O cardeal-patriarca de Lisboa foi um dos signatários do
Manifesto «Em defesa das liberdades de educação». Em declarações aos jornalistas, D. Manuel Clemente defende que os pais têm direito à objeção de consciência em relação ao que os filhos podem aprender na escola. «Quando a contradição for absoluta, têm com certeza. É para isso que existe a objeção de consciência. Para isto e outros pontos em que alguma instituição ou alguma forma social nos quer impor algo que vai contra os princípios básicos que nos alimentam. Aí é que é objeção da consciência. Aliás, está previsto na Constituição da República Portuguesa», afirmou. O cardeal-patriarca de Lisboa afirma que «é muito importante que na proposta educativa, sobretudo naquilo que é a formação humana, haja o contributo das famílias» e lembra que «quer pela Declaração Universal dos Direitos Humanos quer pela Constituição da República Portuguesa, os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos e filhas enquanto são menores».
Na apresentação do livro
Aprender a ser cigano hoje, da Editorial Cáritas, na Feira do Livro de Lisboa, D. Manuel Clemente defendeu a participação das famílias ciganas no projeto das escolas. O mesmo defendeu depois no caso concreto de todas as famílias. «É muito importante esta presença dos pais e do projeto familiar dentro do projeto da escola. Não que haja aqui contradição, mas complemento», disse aos jornalistas. «O que eu disse em relação às famílias ciganas através dos seus mediadores, na comunidade escolar, digo em geral a tantas outras culturas, porque em ambiente de pluralismo, nós não temos todos exatamente as mesmas ideias acerca das coisas e acerca das pessoas no seu agir e no seu interagir. Por exemplo, no caso da comunidade cigana, mas não só, o facto de se acentuar a identidade feminina, a identidade masculina, os papéis tradicionais, etc., tem de ser tido em conta. Porque isso não é necessariamente contrário à igualdade de base. Igualdade não significa uniformidade. Portanto, estas e outras questões que são propriamente culturais e têm muita prevalência na formação das pessoas têm de estar presentes na escola e não podem iludir a prevalência dos pais conforme é reconhecido em tratados nacionais e internacionais.»
O livro
Aprender a ser cigano hoje, de Myrna Montenegro é uma tese de doutoramento baseada também na experiência da autora e professora junto de comunidades ciganas, onde implementou o projeto Nómada. Na apresentação, tanto o responsável pela Obra Pastoral dos Ciganos como Dinis Abreu, da Federação das Associações Ciganas, salientaram que os ciganos «tendem a ser esquecidos e até combatidos a troco de um voto, baseados na hipocrisia e isso resulta no ainda maior sofrimento e exclusão das pessoas da nossa etnia». Sousa Monteiro, da Obra Pastoral dos Ciganos, também falou da exclusão e prometeu apoio à comunidade «no futuro carregado de nuvens escuras».
O cardeal-patriarca de Lisboa reconhece que «a comunidade cigana coexiste connosco há meio milénio e é muito pouco percebida. Nós temos comunidades que existem, subsistem e em alguns casos até singram, mas que não se sentem em casa, se a escolaridade as esquecer e não integrar o que eles trazem em particular para o todo. Nós falamos de povos, falamos de cultura». D. Manuel Clemente espera que a pandemia ajude a mudar a forma como Portugal e os portugueses olham para quem vive no país. «A pandemia forçou grande parte das pessoas a rever o que é isto em relação ao presente e sobretudo em relação ao futuro de como é que isto vai ser», disse. «Que abramos a perspetiva para todas aquelas comunidades que estão em Portugal. É assim que nos encontramos amanhã. Aproveitemos o ensejo para nos relançarmos todos», pediu.
Medicina na Católica: «Cabemos cá todos»
Em declarações aos jornalistas, D. Manuel Clemente disse que a aprovação do mestrado integrado de Medicina da Universidade católica Portuguesa «é uma notícia feliz e justa». «Em relação ao projeto Católica, uma universidade sem ciências médicas é uma universidade truncada e de certa forma uma contradição com o seu próprio nome: universidade é universalidade nos saberes. Em toda a tradição universitária, desde a Idade Média até aos nossos dias, as ciências da saúde têm um papel muito importante. Há 50 anos que tenho acompanhado, primeiro como aluno, depois como professor e agora como chanceler, e para a universidade este desiderato esteve sempre presente. Primeiro, para a própria identidade da universidade. Depois, para o serviço do país. Só ganha com isso sendo ainda por cima um curso tão credenciado como o que está projectado, pelos seus agentes. Todos vamos ganhar com isso. Cabemos cá todos.»