O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Manuel Clemente, falou à saída da missa conclusiva do encontro sobre Proteção de Menores que decorreu no Vaticano para anunciar que haverá mudanças nos procedimentos em Portugal no que diz respeito aos casos de abusos sexuais por parte de membros do clero.
Questionado pelos jornalistas portugueses se haveria mudanças na próxima assembleia plenária da CEP de abril, D. Manuel Clemente referiu que «até antes», adiantando que o vade-mécum anunciado, um guia prático com orientações que seguirá «para o Vaticano» e para a «Igreja em geral», terá «normas mais concretas e operativas» que «até nos vão facilitar o serviço».
O Cardeal Patriarca de Lisboa elogiou a decisão do Papa Francisco de convocar este encontro de «relativa originalidade», «completamente inédito». «O Papa fazer uma reunião assim, para resolver um problema grave, chama não apenas os responsáveis da Igreja, chama homens, chama mulheres, religiosas, mães de família, chama as próprias vítimas, e todos em conjunto, durante estes dias, com toda a franqueza, vemos o problema, isto é um exercício de Igreja no seu melhor», afirmou.

Assim como o Papa fez, D. Manuel Clemente fala de um «problema global» que pede «uma solução global». «É algo de muito profundo, que tem de ser erradicado», garantiu.
O novo documento do Vaticano servirá para «concertar» os procedimentos a nível da Igreja universal. «Era necessário concertarmos isto: uma coisa é a Europa, outra é a Oceânia, outra coisa é a América, agora há um concerto, digamos, de todas essas tentativas mais particulares. Creio que este vade-mécum é a resposta», disse.
Em relação a Portugal, no entanto, não vê que vá exigir uma grande adaptação. «Em relação ao nosso documento português, não encontro muitas mudanças. Agora, o vade-mécum será talvez ainda mais preciso, mais articulado, mais operativo. Vamos ver, eu ainda não o conheço, mas é essa a intenção, sobretudo que sirva para todo o mundo», afirmou.
O Cardeal Patriarca de Lisboa reforçou a garantia de que «sempre que há uma denúncia, há uma investigação». «É assim que tem de ser», referiu, acrescentando que «se se repara que, efetivamente, há razões para isso, quer com o Direito Canónico, quer com o Direito Civil, o processo continua, em Roma e apresentado às autoridades, envolvendo sempre, com certeza, as famílias e o próprio que acusa. Não vamos ultrapassar essas instâncias. Depois segue o processo normal, quer na via da Igreja, quer na via do Estado. É assim que tem de ser», garantiu.
Sobre a possibilidade de poderem ser publicados os números de casos investigados e em investigação, D. Manuel Clemente admitiu que «é possível» que tal possa vir a acontecer, mas diz que tem de haver «seriedade de parte a parte». «Tudo aquilo que for necessário fazer para que as coisas se esclareçam, para que se avance, há de ser feito», disse.
(notícia atualizada às 15h15 com o tweet de D. Manuel Clemente.)
A reportagem em Roma no Encontro sobre Proteção de Menores na Igreja é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença, SIC e Voz da Verdade.
Reportagem e fotos: Ricardo Perna
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