21.02.2022
Certamente todos já vimos algum documentário de um dos maiores comunicadores e lutadores à escala mundial pela preservação do nosso planeta – Sir David Attenborough. A sua voz é facilmente reconhecível, mas os seus ensinamentos ainda o são mais. Uma das suas afirmações mais curiosas é a seguinte: «Temos um ambiente finito – o planeta. Qualquer um que pense que se pode ter crescimento infinito num ambiente finito, ou é um louco ou é um economista.» Sem desprimor pelos economistas, é sistemático ouvirmos de muitos políticos a palavra crescimento, crescimento, crescimento. É a palavra errada – o nosso investimento tem de ser no desenvolvimento, na qualidade de vida, no bem-estar de todos e não nesta obsessão pelo crescimento económico, ou pelo menos num crescimento que se baseia em mais e mais matérias-primas que escasseiam num planeta limitado. O problema é que a nossa sociedade se baseia numa felicidade em troca de continuarmos a acumular mais e mais. E é muito difícil conseguirmos mudar este paradigma, mas sem isso não vamos conseguir ir longe nesta batalha em relação às alterações climáticas e em relação aos recursos. O desenvolvimento sustentável tem de ser cada vez mais contextualizado sobre a visão de felicidade individual e coletiva.
Em 2015, a publicação da encíclica
Laudato Si’ do Papa Francisco sobre a ecologia foi um dos três eventos mais marcantes que tornaram esse ano absolutamente crucial para a agenda da Humanidade, a par da aprovação dos objetivos para o desenvolvimento sustentável pelos líderes mundiais reunidos na assembleia geral da Organização das Nações Unidas, na qual Francisco discursou durante a sua viagem a Cuba e aos EUA, e da assinatura do Acordo de Paris para as alterações climáticas. Os alertas do Papa, que têm vindo a ser cada vez mais insistentes, apontam-nos para a necessidade de uma economia circular fundamentada na utilização de produtos que durem mais, como forma de diminuir o consumo de recursos, num tratamento das águas que possibilite a sua reutilização, na redução do consumo de carne, que permita reduzir as emissões de metano que causam as alterações climáticas, na eficiência energética, para diminuir o consumo de energia e, no plano da mobilidade, à utilização de transportes públicos. Deixar de utilizar o carro é absolutamente crucial. E também deixarmos de ter a posse do carro. O Papa, na parte final, praticamente dá-nos a receita do que é que cada um de nós tem de fazer. Precisamos de pensar o que é possível reutilizar, pedir emprestado, partilhar para evitar o desperdício. Também isso nos sugere uma relação mais próxima com os amigos, com os vizinhos, com aqueles que sofrem de maiores desigualdades e só assim estaremos a mudar a nossa mentalidade de querer ter mais para escolhermos uma economia diferente onde seremos mais, a bem dos outros e do ambiente. Comecemos 2022 com este espírito!