A despenalização da eutanásia não foi aprovada por apenas cinco votos. Na Assembleia da república, os deputados foram chamados um a um para exprimirem o sentido de voto em relação aos quatro projetos-lei em discussão.
O que esteve mais perto de ser aprovado foi o do Partido Socialista que obteve 110 votos a favor, 115 contra e 4 abstenções. Já os do Bloco de Esquerda e do Partido Ecologista Os Verdes tiveram a mesma votação: 104 a favor, 117 contra e 8 abstenções. O projeto-lei do Partido Pessoas Animais Natureza conseguiu os votos a favor de 102 deputados, 116 votaram contra e 11 abstiveram-se. Estiveram presentes 229 deputados. Apenas faltou Rui Silva, do PSD, por estar em trabalho parlamentar na China.
Deputados do PSD decisivos
Como se previa, a bancada parlamentar do PSD foi decisiva. Apenas seis deputados votaram a favor da despenalização. Na bancada laranja, Teresa Leal Coelho e Paula Teixeira da Cruz votaram favoravelmente todos os projetos. A favor do projeto do PS votaram Adão Silva e Margarida Balseiro Lopes. Cristóvão Norte fez o mesmo com o do PAN. Duarte Marques também só votou a favor dos projetos do Bloco de Esquerda e Verdes. Nas abstenções, Pedro Pinto e Berta Cabral abstiveram-se em todos e Bruno Vitorino no do PAN. De resto, um a um os deputados social-democratas votaram contra todos os projetos. Na bancada do PS, o sentido de voto individual foi no sentido contrário. Quase todos votaram favoravelmente. Exceção para Miranda Calha e Ascenso Simões, que votaram contra todas as propostas.
A votação foi renhida até ao final. Os votos contra estiveram sempre à frente, mas a diferença foi muito curta até ao fim. Quando a votação foi anunciada, as bancadas do CDS e PSD aplaudiram de pé. Nas galerias também se viam algumas manifestações discretas de alegria. À saída das galerias, Sofia Guedes admitiu à FAMÍLIA CRISTÃ que «foi mesmo até à última, mas praticamente não havia dúvidas de que o bom senso ia imperar». A fundadora do movimento Stop Eutanásia disse estar «profundamente emocionada, comovida, com uma alegria imensa interior e com a certeza do dever cumprido». Quem assistiu ao debate percebeu que a questão vai voltar na próxima legislatura. Sofia Guedes defende mesmo que «é muito importante que este debate continue porque não há pior do que decidir em cima da ignorância».
Noutra bancada parlamentar estava José Maria Duque, vice-presidente da Federação Portuguesa pela Vida. «Estou muito feliz por os senhores deputados terem ouvido o povo português e terem escolhido a vida e não a morte», afirmou no final à FAMÍLIA CRISTÃ. A incerteza acerca do resultado final da votação manteve-se quase até ao fim. «Já sabíamos que ia ser à justa, mas também sabemos que foi essencial a movimentação social. Conhecemos casos de deputados que estavam na dúvida e que esta movimentação foi essencial para votarem contra», conta. Depois deste debate, a Federação Portuguesa pela Vida compromete-se a continuar a luta e a não esquecer o fim de vida. «Existem problemas sociais ligados ao fim de vida de apoio às famílias de doentes acamados, de apoio às famílias de doentes oncológicos. Basta olhar para o IPO de Lisboa com doentes que vêm de fora de Lisboa e estão sozinhos porque os familiares não têm hipótese. Todas essas causas sociais deviam merecer o mesmo empenho com que isto foi debatido», defende.
João Semedo, antigo deputado e líder parlamentar do Bloco de Esquerda, foi um dos rostos do movimento em defesa da morte assistida. Reagiu no Facebook. O também médico escreveu que «é uma questão de tempo, não foi agora será na próxima legislatura». João Semedo defende que «andou-se muito nestes dois últimos anos, estamos mais próximos de consagrar na sociedade e na lei uma mudança fundamental: garantir a todos o direito a morrer com dignidade».