O Papa Francisco publicou o motu proprio
Maiorem hac dilectionem, no qual estabelece uma quarta via para o reconhecimento da santidade de alguém pela Igreja. A "oferta da vida" é a quarta via para os processos de canonização, juntando-se ao martírio, ao exercício das "virtudes heróicas" e à canonização "equipolente" (por decisão explícita do Papa).

Os processos de canonização que se incluem na categoria da "oferta da vida" seguem as normas dos casos das virtudes heroicas, começando primeiro na fase diocesana, com a recolha de documentação relativa ao candidato, a que se segue a fase romana, onde os processos são avaliados na Congregação para as Causas dos Santos, de acordo com a legislação da Santa Sé e as alterações introduzidas pelo Papa Francisco e publicadas no dia 3 de março de 2016. Este tipo de via para a santidade requer na mesma a atribuição de milagres por intercessão do venerável para a beatificação e canonização.
Desta forma, explica o arcebispo secretário do dicastério Marcello Bartolucci em declarações ao Osservatore Romano, o Papa abriu uma «quarta via», porque as precedentes não pareciam «suficientes para interpretar todos os possíveis casos de santidade canonizável», tornando «merecedores de beatificação aqueles servos de Deus que, inspirados pelo exemplo de Cristo, tenham livre e deliberadamente oferecido e imolado a própria vida pelos irmãos num ato supremo de caridade».
O Pe. Miguel de Salis Amaral, autor do livro Concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, considera que esta nova via é «de grande interesse». «Apresenta casos de pessoas que, não tendo morrido em casos de perseguição religiosa, ofereceram a sua vida para ajudar os outros porque viram neles a Cristo necessitado de ajuda. Uma ajuda que os levou a dar a vida, mesmo que às vezes não tivessem um comportamento pessoal de enorme virtude», refere o sacerdote.

O sacerdote considera que o Ano da Misericórdia foi «determinante» para esta decisão do Papa. «O Papa terá visto que é importante propor aos cristãos exemplos de santidade deste tipo, em que a misericórdia se torna mais patente, visto que se chega a oferecer a vida. Isso é uma palavra de encorajamento para fazer o mesmo na nossa vida, quando seja necessário, e para nos dedicarmos aos outros mais em geral, mesmo quando temos consciência de não ser tão santos», considera, acrescentando que estamos a falar de «pessoas que deram a vida pelos outros, e morreram efetivamente, tendo dado a vida por dedicação e amor cristão aos outros. Gente corrente que tomou uma decisão heroica de dar a vida por um filho que ia nascer, por defender um filho da ameaça da droga, ou do que seja. Médicos, enfermeiras, religiosos e religiosas, que se expuseram ao contágio de doenças perigosas - das quais depois morreram - porque preferiram assistir medicamente aqueles doentes em vez de fugir ou pedir a outros que o fizessem».
A Igreja tem assistido a um aumento exponencial do número de santos elevados ao altar nos últimos séculos. Esta nova via poderá conduzir a um aumento ainda maior, e questionámos o Pe. Miguel de Salis sobre se corremos um maior risco de banalização da santidade. «Acho que não, pois o Papa pede que a oferta da vida esteja ligada à morte, efetivamente verificada. A diferença entre o mártir e o cristão que oferece a vida é que o mártir dá a vida por Cristo mas é morto por alguém que persegue os cristãos, e quem a oferece por Cristo não é morto por um perseguidor dos cristãos. Os dois dão a vida, os dois morrem, mas um foi perseguido por odio à fé cristã e o outro não», explica o sacerdote português.
Uma consequência ou mudança que esta nova via pode trazer é no auemnto do número de leigos que poderão subir aos altares. «Estou convencido de que é muito possível que haja mais leigos [a serem canonizados], mas também haverá mais padres, mais religiosos e religiosas, mais bispos, que poderão ser apresentados como exemplos de oferta generosa da vida por Cristo», diz.
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna e Arquivo PAULUS
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