Ao início da tarde, o nome de António Guterres será apresentado para nova votação para secretário-geral das Nações Unidas. A sexta votação informal aconteceu na quarta-feira, dia 5 de outubro. Agora os membros do Conselho de Segurança reunir-se-ão de novo. Todos esperam que seja eleito logo à primeira depois de 13 votos a favor e zero votos contra na votação informal. Fica a faltar ainda a votação dos membros da Assembleia Geral das Nações Unidas ainda sem data marcada.
Nunca aconteceu que o candidato proposto pelo Conselho de Segurança tenha sido chumbado pela Assembleia Geral e por isso trata-se de uma formalidade necessária, mas que não deverá alterar o resultado final: António Guterres está à beira de se tornar secretário-geral das Nações Unidas.
O Presidente da República já disse que se trata de «uma excelente notícia para Portugal». Numa
nota divulgada no sítio da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirma ter recebido a notícia «do acordo no Conselho de Segurança para propor António Guterres» com «grande alegria e emoção». Além de ser uma boa notícia para o país, o Presidente da República salienta que «é uma excelente notícia para as Nações Unidas, porque é o melhor candidato para o cargo». Ainda há duas semanas Marcelo Rebelo de Sousa esteve nas Nações Unidas apoiando a candidatura de António Guterres. Agora diz ser «uma vitória da competência e da transparência e é também uma vitória de um consenso nacional.»
Mas quem é António Guterres?
Nasceu em 30 de abril de 1949, em Lisboa. Formou-se no Instituto Superior Técnico com média de 19 valores. Católico assumido, tem em Vítor Melícias o confessor e amigo de toda a vida. É abertamente contra o aborto. Um homem dedicado às causas sociais, ficou conhecido por sempre ser defensor da via do diálogo, o que irritou muito os seus colegas de partido. Em 1991, faz parte da equipa fundadora do Conselho Português para os Refugiados. Ainda hoje mantém ligação com a instituição, que visita frequentemente.
Foi primeiro-ministro de Portugal até 2001, altura em que se demitiu depois de uma derrota nas eleições autárquicas. Durante o mandato, com a Assembleia da República dividida 115-115 deputados, foi o responsável por conseguir aprovar um orçamento do Estado que ficou conhecido como "Orçamento limiano", graças ao acordo com o deputado do CDS Daniel Campelo. Durante os seus mandatos como primeiro-ministro, empenhou-se fortemente nos contactos internacionais para resolver a crise de Timor-Leste. Também foi durante a Presidência Portuguesa da União Europeia que foi aprovada a chamada "Agenda de Lisboa". Politicamente, foi também presidente da Internacional Socialista.
Depois de deixar de ser chefe do governo, tornou-se Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados em 15 de junho de 2005. Na altura, traçou as atitudes com que enfrentava o
desafio: «Convicção porque eu acredito verdadeiramente nos valores deste escritório e quero esforçar-me para fazê-los prevalecer em todo o mundo. Humildade porque eu tenho muito a aprender e dependerei de todos vocês para isso. Entusiasmo porque eu não poderia escolher uma causa mais nobre para lutar.» Enfrentou a maior vaga de refugiados da história. Há quem o acuse de não ter respondido à crise como devia.
Deixou o cargo no final do ano passado. Agora espera-o o desafio de liderar a Organização das Nações Unidas. A ONU foi criada depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando 51 Estados se juntaram para criar
o documento fundacional. O objetivo era o diálogo internacional para evitar nova guerra. Atualmente, são 193 os Estados membros.
Texto: Cláudia Sebastião
Fotos: ONU e Lusa/Tiago Petinga
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