30.05.2022
As alterações climáticas são um dos maiores problemas que a Humanidade enfrenta neste século. A terceira parte do 6.º relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas relativo à componente de mitigação – redução das emissões de gases com efeito de estufa –, elaborado com a colaboração de muitas centenas de cientistas, foi publicada no início de abril e traz boas e más novidades.
Por um lado, afirma que ainda é possível limitarmos o aquecimento global a 1,5 graus Celsius face à era pré-industrial se começarmos a reduzir as emissões até 2025 e traça-nos um caminho onde o investimento em eficiência energética e energia renovável, com particular ênfase nas cidades, principalmente no setor dos transportes e edifícios, é o mais decisivo.
Por outro lado, afirma que, sem medidas adicionais, o caminho é de um aumento entre 2,2 e 3,5 graus até 2100, com o valor mais provável de 3,2 graus de aumento. Identifica ao mesmo tempo um mundo desigual, onde 10% das famílias nos países mais ricos com as maiores emissões por pessoa são responsáveis por 34 a 45% do total de emissões globais e 50% das famílias com menores emissões, famílias que vivem nos países em desenvolvimento, contribuem apenas com 13 a 15% para as emissões totais.
Em Portugal, apesar de os planos climáticos nacionais – o Plano Nacional de Energia e Clima para 2030 e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050 - serem já bastante ambiciosos, não representam ainda cenários compatíveis com o Acordo de Paris, ou seja, não estão em linha com o esforço que todos os países deveriam fazer para não se atingir um aumento máximo de 1,5 graus Celsius. Assim, é preciso desenvolver e implementar os diversos objetivos da Lei do Clima portuguesa que recentemente entrou em vigor, nomeadamente através dos Planos Regionais e Municipais de Ação Climática e aumentar ainda mais as metas de redução nacionais.
Apesar da tendência de decréscimo das emissões totais nacionais, esse decréscimo precisa de ser mais rápido. Há ainda setores que precisam de uma atenção particular, uma vez que apresentam a tendência oposta, de aumento contínuo de emissões, como é o caso dos transportes, além de termos de aumentar a eficiência energética e ultrapassar a pobreza energética. É preciso continuar o esforço para uma total independência de utilização de energia proveniente de combustíveis fósseis.
Em Portugal, as alterações climáticas deverão ser cada vez mais uma prioridade nacional e urge a adoção imediata de ações de mitigação, que combatam as causas, e de adaptação, que minimizem os impactos, com vista a uma sociedade neutra em carbono e resiliente ao clima. Todos temos também de dar um contributo, recorrendo menos ao uso do automóvel ou evitando desperdiçar energia em casa.