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Arcebispo irlandês pede afastamento de bispos que encubram abusos
23.02.2019
O arcebispo irlandês, D. Eamon Martin, considerou hoje no Vaticano que um bispo que não consegue «assegurar que os menores estão seguros» não pode «continuar a ser o pastor do rebanho». O bispo falou aos jornalistas à entrada da sala onde decorre o encontro sobre Proteção de Menores na Igreja, que entra hoje no seu terceiro dia de trabalhos, este dedicado ao tema da Transparência.

O arcebispo de Armagh, na Irlanda, D. Eamon Martin 
O prelado espera que no final do encontro haja um «compromisso muito claro» dos participantes, embora admita que nem tudo possa ficar definido. «Julgo que o processo não estará totalmente concluído, porque isso vai exigir que os peritos se reúnam e trabalhem, mas espero que o façamos rapidamente», considerou.
 
No entanto, referiu que todas as «Igrejas locais e Conferências Episcopais podem começar o processo, no terreno», começando com a tarefa de «responsabilização» em relação a casos já existentes. «Já temos procedimentos claros implementados. Graças a Deus, também já temos as melhores práticas na salvaguarda. A questão seguinte é como é que seremos responsabilizados por isso», questionou.
 
A questão da responsabilização tem sido uma das mais levantadas pelas vítimas e pelas associações que têm estado a manifestar-se por estes dias em Roma. O arcebispo irlandês, um dos países que mais tem sido afetado por denúncias de abusos sexuais por parte de membros do clero, explicou que há uma «comissão nacional, formada por peritos, leigos, que tenham competência, profissionais desta área». «Eles asseguram que os padrões de prevenção e salvaguarda, dentro da Igreja, na Irlanda, em todas as dioceses e congregações religiosas, correspondem às melhores práticas, nesta área».
 
Para além disto, explicou, há uma «auditoria, a cada três ou quatro anos, em que esta comissão nacional, de leigos, chega, abre os ficheiros, examina a forma como lidamos com os casos, para assegurar que estamos a aplicar os princípios que assumimos, no papel».
 
Alguns consideram que as vítimas não têm sido ouvidas o suficiente, apesar dos testemunhos diários de vítimas e de o Papa ter pedido a todos os participantes que se encontrassem com vítimas nos seus países antes de virem para o encontro. D. Eamon Martin explica que os testemunhos e esses encontros ajudaram «a manter a voz das vítimas e sobreviventes a ecoar em todas as nossas conversas e discussões». « Ontem [sexta-feira] à tarde, antes do final da sessão, uma jovem italiana relatou-nos a sua horrível experiência. (...) Espero, muito sinceramente, que, no final deste encontro, sejamos capazes de mostrar às vítimas e sobreviventes que a sua voz foi ouvida», disse.

D. Jean-Claude Hollerich é o arcebispo do Luxemburgo 
Outros dos participantes é o arcebispo do Luxemburgo, D. Jean-Claude Hollerich, que reconheceu que é preciso «trabalhar com e ouvir as associações de vítimas, porque elas têm uma experiência que nós não temos». Para além disso, valorizou muito o facto de haver testemunhos das vítimas no programa do encontro. «Muitos bispos tiveram o primeiro contacto com esta realidade aqui, por isso esses testemunhos foram muito úteis. Via-se que muitos deles ficavam impressionados pelo que ouviam», referiu o arcebispo aos jornalistas, recordando o «silêncio» com que todos os testemunhos são ouvidos.
 
«Uma punição que evite» a «repetição destes casos»
D. Anthony Fallah Borwah, bispo de Gbarnga, na Libéria, espera que a aplicação do conceito de «tolerância zero» implique «uma medida, uma punição, que evite, em definitivo, a repetição destes atos». «Queremos ser claros a esse respeito», afirmou.
 
Mas também afirmou que os bispos estão a olhar para a questão da proteção de menores na Igreja bem para lá da questão dos abusos sexuais por parte de membros do clero. «Há abusadores sexuais em todos os lugares. Mas também há a exploração do trabalho infantil, por exemplo, e é preciso ter uma perspetiva global sobre o tema», disse. Esta já não é a primeira vez que vemos esta intenção, pois a própria medida de aumento da idade mínima para casar, anunciada há dias em conferência de imprensa por D. Charles Scicluna, revela que estes são assuntos que estão também a ser debatidos entre os participantes e o Papa.
 
Sobre o encontro, que afirma ser um «bom primeiro passo». D. Anthony espera que não fique por aqui. «Espero que, após este encontro, se sigam outras reuniões, regionais e diocesanas», concluiu.

A reportagem em Roma no encontro sobre Proteção de Menores na Igreja é realizada em parceria para a Família Cristã, Agência Ecclesia, Flor de Lis, Jornal Voz da Verdade, Rádio Renascença e SIC.
 
Texto e fotos: Ricardo Perna
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