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Comunhão dos recasados: «o que o Papa admitir, admitimos com ele»
10.11.2016
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, disse hoje aos jornalistas que, no que diz respeito à integração dos divorciados recasados nas comunidades, estão dispostos a todos os cenários, inclusive a comunhão e a confissão, desde que sejam indicados pelo Papa. «Este é um caminho que estamos a fazer com abertura e disponibilidade em relação ao Papa. O que o Papa admitir, admitimos com ele», referiu aos jornalistas na conferência de imprensa de encerramento da 190ª Assembleia Plenária da CEP.

 
Quando saiu a exortação apostólica Amoris Laetitia, D. Manuel Clemente tinha afirmado que a mesma não incluía a possibilidade de acesso aos sacramentos dos divorciados recasados, embora admitisse uma integração mais plena noutras áreas. «O sacramento não pode contrariar outro sacramento, e se há uma união sacramental, não pode participar na comunhão», defendia o presidente da CEP na altura da publicação da exortação.
 
No entanto, recentes pronunciamentos do Papa sobre esta matéria, em que admite a admissão aos sacramentos depois de um caminho de discernimento bem feito, mudaram a forma como os bispos olham para a exortação. «O Papa tem-se pronunciado sobre a questão da integração, e vamos ver até onde é que isto nos pode levar. Estamos disponíveis para o acompanhar nesse percurso», disse, sem nunca se comprometer com uma posição individual sobre a matéria.
 
Inclusive, o Cardeal-Patriarca referiu que «nos serviços centrais em Roma se estudará esta questão e de lá virão indicações mais concretas», até porque, afirma, há «exclusões que podem e devem ser revistas, mas anda não explicitou quais».
 
Os bispos convidaram o cardeal Lluis Martínez Sistach, arcebispo emérito de Barcelona, para lhes falar sobre a exortação, particularmente sobre o capítulo VII, onde refletiram sobre as «circunstâcias atenuantes» que podem levar ao acesso aos sacramentos. «Discernimento implica não tomar todos os casos por iguais, e em alguns casos pode ser possível isentar da responsabilidade pessoal», disse D. Manuel Clemente aos jornalistas.
 
Ontem, o Cardeal Sistach tinha afirmado o mesmo em entrevista à Família Cristã. «Se houver alguma circunstância atenuante, pode ser que uma circunstância objetiva grave, moralmente falando, não corresponda uma culpabilidade do mesmo grau. Julgo que se trata de fazer um discernimento com o sacerdote, no foro interno, para ver, diante de Deus, qual é a sua situação e a possibilidade de ter uma maior integração na comunidade cristã, que, em alguns casos, se tiver circunstâncias de facto atenuantes, podem inclusive chegar aos sacramentos», afirmou o cardeal.
 
Responsabilidade do cargo vai infuenciar medidas de Donald Trump
Questionado sobre o resultado das eleições nos EUA, que deram a vitória a Donald Trump, D. Manuel Clemente sugere aos jornalistas que estejam «atentos» aos pronunciamentos dos bispos americanos. «Estarei muito atento para saber como os bispos dos EUA se posicionam, porque é um episcopado muito rico, variado, com gente que pensa, trabalha, e estaremos atentos, essa será uma boa referência».
 
Se em matérias de vida, Donald Trump se tem pronunciado a favor da posição da Igreja, na questão dos migrantes as coisas estão, aparentemente, em lugares opostos, mas D. Manuel não acha que a realidade vá ser igual às declarações. «Quando se chega a determinados lugares, o que se disse antes tem de ser corrigido pela prática», numa referência às questões dos migrantes, assunto sobre o qual Donald Trump tem expressados posições antagónicas daquelas defendidas pela Igreja Católica.

 
Texto e fotos: Ricardo Perna
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