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«É muito importante acompanhar os esposos na vida matrimonial»
25.06.2022
Gabriella Gambino é sub-secretária do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, e foi uma das principais responsáveis pela criação do itinerário catecumenal de preparação para o matrimónio.


Esteve no X Encontro Mundial das Famílias para apresentar este itinerário, que pede uma preparação que tem de ter início nas catequeses e na pastoral juvenil, e que depois propõe um caminho de mais de um ano de preparação para o matrimónio, seguido de acompanhamento organizado aos casais recém-casados durante pelo menos dois a três anos. Propostas ambiciosas, considerando a realidade da preparação para o matrimónio um pouco por todo o mundo, mas também em Portugal, onde nem metade dos casais frequenta os Cursos de Preparação para o Matrimónio e tem formações mais apressadas ou com pouco tempo de antecedência, sobre as quais esteve à conversa com a Família Cristã no final da sua apresentação no Congresso Pastoral que decorre no Vaticano por estes dias, inserido no encontro das famílias.
 
O que é novo neste itinerário de preparação para o matrimónio?
A coisa mais importante creio que é a biografia de um percurso catecumenal. O itinerário tem esse objetivo: criar um percurso vocacional que, desde a pastoral remota, da preparação das crianças para os sacramentos, inclua um percurso de discernimento sobre a vocação à vida religiosa ou à vida matrimonial, considerando-a uma peculiaridade do percurso. Creio que é muito importante seguir um itinerário que tenha continuidade em toda a vida, onde o discernimento vocacional faz de ligação em todo o percurso, até chegar à fase posterior ao matrimónio, porque a celebração do rito não é um ponto de chegada, mas é um ponto de partida. Por isso, torna-se muito importante neste percurso acompanhar os esposos na vida matrimonial pelo menos nos primeiros anos, se não num acompanhamento permanente, para ajudá-los a enfrentar as dificuldades normalíssimas da vida quotidiana e que, por vezes, quando não acompanhadas, podem transformar-se em crises profundas e talvez definitivas.
 
Um dos paradoxos maiores na vida da Igreja é que, se queres ser padre, tem de estudar 10 anos... Se quiseres casar, precisas apenas de um fim de semana e tudo ok. É este grande paradoxo que vai agora acabar?
Esperamos que seja possível, lentamente... Certamente temos de seguir um processo de renovamento pastoral na preparação para a vida matrimonial. E isso não será fácil, em muitos contextos, dependendo das dioceses e das zonas do mundo. O mundo não é todo igual e são tempos diferentes que temos de acompanhar. O aspeto principal é: começar a dedicar um cuidado maior no acompanhamento dos jovens comprometidos com o matrimónio para que não seja uma preparação imediata, de pouco tempo, mas seja uma preparação próxima, durante um tempo mais longo, para que seja possível um verdadeiro discernimento.
 
Os documentos especificam que é preciso ter em conta as realidades locais. Mas pode ser necessário ter em conta 20 ou 30 diferentes realidades locais. Em cada diocese ou em cada país é possível uma maior uniformidade?
Os itinerários sugerem princípios generais, sugerem os princípios gerais. É compreensível que depois cada um na sua diocese ou conferência episcopal escolha aplicar os aspetos que dependem da possibilidade ou oportunidade a nível da pastoral local. As Igrejas particulares devem trabalhar com liberdade, inteligência pastoral e criatividade.
 
Mas seria útil que a preparação na Igreja seja similar em cada país ou em cada diocese?
Isto poderia ser uma ajuda, mas não podemos impor... Cada um tem a liberdade de respeitar, sempre tendo presente que este itinerário sugere e convida a seguir em conjunto conteúdos e métodos.
 
Sente que este calendário de formação será aceite pelos noivos, com tanta antecedência?
É importante empenhar-se numa pastoral vocacional que acompanhe antes de tudo as crianças. Se as crianças se dão conta, lentamente amadurecem um chamamento ao matrimónio, e quando encontrarem a pessoa escolhida terão já feito um percurso e não se tratará de iniciar de improviso a fé, porque a fé é um percurso já realizado. Esse é o objetivo.
 
Os padres terão de ser mais bem formados para este acompanhamento. Deveria começar na formação nos seminários?
Seria muito belo e importante. É importante serem formados na corresponsabilidade em relação às famílias, os esposos e os sacerdotes, em conjunto. No tempo de seminário deveria acontecer esta formação à corresponsabilidade e a caminhar em conjunto.
 
Os números de casamentos poderão diminuir com estas propostas. A Igreja está preparada para essa realidade?
O tema não são as estatísticas. O objetivo é que cada pessoa que se aproxima e deseja encontrar Cristo O encontre. O itinerário catecumenal tem a finalidade de ajudar cada um a compreender a sua vocação. E se, depois de um percurso de verdade, dão conta que aquele não é o caminho, que não o abracem. O tema é sempre o ‘Querigma’, o anúncio do Evangelho. E conta cada pessoa, cada pessoa é importante, não conta o número.


A reportagem em Roma no âmbito do X Encontro Mundial das Famílias resulta de uma parceria entre a Família Cristã, a Agência Ecclesia, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.

 
Texto e fotos: Ricardo Perna
 
 
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