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Bispos querem Igreja como «família de famílias»
04.04.2016
A 189ª assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa iniciou hoje com o discurso de abertura feito pelo seu presidente, D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa. Com o propósito de analisar o Motu Proprio Mitis Iudex Dominus Iesus, nomeadamente «o papel do Bispos diocesanos nas causas matrimoniais», D. Manuel Clemente explicou que este seria uma «perspetivação e um critério imprescindíveis para a ação pastoral no seu conjunto, para que cada comunidade se torne “família de famílias” - e estímulo para a sociedade no mesmo sentido».

O presidente da CEP anunciou ainda que os bispos irão refletir mais sobre a questão da eutanásia, mesmo após a publicação da Nota Pastoral «Eutanásia: o que está em jogo? Contributos para um diálogo sereno e humanizador», publicada pelo Conselho Permanente da CEP a 8 de março. «Não nos alheamos do sofrimento de muitos e da falta de resposta que ainda encontra, por carências de várias ordem, que podem e devem ser colmatadas», disse D. Manuel Clemente, para em seguida defender, citando a nota, que «não se elimina o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre. O sofrimento pode ser eliminado ou debelado com os cuidados paliativos, não com a morte».


O presidente da CEP reforçou o aviso de que a «hipotética» legalização da eutanásia acarreta o «o sério risco de que a morte passe a ser encarada como resposta a essas situações, já que a solução não passaria por um esforço solidário de combate à doença e ao sofrimento, mas pela supressão da vida da pessoa doente e sofredora, pretensamente diminuída na sua dignidade», conforme já tinham afirmado na Nota Pastoral.

Esta reunião dos bispos, que durará até quinta-feira, vai ainda refletir sobre o Centenário das Aparições de Fátima enquanto «fator de reencontro e expansão do que o sentimento “católico” de grande parte do nosso povo pode oferecer à sociedade em geral», disse D. Manuel no seu discurso. «Na verdade, a Mensagem de Fátima traz-nos um “Céu” preocupado com a “Terra”, e assim mesmo expresso no que a Mãe de Cristo diz aos pastorinhos e nos diz a nós: construir a paz pela conversão das vidas, adorando a Deus e fazendo o bem», afirmou perante todos os bispos. 

Terrorismo e fundamentalismo existem porque sociedade não é tão «solidária» como poderia
Num último ponto do seu discurso, D. Manuel Clemente falou sobre a Páscoa e a «oportuna» alegria e luz que ela trouxe à «sociedade e à cultura», que se encontra perante «tantos desafios». «Não está superada a “crise” financeira do final da década anterior (...); não se integraram devidamente na nossa sociedade e valores civilizacionais básicos muitas pessoas provenientes de outras partes do mundo, criando-se com um duvidoso “multiculturalismo” autênticas bolsas de mútua exclusão, propícias a atitudes de grande violência; não se encontrou ainda uma solução capaz para o surto incomum de migrantes e refugiados que procuram no nosso Continente as condições básicas de vida (...); os fundamentalismos, o terrorismo ou a insegurança interligam-se num fundo comum de desconhecimento e até rejeição dos outros, quando teríamos todas as possibilidades materiais e mediáticas para estarmos realmente próximos e ser muito mais solidários», defendeu D. Manuel Clemente.

Neste sentido, o presidente da CEP recordou que o Papa Francisco tem tentado recentrar «a Igreja nas periferias em que ela própria começou (periferia do sistema sociocultural da altura)», principalmente na sua última encíclica, Laudato Si, onde «propõe uma resposta integrada e harmónica para a diversa problemática que nos afeta como humanidade, não deixando o mundo físico entregue à manipulação tecnológica, o mundo sociopolítico ao jogo dos interesses mais ou menos confessados de grupos e países, ou os valores reduzidos ao desejo de cada um».

Com a aplicação do conceito de ecologia integral, D. Manuel reforça, citando o Papa, que «não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza».
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