O cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, disse hoje que a celebração sem peregrinos e com o recinto fechado da peregrinação do 13 de maio é a «mais difícil» na história do Santuário. «É a peregrinação mais difícil, mas interpeladora, pelo contexto global em que é realizada», disse aos jornalistas o responsável católico, que evocou outra pandemia, da gripe espanhola, que há 100 anos também deixou consequências «devastadoras e catastróficas».

As cerimónias vão ser acompanhadas por 130 profissionais de Comunicação Social, acreditados pelo Santuário, onde chegaram pedidos de retransmissão de vários países.
Para D. António Marto, a decisão de celebrar com o recinto fechado, anunciada a 6 de abril e confirmada a 3 de maio, é uma «expressão do mandato evangélico do amor ao próximo». Questionado sobre manifestações públicas que juntaram centenas de pessoas, em pleno estado de emergência, como no 1.º de Maio, o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse que não se pode «comparar aquilo que é incomparável».
A opção por celebrar a peregrinação internacional sem peregrinos, assinalou o bispo de Leiria-Fátima, aconteceu porque «o risco de contágio era muito elevado», numa manifestação onde era «imprevisível» determinar a dimensão da multidão que gostaria de participar. «Seria, porventura, um caos», apontou.
O cardeal português sustentou que a fé «não se mede pelas multidões» e mostrou-se chocado com mails «ofensivos» que contestaram a decisão, acrescentando que também recebeu felicitações, de vários quadrantes. «Eu não queria ficar na história como responsável por um agravamento da pandemia, a nível nacional. Nem eu nem o Santuário», explicou.
O bispo de Leiria-Fátima rejeitou a ideia de que a Cova da Iria esteja «sitiada» ou de que a GNR tenha colocado milhares de efetivos a impedir a deslocação de pessoas. O Recinto de Oração está encerrado entre a tarde de hoje e o final da manhã desta quarta-feira, devido às regras sanitárias definidas pelo Governo no contexto da declaração do estado de Calamidade pública, em articulação com a Conferência Episcopal Portuguesa.
D. António Marto sublinha que os peregrinos puderam entrar e vão poder entrar no recinto depois, admitindo mesmo a presença de pequenos grupos. «Estão no seu direito, temos de respeitar», indicou.
Quanto ao futuro, espera que já em agosto seja possível ter em Fátima «bastantes peregrinos», sobretudo emigrantes, e também no 13 de outubro. O vice-presidente da CEP apontou a um regresso «faseado», depois do confinamento, no qual as pessoas se têm de libertar do «medo», para participarem nas celebrações comunitárias.
O cardeal disse compreender as manifestações de quem esperava uma reabertura mais rápida, mas pede «paciência», considerando que é necessário manter as «precauções necessárias», em colaboração com as autoridades. «Vivemos dias difíceis e não serão menos difíceis, porventura, os dias que nos esperam», afirmou.

Para o responsável católico, solidariedade e responsabilidade são «palavras de ordem», na saúde, na economia e no trabalho.
O Santuário, acrescentou, vive das ofertas e vai ressentir-se, «naturalmente», mas é uma «questão de honra» respeitar os compromissos assumidos com os cerca de 350 funcionários, sem sem despedimentos nem lay-off.
O Santuário de Fátima acolhe uma celebração inédita do 13 de maio, sem peregrinos, devido à pandemia de Covid-19, convidando os católicos a acender hoje uma vela em cada casa, pelas 21h30.
A iniciativa quer criar um «manto de luz» em todo o país, acompanhando o início dos momentos celebrativos que evocam as primeiras aparições de 1917, com o Lucernário, na Capelinha das Aparições; segue-se a oração do Rosário e Procissão de Velas, num trajeto mais curto até ao Altar do Recinto, onde vai ter lugar a celebração da Palavra, regressando depois a Imagem de Nossa Senhora à Capelinha das Aparições.
As celebrações vão ser transmitidas por canais televisivos e por plataformas digitais, incluindo a Agência ECCLESIA.
Texto: Agência Ecclesia
Fotos: Santuário de Fátima
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