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Bispos de quatro continentes dão voto de confiança aos jovens
26.10.2018
O Sínodo dos Bispos dedicado às novas gerações, que decorre há mais de 20 dias no Vaticano, sublinhou a necessidade de um maior “protagonismo” dos jovens nos processos de decisão da Igreja Católica, respeitando e compreendendo as realidades diferentes de cada local no mundo.


D. Mariano Parra, arcebispo de Coro (Venezuela), refere à Família Cristã que a promoção da participação «ativa» dos jovens na Pastoral Juvenil é uma experiência que se faz «há vários anos» na América Latina, com o objetivo de que estes «tenham parte ativa na Igreja». «Que [os jovens] sintam que eles também têm responsabilidade na Igreja e que os pastores lhes abram as portas, lhes abram o seu coração para os ouvir. Eles podem contribuir com muito», sublinha o relator de um dos grupos de trabalho em espanhol, que durante oito anos foi responsável pelo setor da Juventude no Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).

Para o especialista, as novas gerações exigem «companhia» e uma atenção a todas as suas expressões. «Os jovens de todo o mundo, às vezes, falam-nos com o silêncio: na forma como se vestem, como dançam, como fazem comunidade, na forma como se reúnem», precisa.

O arcebispo venezuelano explica que, no CELAM, a metodologia aplicada na Pastoral Juvenil tem quatro passos: fascinar, escutar, discernimento e conversão. «Se tu pretendes saltar os primeiros passos, a última parte, a conversão não vai acontecer, porque o jovem não vai ouvir e nós não vamos saber do que falar os jovens, porque não os ouvistes, não sabes quais são os seus problemas, as suas necessidades», adverte.

D. Mariano Parra, arcebispo de Coro (Venezuela)
D. Mariano Parra assume a diferença de uma realidade latino-americana marcada pela presença dos jovens, face ao envelhecimento da Europa. «Nós damos muito protagonismo aos jovens todo o processo da Pastoral Juvenil na América Latina. O processo demorou muitos anos, mas nunca parou. Pelo contrário, avançou através do tempo, sem voltar atrás», realça.

D. Eamon Martin, arcebispo de Armagh (Irlanda), deixou votos de que, na questão dos abusos de menores, «mais países levem este assunto a sério».

O responsável assumiu uma mudança face às suas expectativas antes da assembleia. «Ao vir para Roma, cheguei com uma certa dose de ceticismo, porque na Irlanda temos tentado chegar aos mais jovens, mas não temos feito um bom trabalho», admitiu, mas a experiência do Sínodo, «vendo e conhecendo a realidade concreta dos jovens» de vários países, levou-o agora a sentir-se um «embaixador» da alegria que se viveu nestas semanas.

D. Eamon Martin, Arcebispo de Armagh, Irlanda
O cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Rangum (Myanmar), que se apresenta como descendente dos primeiros cristãos que, no país asiático, receberam a missionação portuguesa, pede uma maior atenção aos jovens, em todo o mundo, com a consciência de que muitos «não estão a ser ouvidos». «Depois do Sínodo, espero que especialmente os bispos, os padres, os religiosos ajudem os jovens, a ouvi-los realmente, a acompanhá-los. É esta a minha esperança sobre os frutos do documento final», observa o cardeal, um dos presidentes-delegados do Sínodo, em declarações à Família Cristã.

Cardeal Charles Maung Bo, de Myanmar
Já o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena (Áustria), evocou hoje na sala de imprensa da Santa Sé as «terríveis injustiças de que sofrem tantos jovens no mundo», para quem a Igreja Católica é a «última esperança». O prelado revelou que vinha com alguma apreensão por ter de ficar «afastado um mês» da sua diocese, mas percebeu que ter bispos de todo o mundo a dedicarem um mês a ouvir os jovens e as suas questões, para conviverem com as suas experiências com «empatia e verdadeira atenção, sem ter todas as respostas prontas», é algo de importante.

Cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena (Áustria)
D. Bienvenu Manamika Bafouakouahou, bispo de Dolisie (República do Congo), falou à Família Cristã da «complexa» questão da corrupção, defendendo que «os jovens, hoje, precisam de ser seguidos pelos adultos», para reformar a sua «estrutura mental». «O homem torna-se cada vez mais individualista e, nesse individualismo, procura-se o interesse próprio, sem um limite. É aí que acontece a corrupção. Mas ela também tem outras causas, há um problema de moral, de virtude. A Igreja pede-nos que voltemos à base, o Evangelho, para a lealdade, para a transparência, regressar ao essencial das virtudes», sustenta.

D. Bienvenu Manamika Bafouakouahou, bispo de Dolisie (República do Congo)O bispo congolês pede ainda uma maior aposta na formação e na educação das novas gerações, que as ajude a distinguir entre «liberdade» e «libertinagem».

O Sínodo dos Bispos, iniciado a 3 de outubro, discute e aprova, este sábado, o Documento Final e uma Carta aos Jovens; no domingo, o Papa Francisco preside à Missa conclusiva da assembleia, na Basílica de São Pedro, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa).

A reportagem no Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade, com o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.
 
Texto: Octávio Carmo e Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna
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