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D. António Marto responde a sacerdote que criticou suspensão de missas
20.03.2020
O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, respondeu publicamente às críticas do Pe. Manuel Pina Pedro, um sacerdote da sua diocese, sobre a suspensão de todas as missas decretada em Portugal no âmbito da pandemia do novo coronavírus.

Foto de Arquivo
Ressalvando que a resposta dada ao sacerdote era «necessário tornar pública» porque «o sacerdote publicou a sua mensagem e perguntas na sua página do facebook», a diocese de Leiria-Fátima publicou o conteúdo na sua página dessa mesma rede.

D. António Marto «compreende» a preocupação do sacerdote com a suspensão das eucaristias, mas explica que «o vírus não permanece fora das portas das igrejas». «A Igreja não pode, por uma fé e zelo mal entendidos, contribuir para que pessoas sejam contagiadas e morram por falta de cuidado e prudência de algum pastor», escreve o prelado.

Mais que isso, o bispo de Leiria-Fátima esclarece que «a confiança em Deus, a oração e a comunhão eucarística são uma realidade muito diferente do tentar a Deus e desafiá-Lo com a pretensão de milagres, os quais permanecem sempre um dom gratuito e imprevisível», acrescentando, em tom de crítica, que, «segundo a lógica do teu raciocínio, poder-se-ia chegar até a prescindir dos cuidados médicos!».

O sacerdote havia colocado em questão esta suspensão numa carta que, anunciou o próprio na sua página de Facebook, havia sido enviada a todos os bispos portugueses. «Se Jesus Cristo está real e sacramentalmente presente na Eucaristia e atualiza a Sua redenção na Sua celebração, se tem poder para perdoar pecados (por mais graves que sejam), para libertar possessos, curar doentes, ressuscitar mortos etc. Será que não tem poder para nos libertar de uma pequena criatura, o coronavírus?», escreveu, numa publicação que, entre comentários de apoio de leigos (ou sacerdots, mereceu várias críticas de colegas sacerdotes e leigos.


De seguida, D. António Marto recorda ao Pe. Manuel Pina Pedro o cânone 212 §1, sobre a obediência dos fiéis «àquilo que os sagrados pastores, como representantes de Cristo, declaram na sua qualidade de mestres da fé ou estabelecem como governantes da Igreja», e recorda que «é o que devem fazer também os sacerdotes na presente determinação.

O bispo de Leiria-Fátima recorda ainda que, «nesta circunstância de emergência e de jejum da Eucaristia, os sacerdotes devem continuar a celebrá-la todos os dias em privado, oferecendo o santo sacrifício de Cristo pela salvação e pelo crescimento espiritual de todos os fiéis e implorando ao Senhor que nos livre deste terrível mal», e insta o sacerdote em causa a «usar com criatividade e zelo os meios de comunicação social» para se fazer «próximo dos fiéis» e os ajudar.

No final, e depois de indicar que o sacerdote deve enviar esta resposta a todos quantos enviou as suas questões, D. António Marto envia uma imagem com «exemplos bíblicos de pessoas que souberam aliar confiança e prudência, cumprindo a Palavra de Deus», imagem que reproduzimos abaixo.


A Igreja tem sido clara na defesa das medidas de prevenção do contágio do novo coronavírus, mas nem todos têm cumprido com as indicações da Conferência Episcopal Portuguesa e dos seus bispos. No início da semana, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, queixava-se, na eucaristia online que tem celebrado diariamente a partir do Paço Episcopal, de alguns sacerdotes da sua diocese que se mantinham a celebrar.

Na diocese da Guarda, e apesar da suspensão imediata entrar em vigor logo no dia da sua publicação, D. Manuel Felício enviou uma circular aos seus sacerdotes a indicar que a suspensão apenas entraria em vigor no dia 16 de março, três dias depois, pelo que naquela diocese ainda se celebraram muitas missas no fim-de-semana.

Também na diocese do Funchal houve relatos de missas e vias-sacras que eram celebradas, e, em Elvas, paróquia alentejana, o pároco decidiu sair à rua em procissão com o Santíssimo sozinho, mas muitos fiéis juntaram-se, sem respeitar as distâncias de segurança, conforme se pode ver nas fotos publicadas.

A Direção-Geral de Saúde atualizou hoje os dados e informou que há 1020 pessoas infetadas com o novo coronavírus, um aumento de 245 casos em relação a ontem, com já seis mortes a lamentar no nosso país.

 
Texto e fotos: Ricardo Perna
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