedidos que nos chegam.
 
E têm conseguido dar resposta a todos os pedidos?
Infelizmente não. O ano passado apoiámos 6 mil projetos em todo o mundo com quase 100 milhões de euros, mas houve quase 2 mil que ficaram por apoiar, porque não temos fundos.
Há 70 anos, a ideia era ajudar os refugiados da Alemanha, pós II Guerra Mundial. Hoje vivemos uma crise migratória como nunca tivemos na história, os pedidos são muitos e queremos estar presente junto destas pessoas. São pedidos aos quais não podemos deixar de responder, que não podemos adiar. Quando nos pedem leite, comida, não é para daqui a uns dias, é para hoje que as pessoas têm de comer ou receber medicamentos.
Quando pensamos nos milhares de refugiados da República Centro-Africana, ou da Nigéria... não podemos deixar para amanhã este tipo de ajuda. Alguns pedidos vão ficando adiados, porque quando temos de escolher entre salvar vidas humanas ou reconstruir uma casa ou comprar um meio de transporte, e escolhemos salvar vidas. Os pedidos são cada vez mais, mas temos fé que os nossos benfeitores, que têm sido muito generosos, vão continuar a ajudar-nos a apoiar esta Igreja que sofre.


Grande parte do vosso trabalho é nos países de origem, para evitar a migração...
Sim, é isso. Neste momento estamos com uma espécie de Plano Marshall para a reconstrução do Iraque. Pegar nas famílias que em 2014 fugiram de suas casas e foram para Ankawa e Erbil, e ajudá-las a regressar aos seus locais de origem, maioritariamente famílias cristãs. Já reconstruímos 45 casas, mas o trabalho é imenso, porque as casas ficaram todas destruídas ou queimadas. Estamos a fazer um esforço para que as famílias com crianças estejam alojadas até final deste mês, para que as crianças não percam o início do ano escolar, e depois tentar recuperar as outras para as famílias que queiram regressar.
O nosso trabalho não é na Europa, mas nos países de origem dos refugiados. Temos de reconstruir as casas, continuar a alimentá-los, porque as taxas de desemprego são muito altas, principalmente para os cristãos, que têm maior dificuldade porque no seu BI têm a religião a que pertencem.
Infelizmente, no caso do Iraque e da Síria, há muitas organizações não governamentais que saíram, e poucas organizações estão no terreno a ajudar...
 
Como em outras situações, é sempre a Igreja que acaba por ficar...
A Igreja fica e precisa de ficar e ajudar os que lhe batem à porta, independentemente da sua religião, e também aqui se veem as diferenças para as outras religiões.
 
Foi por isso que trouxeram pessoas de todo o mundo para dar testemunho?
Não fazia sentido estarmos aqui se não tivéssemos os nossos parceiros no terreno, porque sem estes parceiros, a AIS não faria sentido. Não podíamos deixar de assinalar estas datas sem ter estas pessoas dos 5 continentes para nos darem um testemunho de viva voz.
É essencial ouvirmos como é hoje ser cristão nestes países. Nem todos vêm de países onde os cristãos são perseguidos, mas de sítios onde sofrem com a pobreza, e é importante que se sintam ligados a estas pessoas.
O mais extraordinário nestes testemunhos é mostrar que esta Igreja é tao pobre como os pobres que vivem à sua volta. Estes padres e estas irmãs podem vir para a Europa, mas escolhem ficar lá com o seu povo, com as suas dificuldades. E é extraordinário ver estes heróis da Igreja que estão aqui connosco.


 
Entrevista: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna e D.R.
 
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