O primeiro dia de funcionamento da linha de denúncia de casos de abusos sexuais por membros da Igreja Católica em Portugal recebeu pelo menos 50 chamadas. A informação foi prestada pelo coordenador, Pedro Strecht, em declarações escritas enviadas à Agência Lusa, indicando que esse tinha sido o número até às 18h30, sendo que a linha se manteve aberta até às 20h.
Pedro Strecht afirmou que «a linha telefónica esteve quase sempre preenchida» no primeiro dia aberto à recolha de denúncias e testemunhos através dos diversos canais abertos para o efeito. «Por inquérito online ou preenchido em telefonema foram já validados cerca de 50 testemunhos».
«A comissão congratula-se com o facto de a sua mensagem inicial ter sido bem acolhida por pessoas que foram vítimas deste tipo de abusos», disse ainda Pedro Strecht.
A recolha de testemunho pode ser feita através do site https://darvozaosilencio.org/, no qual é possível responder a um inquérito com o testemunho de todos os que tenham sido abusados por um membro do clero ou «leigos que estão envolvidos a nível paroquial, educativa, familiar, escolar, terapêutica», entre outras áreas de intervenção da Igreja em Portugal.
Para além disso, e para as pessoas que não consigam responder online ao inquérito, é possível contactar telefonicamente para uma linha aberta (+351 917 110 000) todos os dias úteis das 10h às 20h ou por email (geral@darvozaosilencio.org) ou ainda carta escrita, para um apartado a indicar em breve, sendo possível agendar um encontro presencial, ou digital, com membros da comissão, mediante marcação prévia por contacto telefónico.
Neste mesmo dia, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) «tomou nota da apresentação pública da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, ocorrida ontem na Fundação Calouste Gulbenkian, congratulando-se com os passos iniciais até agora empreendidos».
Os bispos portugueses financiam os trabalhos da Comissão, mas esta tem total independência da estrutura hierárquica da Igreja em Portugal. As dioceses mantêm em funcionamento os seus gabinetes diocesanos, apesar dos trabalhos da Comissão. Para otimizar esse trabalho, o Conselho Permanente declarou que «está previsto para breve um encontro das comissões diocesanas para a proteção de menores, para acertar procedimentos comuns do seu trabalho e proceder à constituição de um grupo coordenador a nível nacional».
Na mesma nota, enviada às redações após a reunião mensal habitual, o Conselho Permanente da CEP voltou a apelar à «importância da vacinação para todos os cidadãos contra a Covid-19 e ao cuidado reforçado «em relação às medidas de proteção nos espaços litúrgicos, tais como o distanciamento previsto nas normas, a higienização e o uso de máscara».
Sobre o período eleitoral que se aproxima, o Conselho Permanente deixou o apelo à «participação democrática dos cidadãos», pedindo aos partidos políticos «que apresentem com clareza as suas propostas quanto aos grandes problemas da sociedade, sobretudo no que diz respeito à vida humana e sua salvaguarda integral, às situações de pobreza e coesão económica, às questões da justiça, à desertificação do interior do país, à situação dos imigrantes e aos problemas ambientais».
Texto: Ricardo Perna
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