O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, publicou hoje uma
Carta Aberta para esclarecer a polémica dos últimos dias, iniciado com uma reportagem do jornal
Observador (disponível apenas a ssinantes) sobre um caso de abusos sexuais que teria sido encoberto pelo atual Patriarca, onde explica o que passou e reforça o pedido de que «ninguém tenha medo de denunciar casos» de abusos.

Depois de um primeiro comunicado onde se limitava a esclarecer que, perante a denúncia no final da década de 90, foram tomadas decisões «tendo em conta as recomendações civis e canónicas vigentes» e que, «até este momento, o Patriarcado de Lisboa desconhece qualquer outra queixa ou observação de desapreço sobre o sacerdote», esta carta escrita pelo próprio D. Manuel Clemente esclarece melhor toda a situação.
A denúncia remonta a 1999, altura em que D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa na altura, foi confrontado com a história e tomou as medidas «tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima». «O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar», esclarece o atual Patriarca, reconhecendo também que «aceito que este caso e outros do conhecimento público, e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje todos queremos ver implementados».
Após o afastamento, D. Manuel Clemente informa também que o sacerdote foi acompanhado na altura «e até à atualidade nunca houve qualquer denúncia ou reparo sobre o seu comportamento moral», pelo que não foi avançada nova investigação ao caso, em virtude dos dados agora relatados.
A vítima teve nova reunião com o Cardeal-Patriarca de Lisboa após a reunião do mesmo no Vaticano em 2019 sobre os abusos sexuais na Igreja, a pedido do próprio Patriarca, e não para «renovar» a denúncia.
Salientando que «desde a primeira hora» deu «instruções para que a tolerância zero e a transparência total seja regra conhecida de todos», D. Manuel Clemente reconhece que «podemos e devemos fazer sempre melhor», e que «temos, desde o início da criação da Comissão Diocesana, a primeira no país, tentado cumprir e fazer cumprir todas recomendações civis e canónicas».
Nesta Carta Aberta, que tem o objetivo de ajudar «cada leitor desta carta a aproximar-se da verdade que todos desejamos», que «as vítimas exigem e merecem», é ainda revelado pelo prelado que «até à data foram encaminhadas à Comissão Diocesana do Patriarcado de Lisboa, por mim ou diretamente pelas vítimas, 3 denúncias». «A primeira foi acompanhada pela diocese de Vila Real, a segunda está neste momento a corresponder ao que o Dicastério para a Doutrina da Fé decidiu, após as recomendações que a nossa Comissão me deu. Mal tenhamos o desfecho sobre a mesma, será divulgado. A terceira e mais recente que envolve mensagens inapropriadas e enviadas por WhatsApp está também em apreciação pela Comissão, que já me fez recomendações a que dei imediato seguimento», revela.
Finalmente, D. Manuel Clemente reforçou o desejo de que «ninguém tenha medo de denunciar» casos de abusos. «Nas Comissões Diocesanas, na Comissão Independente, na PGR, na PJ, aos media, onde e junto de quem se sentirem mais seguros», conclui.
Texto e foto: Ricardo Perna
Continuar a ler