A vaticanista mexicana Valentina Alazraki pronunciou hoje a última cimeira dedicada à proteção de menores, convocada pelo Papa, criticando a gestão mediática que a hierarquia católica fez dos casos de abusos sexuais.

A jornalista, correspondente da Televisa no Vaticano há 45 anos, falou durante mais de meia hora, convidando os presentes – responsáveis da Cúria Romana, colaboradores do Papa, presidentes de Conferências Episcopais e superiores de institutos religiosos – a «unir forças» com os profissionais dos media, contra os «verdadeiros lobos», os abusadores.
A intervenção deixou aos presentes três conselhos para a sua comunicação nestes casos: colocar as vítimas em primeiro lugar; deixar-se aconselhar por especialistas; e profissionalizar os serviços de comunicação. «As vítimas não são números, não fazem parte de uma estatística, são pessoas a quem destruíram as suas vidas, sexualidade, afetividade, confiança noutros seres humanos, talvez até mesmo em Deus, bem como a capacidade de amar», assinalou.
Valentina Alazraki, terceira mulher entre os nove oradores do encontro, insistiu na ideia de ser melhor comunicar «do que calar ou até mentir», porque a verdade terá sempre menos custos. «O silêncio sai muito mais caro do que enfrentar a realidade e torná-la pública», observou.
A jornalista sublinhou que, perante eventuais casos polémicas, a reação nunca pode ser a de não comentar, dado que isso abre portas a que a informação seja dominada por «terceiros», alimentando a «sensação» de que existe algum tipo de culpa.
O discurso aludiu a uma nova crise que se vislumbra no horizonte, a dos abusos sexuais de religiosas por padres e bispos. «Pode ser uma oportunidade para a Igreja tomar a iniciativa e estar na linha de frente, na denúncia desses abusos que não são apenas sexuais, mas também abusos de poder», assinalou a vaticanista mexicana.
A especialista lamentou que alguns membros da hierarquia católica consideram que a crise dos abusos sexuais é «culpa da imprensa» ou um «complô». «Os jornalistas não são nem os abusadores nem os encobridores», apontou.
Classificando os abusos de menores como «crimes», a jornalista desafiou os presentes a escolher o lado das vítimas e não dos «abusadores». «Se não se decidirem, de forma radical, a estar do lado das crianças, das mães, das famílias, da sociedade civil, têm razões para ter medo de nós, porque os jornalistas, que queremos o bem comum, seremos os vossos piores inimigos».
Valentina Alazraki admitiu que a «transparência tem os seus limites», pelo que se deve respeitar a privacidade da investigação prévia, que deve ser feita com «celeridade» e no respeito pelas leis civis, comunicando depois todos os passos dados no processo.
A reportagem em Roma no Encontro sobre Proteção de Menores na Igreja é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença, SIC e Voz da Verdade.
Texto: Octávio Carmo
Foto: Vatican News
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