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Católicos sindicalistas em defesa da justiça
01.04.2020
Neste mês em que começamos por lembrar os trabalhadores, a FAMÍLIA CRISTÃ foi falar com católicos sindicalistas. São pessoas empenhadas na defesa dos trabalhadores e que conciliam isto com a sua vivência de fé.
 
Américo Monteiro Oliveira numa manifestação. Foto: D. R.

Falar de sindicalismo e de catolicismo parece ser contraditório e, para muitos, isso dos sindicatos não é para gente de fé em Deus. Será mesmo assim? Não haverá católicos na vida sindical? Há e não são poucos. Américo Monteiro Oliveira é um deles. Começou a trabalhar muito cedo, ainda criança. «Quando fiz os 14 anos, idade legal para se trabalhar nessa época, empreguei-me numa grande empresa têxtil na região do Vale do Ave, em Pousada, Vila Nova de Famalicão», conta. A revolução de abril acontece quando ainda é operário têxtil e a sua vida haveria de se encaminhar para a defesa dos trabalhadores. «Penso que o ter descoberto muito cedo a JOC (Juventude Operária Católica), que foi a minha escola de vida, me ajudou a descobrir a importância de estar ao serviço dos outros na comunidade e neste caso no trabalho.» Em 1975, tinha 15 anos e entrou na JOC, assumindo «todo um percurso de empenhamento neste movimento de jovens do meio operário, até 1987 em que terminei funções como coordenador nacional». [...]

«Compromisso com a vida e para a vida»
Américo diz ver ñesta participação «um compromisso com a vida e para a vida», «onde eu posso partilhar as minhas alegrias e as minhas tristezas e onde posso encontrar alento para o meu compromisso de trabalhador no meio dos trabalhadores e em conjunto darmos o nosso contributo para a libertação dos próprios trabalhadores; onde afirmamos e realizamos valores fundamentais à vida de cada um, a solidariedade, a partilha, discernimento, a sobriedade, a entrega pelo bem comum».
Como delegado sindical, Américo sempre esteve ligado a sindicatos afetos à CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses). «Esta central sindical, com todos os seus defeitos e virtudes, tem procurado que várias sensibilidades estejam representadas nos seus órgãos de direção. Assim e porque terminavam funções companheiros da sensibilidade Cristã e independente, desafiaram-me uma e outra vez. Faz agora oito anos acabei por aceitar, encontrando-me a iniciar o terceiro e último mandato deste compromisso com os trabalhadores», explica Américo. [...]  Hoje em dia continua a ser «o responsável do departamento e acho que fui ganho para esta causa do Desenvolvimento sustentável e o ambiente: um acérrimo lutador pela defesa do clima». [...] Que papel têm os católicos neste meio sindical? «Damos opinião, provocamos reflexão, colocamos desafios, apresentamos interrogações que mesmo que por vezes as decisões não o identifiquem, elas estão colocadas e levarão a outros questionamentos e reflexões tendo em conta outras perspetivas e também pelas nossas práticas de atuação em que procuramos ser testemunho nesta luta pela justiça», defende Américo.
[...]

Sérgio Dias Branco. Foto: D. R.

Sérgio Dias Branco é outro dirigente sindical. Conta que começou a interessar-se pela defesa dos trabalhadores, quando trabalhou na multinacional FNAC. «Vi as condições de trabalho degradarem-se progressivamente, à medida que a empresa conquistava o monopólio no mercado da venda de discos. A capacidade de defesa dos trabalhadores de abusos e pressões era diminuta, deixando-os vulneráveis, entregues à sua própria sorte. Para mim, portanto, esta situação foi uma escola da justiça, onde aprendi a necessidade de defender a dignidade da parte mais fraca nas relações laborais.»
Este foi o seu primeiro emprego. Tinha acabado a licenciatura de Arquitetura e precisava de trabalhar. «Juntei dinheiro para estudar Cinema no Reino Unido, onde fiz o mestrado e o doutoramento. Quando regressei a Portugal, trabalhei na Universidade Nova de Lisboa, antes de ir para a Universidade de Coimbra», lembra. Num meio completamente diferente do ensino superior e investigação, também encontrou abusos. «Em 2012, uma das minhas primeiras decisões foi inscrever-me no Sindicato dos Professores da Região Centro, constituinte da Federação Nacional dos Professores (FENPROF)», conta. [...] Em 2014, foi eleito dirigente distrital e tem feito «trabalho sindical com e para docentes e investigadores, a nível regional e nacional».
Em fevereiro de 2020, «no âmbito da corrente católica, fui convidado a integrar a lista unitária para o Conselho Nacional. Aceitei o desafio e a responsabilidade». Depois foi escolhido para membro da Comissão Executiva, «que dirige a central». [...]

Católicos apoiaram fundação da CGTP
A importância e o papel dos católicos na central sindical não vem de agora, como explica este professor universitário. «A Intersindical Nacional (designação inicial da CGTP), só foi fundada em 1970, ainda durante o período fascista do Estado Novo, porque contou com o envolvimento de muitos sindicalistas católicos, em unidade com outros trabalhadores conscientes e lutadores. A presença dos católicos na central sindical tem sido fundamental ao longo de 50 anos de história. Uma parte significativa dos seus quadros sindicais vem da Liga Operária Católica, um movimento oficial da Igreja, e da Base-FUT, formada em 1974 por um núcleo de operários ativos na Ação Católica Portuguesa. Trazem uma perspetiva própria, cristã.»
Para Sérgio, a ligação entre vida de fé e participação sindical «é total», porque «sempre me apresentei e agi como sindicalista católico». [...] Qual a mais-valia de ter um católico num sindicato? Faz alguma coisa de diferente? «Recusa o ódio e a violência, mas não recua na luta pela justiça. Porque o seu serviço é uma forma de apostolado, uma opção de vida, uma missão que tem Cristo como leme e companhia.»

LOC/MTC

LOC/MTC: cristãos no meio operário
«A Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) é um movimento Cristão dos meios operários, que organizado em grupos de base, reflete a vida do mundo do trabalho com o método de Revisão de Vida, Ver Julgar e Agir. Está organizado ao nível de Base, pequenos núcleos de reflexão e Acão no meio, ao nível Diocesano, Nacional, Continental e Mundial.» Américo Monteiro Oliveira, coordenador nacional, revela que, no congresso de junho de 2019, a organização assumiu 15 compromissos de ação para os próximos três anos, «no sentido de “dignificar o trabalho na era digital”». Este ano de 2020 serão trabalhados quatro pilares: novas tecnologias, conciliar o trabalho com a vida familiar, cuidar da Casa Comum e ir ao encontro dos que não desistem. O objetivo é o de sempre: «Queremos agir à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja, pela dignificação do trabalho, comprometemo-nos a: investir, valorizar, prosseguir, atuar, exigir, promover, defender, fortalecer, alargar, dar atenção, reforçar, dinamizar, despertar, ajudar, combater, participar… imensas ideias afirmativas, que para nós não são palavras vãs!»
 
Texto: Cláudia Sebastião
 
Pode ler este artigo na íntegra na revista FAMÍLIA CRISTÃ de maio de 2020.
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