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Como ajudar os filhos a escolher área de estudos?
26.05.2020
«Que queres ser quando fores grande?» A pergunta começa a ser feita muito cedo às crianças. Neste momento, aproximam-se as matrículas e o fim do ano letivo. Os alunos do 9.º ano e do 12.º vão ter de escolher o caminho a seguir no seu percurso escolar e universitário.
Renato Paiva é diretor da Clínica da Educação e faz formação a pais e professores. Nota alguma «angústia» de pais e filhos quando chega esta fase de escolher. «Os pais têm um sexto sentido em que vão percebendo pelas características dos filhos em que tipo de profissões essas características encaixavam melhor. Isto é um conhecimento que pais vão tendo dos seus filhos, mas também pelas vivências que vão proporcionando aos miúdos, para eles poderem sentir essa mesma segurança.»

Renato Paiva.

Renato salienta que os pais devem ter uma coisa muito certa para si próprios: a escolha não é deles, mas dos filhos. O seu papel é de apoio: «Os pais podem ajudar a que de alguma forma a escolha dos filhos seja mais consciente, mais fundamentada, mais estruturada e segura. Esta é a função dos pais: ajudar a tranquilizar em diferentes cenários. As decisões não são eternas, são importantes e devemos deixá-las maturar, considerar diferentes opções, ver aspetos positivos e negativos em cada opção, ajudar a tomar uma decisão informada. Mas nunca decidir por eles.» Para isso, os próprios pais têm de se libertar de algumas coisas que em vez de ajudar, podem complicar e pressionar ainda mais os jovens.
 
Experimentar a profissão real
Muitas universidades têm semanas abertas aos estudantes do ensino secundário. Nessas alturas, podem perceber como funcionam os cursos, as próprias instituições e mais informações. Renato Paiva considera «uma excelente opção» porque ajuda a perceber a realidade de determinada profissão. Outro alerta importante para crianças e pais é perceber que um passatempo pode vir a ser a profissão no futuro ou não: pode manter-se como passatempo mesmo que goste muito e escolher outra profissão. Importante e essencial é ir trabalhando estas questões ao longo do tempo e não apenas no momento em que se impõe tomar uma decisão, porque «ajuda a que os miúdos tenham uma simplicidade muito maior, sem um peso de responsabilidade, de defraudarem expectativas». Se há miúdos indecisos, «ajuda muito a tranquilidade de sentir o dia a dia de cada uma delas, depois a tranquilidade de saber que não há decisões 100% seguras. Temos é de estar certos de que, neste dia em que vou tomar esta decisão, esta é que me faz mais sentido.»
Em casos de maiores dificuldades em escolher, pode-se recorrer à orientação vocacional, que «não faz escolhas por ninguém».
 
Caminho começa na infância
Maria de los Ángeles de los Rios Mora é psicopedagoga, fundadora e formadora de Novahumanitas, associação de formação e desenvolvimento pessoal. Tem acompanhado ao longo de mais de 40 anos muitas pessoas, e muitas delas pais, através da sessão de formação «Educar: a arte de ajudar a crescer». Maria de dos Ángeles diz que não se descobre o caminho a seguir aos 15 ou 16 anos. «Os pais devem estar atentos às riquezas dos seus filhos desde o início da sua infância. Isso manifesta-se desde muito cedo. Vai-se construindo aos pouquitos. Ainda muito pequenas, as crianças começam a manifestar aptidões, capacidades, possibilidades que é preciso descobrir, respeitar e mesmo incrementar. E desde a infância as crianças começam a sentir onde se sentem realizadas, onde têm capacidades e aptidões para desenvolver uns trabalhos e não outros. Isso vai-se descobrindo muito cedo e aos poucos. Os pais têm de estar muito atentos não apenas ao exterior dos filhos, mas ao seu interior, ao que eles querem, ao que eles desejam e ao que eles sentem», afirma.

Maria de los Ángeles de los Rios Mora.

«Fundamentalmente que o filho busque o lugar onde se sinta auto-realizado, onde se sinta feliz. E só se sentirá feliz e auto-realizado porque ambas as coisas são uma consequência do desenvolvimento das suas riquezas, dos seus valores, daquilo para que está feito». O que significa isto? «Dito em linguagem cristã, é descobrir qual a vontade de Deus para esse filho e ajudar esse filho a descobrir o que Deus quer dele. Porque só se sentirá auto-realizado, se sentirá feliz e será verdadeiramente cristão, descobrindo e auto-realizando todos os valores, todos os dons que Deus depositou nele para ir desenvolvendo.» Mas como ajudar filhos e pais a descobrir qual a vontade de Deus a seu respeito? «Justamente pelos frutos que isso produz dentro dele. “Sentes que fazendo isto serás feliz? Ou isto vai ser uma coisa chata?” Muita gente só se preocupa em fazer um curso que tenha um bom posto social ou que seja bem pago. Eu não digo que tenham de esquecer isso. Mas isso é apenas o exterior. A criança ou o jovem não se sentirá feliz fazendo uma coisa qualquer na vida. Mas desenvolvendo um trabalho que corresponda aos seus valores profundos. Como percebe isso? Pela felicidade que lhe produz realizar esse tipo de trabalho. Pelo bem-estar que experiencia quando o faz e pela satisfação que sente.»

 
Texto e fotografias: Cláudia Sebastião

 
Excerto de uma reportagem publicada na edição da FAMÍLIA CRISTÃ de abril de 2020.

 
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