São mais de mil os escuteiros do Corpo Nacional de Escutas (CNE) que, em todo o país, estão ao serviço das comunidades locais numa série de projetos de ajuda à mitigação dos efeitos da pandemia de COVID-19. Um pouco por todo o país, dirigentes e caminheiros promovem ações de sensibilização, dão apoio aos mais vulneráveis e confortam os profissionais na linha da frente do combate à pandemia.

Um serviço que veio logo depois de conseguirem a ação principal em toda esta pandemia, que foi colocar os seus jovens em casa. «O CNE acelerou o processo de suspensão das atividades, até primeiro que as escolas, por prevenção. Depois nos depararmos com esta situação, tentámos colocar as pessoas em casa, e por isso criámos a plataforma online
escutismoemcasa.pt e toda a nossa comunicação assentava no “fiquem em casa”. Essa foi a primeira resposta, para que não fossemos parte do problema, mas sim parte da solução», explica Paulo Pinto, porta-voz da associação.
Para isto, muito contribuíram os voluntários dirigentes. «Nós temos 50 mil crianças que não podem sair de casa. E temos muito voluntários dirigentes a tentar que estes jovens fiquem animados e dinâmicos dentro das suas próprias casas, sendo eles parte da motivação, com uma série de iniciativas para a toda a família», explica este dirigente. Como exemplo, ainda há dias a região de Setúbal do CNE esteve envolvida num dia de jogos virtuais que envolveram 3500 jovens da região, que se dedicaram ao desempenho e resolução de uma série de provas em conjunto, sem saírem de suas próprias casas.
Conseguida esta tarefa, os agrupamentos colocaram-se à disposição dos dispositivos de Proteção Civil, conforme habitual em situações de crise. «Os agrupamentos colocaram-se à disposição das estruturas locais de proteção civil e saúde, e conforme vão sendo requisitados, são acionados os nossos voluntários. Respondemos a necessidades que nos são colocadas», e que podem ser de várias naturezas.
São 200 intervenções em todo o país, que envolvem, à data de 30 de abril, 1087 voluntários, com projetos tão díspares como passear animais de companhia, fazer compras, montar tendas para albergar sem-abrigo, apoiar as paróquias nos lares ou linhas de apoio telefónico a quem está sozinho ou a precisar de suporte psicológico.
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O projeto Gota, do agrupamento 8, de Águas Santas, no Porto, surge precisamente assim. «Nós fazemos parte de um dispositivo local que se reúne para resolver este tipo de situações. No âmbito desta pandemia, foram identificadas situações e pediram aos escuteiros que avançassem», explica José Santos, chefe de agrupamento. Assim, um grupo de cerca de 20 voluntários, isoladamente ou «em pequenos grupos», presta auxílio principalmente na aquisição de produtos a pessoas idosas que, por precaução, se preferem resguardar neste período. «Há um sentido de responsabilidade das pessoas em não saírem de casa nesta fase», explica José Santos.
Os escuteiros vão a casa da pessoa buscar a lista, fazem as compras e deixam-nas à porta, evitando contactos desnecessários, e cumprindo todas as normas de segurança e distanciamento. O número de pedidos foi muito no início, e agora tem diminuído, «porque muitos idosos têm filhos e agora eles já conseguem vir fazer eles as compras», diz o chefe de agrupamento.
O feedback das pessoas tem sido «muito positivo». «As pessoas ficam agradecidas, até nos querem compensar pelo trabalho que estamos a ter (risos), mas recusamos sempre, claro, e agradecem a disponibilidade dos dirigentes que abdicam do seu tempo para este serviço».

Todos para o «Abrigo de Sorrisos»
Na região de Bragança-Miranda, o agrupamento 18 também colocou todos os seus elementos em casa logo no início do confinamento, seguindo as indicações da Junta Central, órgão nacional do CNE. Mas a «inquietação» dos caminheiros levou a que se pensasse numa ação de serviço original. «A inquietação era “mas estamos parados, não é possível fazer nada?” e, enquanto aguardávamos instruções, os caminheiros foram pensado o que é que, em casa, poderiam fazer e lembraram-se de toda esta gente que está na linha da frente, profissionais de saúde, de segurança, nos lares, e pensaram que poderia ser uma oportunidade de lhes fazer chegar uma mensagem de alento e de esperança pelo que estão a fazer», conta Miguel Salgado, chefe de agrupamento.

Assim, contactaram o resto do agrupamento e pediram que lhes enviassem contactos, telefone, e-mail ou perfil de Facebook, de profissionais de saúde que conhecessem, e colocaram os lobitos e exploradores (escuteiros mais novos) a produzir desenhos e mensagens de alento e esperança, que entregavam diretamente a esses profissionais. «As mensagens são direcionadas, mas quem as faz não sabe para quem vão, e quem recebe não sabe quem fez. Recebem por SMS, Facebook, depende do contacto que nos dão. Nós apresentamo-nos, e depois enviamos a mensagem», explica este dirigente.
O impacto foi completamente inesperado, e o agrupamento já enviou mensagens para mais de 500 contactos de todo o tipo de profissionais que, entretanto, começaram a receber. «Os lobitos são a grande máquina de produção de desenhos (risos). Curiosamente, e contrariamente às nossas expetativas, temos todo muitos contributos de fora, do CNE e de pessoas fora do escutismo, seja a dar-nos contactos, seja a dar material, porque são pais que envolvem os filhos e nos enviam os desenhos deles», diz Miguel Salgado, que acrescenta que «as mensagens estão mais ou menos a ser quinzenais. Todos os contactos têm a primeira mensagem garantida, mas os contactos mais antigos sentimos necessidade de renovar, relembrar, e temos bastantes contactos já com várias mensagens».
O feedback, esse, tem sido «muito forte». «Temos tido algumas respostas às nossas mensagens, e algumas são muito fortes. Ninguém estava à espera, e há pessoas que nos respondem muito comovidas e agradecidas. Isso tornou-se mais notório naqueles primeiros dias, em que estávamos todos com mais receio, e as pessoas estavam profundamente agradecidas por estas mensagens espontâneas. A equipa foi-nos reportando algumas das mensagens que mostravam o alcance que isto estava a ter nas pessoas», conta.
Texto: Ricardo Perna
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