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Cabeça na lua vs coração nas mãos
09.07.2013
A vivência do amor e de uma relação amorosa dá-se desde o nascimento, como nos explica a psicóloga Lúcia Paulino, da Oficina de Psicologia. «É desde o nascimento que o ser humano inicia a sua caminhada pelos trilhos do amor. O bebé "namorisca" e seduz os cuidadores, em busca de conforto e segurança. Esta forma de contacto que envolve a sedução promove ao mesmo tempo o desenrolar das primeiras relações humanas e que muitas vezes servirão de modelo para o adolescente e mesmo o adulto se relacionarem amorosamente.»



Embora possa trazer focos de instabilidade, picos de euforia e de tristeza e emoções arrebatadoras, potenciais causadoras de stresse entre pais e filhos, a paixão na adolescência é importante mesmo para o bem-estar dos mais novos. «A paixão por si só traz inúmeras sensações de prazer. É frequente ver adolescentes a sonhar acordados durante uma aula, perdendo a noção do espaço e do tempo, comportamentos que estimulam a produção de substâncias no nosso organismo que geram energia. Estas substâncias são também responsáveis por um enorme otimismo e uma expressão cheia de vida, características de quem vive uma paixão», esclarece a psicóloga.

O amor e o namoro na adolescência constituem uma fase de diversificação dos tipos de amor, até aqui vivido em grande parte na relação pais/filhos e de preparação para o amor da idade adulta. «O desenvolvimento da paixão na adolescência cumpre uma função necessária no desenvolvimento da amizade e na preparação do futuro amor», defende Lúcia Paulino.
À partida, e não surgindo nenhum sinal de alerta, os pais podem esperar que esta fase seja vivida com a intensidade e volatilidade próprias desta faixa etária. «O auge do desenvolvimento hormonal vai provocar um vórtice de paixões que poderá ter várias direções: algumas em simultâneo, outras de curta duração, outras ainda de carácter impossível.»

Embora estas paixões impossíveis, por ídolos, por exemplo, sejam comuns, a tendência é que, sendo saudáveis, elas se vão desvanecendo com o avançar da idade. «Estas "paixonetas"», continua a psicóloga, «fazem parte do desenvolvimento emocional do adolescente e são saudáveis enquanto não atingem comportamentos de risco. Com o desenvolvimento emocional e da própria maturidade vão sendo atribuídos diferentes significados às paixões platónicas. O curar destas paixões é usualmente natural e acompanha o estabelecimento de novas relações sociais e de novos focos de atenção e paixão.»

Um trabalho de retaguarda da parte dos pais
O grupo de pares é, por isso, a principal referência para o nascimento das paixões e namoros. «Para que ocorra uma "faísca" é necessário haver uma identificação. Esta identificação pode passar por um simples perfume, uma expressão, um modo de andar, ou por exemplo, como frequentemente acontece com os ídolos musicais, através de uma identificação com a música. É no entanto no grupo de pares que as primeiras paixões normalmente acontecem.»

Os pais não detêm todo o tempo dos filhos e não passam as 24 horas do dia por perto. Uma simples proibição de namoro não impedirá os filhos de encetarem uma relação e poderá eventualmente ter um efeito contrário. Por isso, aos pais cabe a tarefa de assistir ao crescimento dos filhos e acompanhar as novas formas de amor que eles vão conhecendo. Um trabalho de retaguarda, de apoio, não de imposição, proibição e nem de incentivo.

A atitude contrária, de simplesmente não se querer saber ou fingir que se anda de olhos fechados poderá não funcionar igualmente.

Como em outras áreas da educação dos filhos, o "meio-termo" parece ser um terreno mais eficaz, com o estabelecimento de regras através do diálogo, da compreensão, da abertura, de uma presença orientadora, que não sendo intrusiva estabeleça balizas e possibilite ao adolescente optar pelo caminho mais seguro.

«A missão dos pais não deverá passar apenas por permitir estes relacionamentos sem nenhuma orientação, apoio ou controlo. Existem sempre riscos que exigem um trabalho preventivo por parte da família e uma orientação em cada situação específica», alerta Lúcia Paulino.

Por existirem riscos, é importante estar atento à realidade dos filhos, ao seu círculo de amigos, é importante conhecer o namorado ou namorada, de modo a conseguir observar a dinâmica da relação e perceber se há motivo para alarme, mas sempre respeitando o espaço dos adolescentes sobre este assunto. «Os pais devem procurar conhecer a pessoa com que o filho tem uma relação, bem como frequentemente mostrar o seu interesse pela relação, procurando não ser demasiado intrusivos e respeitando alguma privacidade sobre o assunto. Esta proximidade permitirá também que os pais possam estar mais atentos a sinais de alerta, tendo sempre em mente o respeito pelas opções amorosas dos filhos.»

Sinal de alerta
Segundo Lúcia Paulino, «será importante que os pais estejam atentos a quaisquer sinais de tristeza profunda, desmotivação para as atividades normais do filho, isolamento e afastamento do grupo de amizades». Também será de estranhar uma dependência excessiva e anormal em relação ao namorado/a.

Havendo sinais de alerta de uma relação pouco saudável ou "abusiva", é preciso agir pela via do diálogo, da compreensão e ajudar com as ferramentas para um melhor autoconhecimento e avaliação da situação. «Sendo este um ciclo difícil de interromper, deve no entanto ser parado e a orientação e apoio da família torna-se fundamental», afiança.

Se os pais sentirem que não conseguem lidar com a situação sozinhos, poderão tentar recorrer aos técnicos.

Há muita coisa em jogo quando se fala do amor na adolescência, e mesmo sendo esta uma fase pela qual todos passamos e em boa parte ultrapassamos, não quer dizer que seja um tema sem importância. «Todos os temas suscetíveis de criar desequilíbrios emocionais e riscos à integridade física e psicológica são importantes. É um tema que surge por diversas vezes no consultório de psicologia, frequentemente associado a sintomas que desviam a atenção da verdadeira causa, mas que com alguma facilidade se consegue identificar a sua origem», revela a psicóloga.

Esperando que a fase das paixões dos filhos seja vivida com normalidade, é importante fazer o trabalho de casa desde que os filhos são pequeninos.

Trabalhar a relação pais/filhos precocemente, ajudar a crescer com segurança, com confiança, com autoestima, preparar (e preparar-se) para o amor dos adolescentes, pode ajudar a passar por este momento com mais tranquilidade, pode ajudar inclusive a que os pais não se vejam na eminência de ficar totalmente excluídos desta fase da vida dos filhos. Como conclui Lúcia Paulino, «um adolescente autoconfiante e que simultaneamente transmite confiança aos pais, também demonstrará as suas inseguranças e dificuldades perante os cuidadores para que estes o possam orientar e apoiar».
Texto: Rita Bruno
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