Precisa de ajuda?
Faça aqui a sua pesquisa
Brexit? Falta pouco para o referendo
14.06.2016
A 23 de junho, os britânicos serão chamados às urnas para decidir se o seu país permanece ou não na União Europeia (UE). Mesmo que o “sim” ganhe, os apoiantes da UE não terão grandes motivos para festejar. É que na Grã-Bretanha, como em muitos outros países membros, cresce de dia para dia a convicção de que a União serve cada vez menos os interesses dos europeus.


 
A Grã-Bretanha só entrou naquilo que então se designava como Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1973, 16 anos depois de esta ter sido fundada pela França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Apesar de não ser um dos estados fundadores, a Grã-Bretanha deu um enorme contributo para o projeto pela ação de Winston Churchill, o homem que liderou o governo de Londres nos anos terríveis da Segunda Guerra Mundial.
 
Para Churchill e para a grande maioria dos britânicos do seu tempo, a Grã-Bretanha, apesar de geograficamente fazer parte da Europa, era uma realidade política e cultural completamente autónoma. Para eles – e para muitos britânicos de 2016 ainda é assim –, a Europa estava para lá do Canal da Mancha. As suas leis, usos, costumes e formas de governo nada tinham que ver com o que se passava no continente. Além disso, o seu império – entretanto desmantelado – dava-lhe um poder e uma autonomia que em muito extravasavam o que a Europa lhes podia dar.
 
O pedido de adesão da Grã-Bretanha à CEE, em 1961, é, em grande medida, um reconhecimento de que, com o fim do império, ela, afinal, precisava dos outros países europeus e dos seus mercados. Este pragmatismo entrou em choque com a posição mais ideológica assumida pelos estados fundadores, que viam no projeto da CEE/UE um instrumento crucial para assegurar a paz e a estabilidade na Europa.
 
Nos últimos 30 anos, esse fosso de intenções e aspirações, que sempre existiu, tem-se alargado. Desde os governos da senhora Thatcher (1979-1990), a Grã-Bretanha foi assumindo um distanciamento cada vez maior face aos projetos integracionistas do eixo franco-alemão e da Comissão Europeia, em Bruxelas.
 
Os governos de Londres, independentemente da sua cor política, têm-se preocupado em tirar todos os benefícios possíveis da existência de um Mercado Único, ao mesmo tempo que procuraram reduzir ao mínimo as contribuições britânicas para o orçamento europeu.
 
Dentro desta estratégia, os executivos britânicos têm assumido uma postura de reclamação e negociação constante face aos seus parceiros europeus, sempre com a ameaça latente, ou mesmo explícita, de que poderão “bater com a porta” a qualquer instante.
 
O que se passou nos últimos anos é apenas mais um capítulo nesse longo processo, sendo que a posição do governo de David Cameron se tornou mais extremada devido à própria situação política interna britânica. Com um número cada vez maior de deputados do seu próprio Partido Conservador a exigir a saída da UE, e com o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) a conseguir importantes ganhos eleitorais com base numa oposição total à permanência do país na União, David Cameron viu-se forçado a convocar o referendo, não sem antes ter extorquido importantes concessões aos outros Estados-membros.
 
Graças a estas, Cameron sente-se agora capaz de recomendar ao eleitorado que vote a favor da permanência do Reino Unido na UE, mas não é certo que este lhe dê ouvidos.
 
A verdade é que, na Grã-Bretanha, tal como em muitos outros países da UE, cresce cada vez mais a convicção de que ela já não tem em atenção os interesses de todos os Estados-membros, mas que responde apenas aos comandos de um pequeno diretório, sem legitimidade democrática, que é controlado pela Alemanha, ou até por algo muito mais difuso – os mercados.
 
A continuar neste caminho, a União aproxima-se do abismo. Mesmo que os britânicos digam a 23 de junho que não querem sair dela, mais tarde ou mais cedo outro momento haverá, nesse ou noutro país, em que alguém dirá «Não».
E esse dia será o princípio do fim da União Europeia como a conhecemos.
 
Texto: Rolando Santos
Continuar a ler