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Comissão Justiça e Paz pede «atenção profunda à educação»
20.10.2020
A Comissão Nacional Justiça e Paz emitiu uma nota a propósito do lançamento de um «Pacto Educativo Global» pelo Papa Francisco. O apelo tinha sido feito em setembro de 2019 e, recentemente, o Sumo Pontifice voltou a ele num encontro com cientistas sociais e da educação. A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) salienta que se trata de «um desafio corajoso que procura “ampliar” (ou especificar) algum do pensamento expresso na Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a Amizade Social.  
Nos nossos dias não pode haver amizade social e esperança no futuro sem uma atenção profunda à educação».

Foto: Pixabay/klimkin

Numa análise nacional, a Comissão destaca que «a pandemia Covid 19 afastou muitas crianças das escolas, apesar de importantes medidas para garantir a todas “uma educação à distância” de qualidade[1]. O lado positivo destas medidas de urgência e a correspondente adesão e profissionalismo dos professores provocou nas famílias um salutar respeito pelo trabalho dos docentes. No entanto, preocupam-nos as crianças que ficaram “de fora” durante os primeiros seis meses da pandemia porque não tinham acesso aos meios tecnológicos e informáticos necessários. Teremos dados estatísticos sobre estas crianças que ficaram “de fora” durante os primeiros 6 meses do confinamento”?»

A nota está cheia de perguntas sobre a forma como, em sociedade vemos e acompanhamos o que se passa nas escolas, com os alunos e com a educação: «Preocuparam os exames (12º ano) e o acesso à universidade – uma preocupação legítima das famílias de qualquer classe social - ou os resultados do Timss[3] e do Pisa[4] (estudos comparativos internacionais) que incidem sobre os nossos alunos, comparando-os com os países da União Europeia ou da OCDE? No entanto, um número significativo de instituições do ensino particular e cooperativo (grande parte católicas) preocupam-se com uma seleção de excelência que lhes permita bons rankings. Mesmo a comunicação social (com honrosas exceções) deu menor relevo “aos outros” - os que vivem em zonas isoladas geograficamente, ou nos bairros na periferia das grandes cidades ou mesmo nos “bairros de lata” que recomeçam a emergir neste país de tantas disparidades? E as crianças e jovens com necessidades educativas específicas – como se garantiu uma educação realmente inclusiva? Um outro estudo[5] refere que apenas 40% dos pais dedicaram uma a duas horas por dia para ajudarem os filhos no estudo-em-casa. No entanto dos mais de 23 000 encarregados de educação inquiridos, 46,5% têm curso superior, 33% o 12º ano e cerca de um quinto o 9º ano ou menos. Que aconteceu às crianças cujos pais têm menos tempo de escolaridade? Que aconteceu às crianças cujos ambientes (familiares e outros) não reuniam as condições necessárias (físicas, culturais e humanas) para as apoiar?»

A Comissão Nacional Justiça e Paz salienta que crianças e jovens «têm direito a ter voz nas decisões que lhes dizem respeito» e que isso faz parte de «uma verdadeira “educação para a cidadania” responsável, para a qual a escola tem um papel determinante... muitas vezes para lá do desinvestimento de um número significativo de famílias nesta matéria».
Como diminuir as desigualdades no acesso à escola?, questiona a CNJP, que demonstra pouca confiança no investimento prometido pelo governo no Orçamento do Estado para 2021. «A Educação ganha cerca de 500 milhões de euros, mas a maior parte deste reforço está destinada à “universalização da escola digital”. Escola digital para quem? Para todos, assim o desejamos, não podendo esquecer que é o encontro face a face que é gerador de uma real fraternidade. Louvavelmente, o Ensino Superior e a Ciência têm um reforço de 435 milhões de euros. Mas a educação básica dos adultos com reduzida literacia? Lamentamos afirmar que ela não aparece na proposta de Orçamento do Estado.»

A Comissão apela a todos os cristãos para se empenharem numa «educação para todos, no sentido de ultrapassarmos esta “catástrofe educativa” que também se faz sentir no nosso país».

Apelos do Papa
O Papa Francisco defende numa mensagem vídeo enviada a um congresso no Vaticano: «Queremos empenhar-nos corajosamente a dar vida a um projeto educativo, investindo as nossas melhores energias e iniciando também processos criativos e transformadores em colaboração com a sociedade civil.» Classificando o que se passou com a pandemia como uma «catástrofe educativa» em que milhões de crianças ficaram impedidas de ir à escola e muitas não poderão regressar pela crise económica.

«A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista», defende. Para estabelecer este novo Pacto Educativo Global, o Papa pensa num projeto «para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras». O Sumo Pontífice estabelece sete pontos dos compromissos que devem ser assumidos: colocar a pessoa em primeiro lugar; ouvir a voz das crianças, dos jovens e da família; investir na educação das meninas; educar para o acolhimento; encontrar novas formas de compreender a economia e a política, assim como guardar e cultivar a casa comum.
 
Texto: Cláudia Sebastião
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