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​A realidade é que «os casais jovens estão muito sozinhos na Igreja»
23.06.2022
O painel da tarde no congresso do X Encontro Mundial das Famílias abriu com Eduardo e Mónica González Soriano, um casal da diocese de Toledo que veio trazer à discussão e reflexão um dos assuntos referidos pelo Papa Francisco na exortação apostólica Amoris laetitia que mais novidade trouxe na altura: o acompanhamento dos jovens depois do matrimónio.

 
Sentindo a necessidade de chegar a estes casais, a diocese de Toledo criou o FamilyRock, a família que é criada sobre a rocha, um projeto de acompanhamento dos casais jovens que tem como base o envio regular de recursos de oração em família a todos os casais recém-casados da diocese, mas que quer mais que isso e propõe depois a constituição de grupos de reflexão entre esses casais e tem, todos os anos, por altura do S. Valentim, uma celebração pública, uma procissão de todos casais que termina com um momento de oração conjugal.
 
O projeto tem sete anos e, garante Mónica Soriano, resultados comprovados. «Temos testemunhos de casais que foram salvos por este acompanhamento, que perceberam que o que se passava com eles era normal, e que não estavam sós», confirmou à Família Cristã no final da sua intervenção.
 
O objetivo é, ao contrário do passado, ir ao encontro dos casais jovens, e convidá-los a virem até à Igreja. «É muito importante que, nas paróquias, os sacerdotes e os casais mais velhos convidem constantemente estes casais mais jovens, que aproveitem os batismos dos filhos, as Primeiras Comunhões, esses momentos, para poderem chamar e convidar os casais jovens a ficarem na Igreja e a participarem», pediu Mónica Soriano.
 
A verdade é que, explica Eduardo Soriano, na diocese de Toledo os casais tinham uma preparação muito boa para o matrimónio, tinham uma cerimónia muito bonita e iam embora muito contentes. «O problema era esse: iam-se embora, e não voltavam», diz, numa fase da sua vida que é «delicada». «A estatística diz que 50% dos divórcios acontecem nos 5 primeiros anos, e este número está a aumentar. São anos delicados, em que o casal se encontra, cria um projeto comum, começamos a viver juntos, a lidar com questões como as famílias de origem, a economia familiar, a educação dos filhos, ou coisas como a infertilidade, abortos, outras doenças... e precisamos de alguém, como dizia o Papa Francisco na Amoris laetitia, que nos faça conscientes da importância do matrimónio, interiorizar o que significa o matrimónio», destaca Mónica Soriano.

 
Não é fácil que os casais confiem os seus problemas a casais estranhos, ou a sacerdotes que não conhecem, ou que se habituam a ver apenas no púlpito para a missa semanal. Por isso, o casal deixa a sugestão, em jeito de apelo. «Sacerdotes, venham às nossas casas, cozinharemos melhor ou pior, podemos repetir o menú ou mandar vir uma pizza de urgência, mas vamos adorar ter-vos connosco a comer. Precisamos do vosso olhar livre de julgamentos, do vosso abraço, da vossa escuta atenta, da vossa amizade e da vossa paternidade, da vossa firmeza e proximidade, da presença de cristo em vós», pediu o casal, que assegura que «se tiveres uma intimidade criada com um sacerdote através de momentos de convívio, informais, a confiança flui e depois é mais um amigo» a quem contar os problemas se torna mais fácil.
 
E é por isso que a Igreja precisa, segundo este casal, de integrar os casais. «É muito importante que a Igreja nos permita sermos fecundos aqui, que nos incorporem nas paróquias, nos movimentos... nós podemos ser luz, esperança, podemos acompanhar, ter a nossa pastoral e é essencial sentirmo-nos integrados na Igreja», concluíram, em jeito de aviso.

A reportagem em Roma no âmbito do X Encontro Mundial das Famílias resulta de uma parceria entre a Família Cristã, a Agência Ecclesia, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.

 
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna e Dicastério dos Leigos, Família e Vida
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