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​«A vida familiar não é impossível», é uma «viagem maravilhosa»
22.06.2022
Um hino à família, cantado pelo testemunho de famílias vindas de diversas partes do mundo, ouvido pelas delegações de quase todo o mundo que estão presentes em Roma para o X Encontro Mundial das Famílias, que teve hoje o seu início com o Festival das Famílias, que desta vez serviu para abrir os trabalhos do encontro, ao contrário de anos anteriores.

 
Testemunhos que trazem «esperança», foi assim que o Papa caracterizou os cinco testemunhos familiares que foram ouvidos esta tarde na Aula Paulo VI, no Vaticano. Não foram abordados casos de uniões irregulares, casais homossexuais, mães solteiras ou outras situações fraturantes, e os problemas apresentados foram sempre acompanhados de um testemunho de superação dessa situação. Foi, lá está, um apontar de caminho para alguns dos problemas que afligem os casamentos nos dias de hoje, em especial no que diz respeito à santidade e capacidade de resistência de um matrimónio face às dificuldades que lhe são apresentadas.

O Papa ouviu e respondeu a cada um dos testemunhos, depois de afirmar que gostava que a Igreja fosse como o «bom samaritano» para as famílias, «um bom samaritano que se aproxima de vós e vos ajuda a continuar o vosso caminho, vos ajuda a dar “um passo mais”, nem que seja pequeno», por «vários rumos».
 
E foram estes «passos» que o Papa foi descrevendo à medida que falava dos testemunhos que se tinham acabado de ouvir.
 
«Um passo mais» em direção ao matrimónio, para defender que a Igreja tem de fazer muito mais que o que faz hoje. «Temos de nos converter e caminhar como Igreja, para que as nossas dioceses e paróquias se tornem cada vez mais “comunidades que, de braços abertos, apoiem a todos”», disse o Papa, falando para Serena Zangla e Luigi Franco, que deram o primeiro testemunho.
 
Para Francisco, os sacramentos do Batismo e do Matrimónio são a chave, a «ajuda concreta que Deus nos dá para não nos deixar sozinhos». «Podemos dizer que, quando um homem e uma mulher se apaixonam, Deus oferece-lhes um presente: o matrimónio. Um dom maravilhoso, que contém em si a força do amor divino: forte, duradouro, fiel, capaz de se restabelecer depois de qualquer fracasso ou fragilidade», descreve o Papa, sob o olhar atento de centenas de delegados, que escutavam as palavras do Papa, juntamente com milhares que acompanhavam o evento em direto nas redes sociais.

Papa Francisco ouviu atentamente todos os testemunhos. 
O matrimónio, diz o Papa, não é uma «formalidade a ser cumprida». «No matrimónio, Cristo dá-se a vós para terdes a força de vos dar um ao outro», explica, adiantando que «a vida familiar não é uma missão impossível», antes é uma «viagem maravilhosa» que se faz «juntamente com Ele».
 
Uma vida que tem os seus espinhos, as suas dificuldades. Paul e Germaine Balenza estão casados há 27 anos e vieram do Congo para contar a sua história de reconciliação, num casamento que estava a ser marcado por «falta de sinceridade, infidelidade, o mau uso do dinheiro, os ídolos do poder e da carreira, o rancor crescente e o endurecimento do coração». «Ver a família desagregar-se é um drama que não pode deixar ninguém indiferente», avisa, e é por isso que a história deste casal «transmite esperança».
 
O Papa sustenta que «o perdão cura todas as feridas», e por isso elogiou o gesto do casal, que celebrou uma «festa do perdão» com eles, onde pediram desculpa pelas suas faltas para com os seus filhos. «Os vossos filhos viram em vós algo muito mais importante: viram a humildade de pedir mutuamente perdão e a força que recebestes do Senhor para vos levantar da queda», disse o Papa.
 
Capacidade de sofrimento, mas da doença de uma filha, foi o que transmitiram o casal Roberto e Maria Anselma, pais de Chiara Corbella, uma jovem mãe que, após perder dois filhos com poucos dias de vida, viu-lhe ser diagnosticado cancro quando estava grávida do terceiro, o que a levou a protelar os tratamentos, que matariam o filho, colocando em causa a sua própria vida. «No coração de Chiara, Deus colocou a verdade duma vida santa e, por isso, quis salvar a vida do seu filho à custa da própria vida», disse o Papa, que elogiou a «grande serenidade» e a «grande fé» destes pais. «Destes testemunho de que a dura cruz da doença e da morte de Chiara não destruiu a família nem eliminou a serenidade e a paz dos vossos corações. Isto mesmo é visível também nos vossos olhos. Não sois pessoas abatidas, desesperadas e zangadas com a vida. Pelo contrário!», exclamou.
 
Iryna e Sofia são mãe e filha que, tendo de fugir da Ucrânia, encontraram um porto de abrigo na casa de Pietro e Erika e dos seus seis filhos, que lhes abriram a porta. «O acolhimento é precisamente um “carisma” das famílias, sobretudo das numerosas! Pensa-se que, numa casa onde já estão muitos, seja mais difícil acolher outros; mas na realidade não é assim, porque as famílias com muitos filhos estão treinadas para dar espaço aos outros», sustentou o Papa.

Papa Francisco saúda Pietro e Erika Chiriaco e os seus seis filhos no final do seu testemunho. 
Acolhimento que é, diz o Santo Padre, «a dinâmica própria da família». «Na família, vive-se uma dinâmica de acolhimento, porque antes de mais nada os esposos acolheram-se mutuamente, como disseram um ao outro no dia do casamento: “Eu … recebo-te a ti…”. E depois, ao trazer os filhos ao mundo, acolheram a vida de novas criaturas. E enquanto, nos contextos anónimos, quem é mais frágil acaba frequentemente rejeitado, já nas famílias é natural acolhê-lo: um filho portador duma deficiência, uma pessoa idosa necessitada de cuidados, um parente em dificuldade que não tem ninguém», exemplifica o Papa, que defende que, «sem famílias acolhedoras, a sociedade tornar-se-ia fria e inabitável».
 
O último testemunho foi dos mais fortes da tarde, e veio de uma muçulmana, Zakia Sediki, viúva do embaixador italiano na República Democrática do Congo Luca Attanasio, que era católico, assassinado em 2021 durante uma viagem diplomática naquele país, tendo deixado mulher e três filhas. «Na vossa família, expressa-se o ideal da fraternidade. Além de serdes marido e mulher, vivestes como irmãos na humanidade, como irmãos nas várias experiências religiosas, como irmãos no compromisso social. Também esta é uma escola que se aprende em família», defende Francisco.

Papa Francisco com Zakia Sediki, as suas três filhas e a sua mãe. 
A concluir, Francisco deixou uma questão a todas as famílias, ali presentes e não só. «Que “passo mais” pede [Deus] hoje à nossa família? Colocai-vos à escuta. Deixai-vos transformar por Ele, para que também vós possais transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa de encontrar Cristo e sentir-se amado», concluiu.
 
O encontro terminou com a entoação do hino composto por Marco Frisina, “We believe in love”.
 
Os trabalhos do Congresso iniciam amanhã, dia 23, logo pela manhã, na Aula Paulo VI.


 
A reportagem em Roma no âmbito do X Encontro Mundial das Famílias resulta de uma parceria entre a Família Cristã, a Agência Ecclesia, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.

 
Reportagem e fotos: Ricardo Perna
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