19.09.2022
A 1 de setembro, concluindo a 4 de outubro, começa a o período ecuménico de oração pelo cuidado da criação. Como explica o Papa Francisco na mensagem para este ano 2022, este é «um momento especial para todos os cristãos, a fim de orarmos e cuidarmos, juntos, da nossa casa comum». Apesar de todas as evidências externas e de todos os alarmes, nenhuma mudança, neste campo da ecologia ou em qualquer outro ambiente, surtirá efeito sem uma mudança interior motivada pela oração. A nossa revista, unindo-se a este apelo de Francisco sobre o cuidado da casa comum, publica nesta edição um artigo que nos ajuda a compreender os caminhos apontados para a Igreja na senda de uma verdadeira conversão ecológica integral.
Qualquer mudança, no entanto, como apela Francisco, exige uma verdadeira «conversão interior». Porventura não adianta que os efeitos das altas temperaturas atípicas sejam devastadores, pode ser que os inúmeros artigos, muitos deles de teor científico, que apontam para um ponto de viragem sem retorno não motivem ações concretas na maioria de nós, ainda que o Papa exorte a que todos nos comprometamos a uma mudança significa e expressiva. Cada um de nós tem de querer, tomando consciência de que esta crise ecológica, e tantas outras, são o reflexo e o apelo de uma «profunda crise interior».
No nosso território, desde já, são evidentes as consequências da seca severa e extrema, como podemos ver no artigo «Janela aberta», que terá uma relação de proporção direta com os efeitos da mudança climática. O cenário desértico em muitas das nossas paisagens não nos deve deixar indiferentes, antes confirma a voz profética do Papa emérito Bento XVI no início do seu ministério petrino: «Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos.»
Existem muitas formas de deserto. «Há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede, o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Há o deserto da escuridão de Deus, do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem.» Há também um deserto a atravessar a imprensa escrita. As pessoas estão a consultar e a ler menos as revistas e os jornais impressos. Há mais de uma década que os jornais e revistas impressos sofrem uma crise profunda, com uma diminuição de tiragens muito significativa. Uma crise que se acentuou com o início da pandemia. É certo que esta diminuição de tiragens e títulos impressos em alguns casos motivou a criatividade em outros ambientes, sobretudo no digital.
Caríssimo assinante, leitor e amigo, é com um enorme sentimento de pesar que comunico aquilo que já sabeis, a Família Cristã cedeu às aragens desérticas que assolam os ambientes da imprensa escrita. Informo que com a edição de novembro e dezembro de 2022 encerraremos a admirável história que fizemos convosco. Como pastor, herdeiro da tradição carismática do beato Alberione, peço perdão a todos os assinantes, leitores e amigos da Família Cristã, porque se me torna impossível de imitar a Cristo, Bom Pastor, que vai ao encontro, através dos meios da imprensa escrita, das gentes famintas nos desertos da comunicação. Famintas não de pão, mas do olhar cristão sobre os factos. Verdade e profissionalismo que a nossa revista sempre primou por defender. Como atual diretor da Família Cristã, não obstante, cumpre-me a obrigação de encerrar com dignidade a belíssima história, com mais de 60 anos, que foi escrita em colaboração com todos vós. Diz a Sagrada Escritura que há um tempo para nascer e um tempo para morrer, entretanto é importante não esquecer aquilo que vivemos em conjunto, graças a todos vós: obrigado!
Não esqueçamos aquilo que vivemos, porque ao longo destas décadas a preocupação desta revista, ao estilo do fundador da Família Paulista, foi «não falar apenas de cristianismo, mas cristãmente de tudo». Falar de tudo de uma perspetiva cristã para que, em cada um de nós, fosse motivada uma verdadeira «conversão interior» em relação a tudo!