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Espero que «Sínodo mostre uma Igreja que não se acomoda»
16.03.2018
 
Com 26 anos, é veterinário de formação, e pertence à paróquia da Charneca de Caparica, na diocese de Setúbal, na qual está como membro de um grupo de jovens que presta serviço à paróquia no coro e em diversos outros momentos. Nasceu em Vila Real, e sempre teve uma educação cristã na família. «Lembro-me que os meus pais fizeram parte do coro da aldeia e eu ia com eles», recorda. Hoje, é ele quem anima as eucaristias dos domingos de manhã na paróquia, entre outras atividades.


Enquanto crescia, também foi evoluindo a sua visão do que é a Igreja. «A minha visão foi mudando, mas o essencial manteve-se. Quando somos mais novos, temos sempre a ideia de Igreja como instituição, com os seus organismos, o Papa, os bispos, os padres, e quando vamos amadurecendo e crescendo na fé, vamos percebendo que a Igreja somos todos nós, porque formamos um só corpo, como dizia S. Paulo». Por isso, acrescenta, «todos temos a nossa quota-parte de responsabilidade na Igreja, não é exclusiva dos seus altos representantes, no nosso dia a dia temos de ser Igreja».

Algo que é mais fácil dizer do que fazer. «Isto devia-se refletir em tudo o que faço no meu dia a dia, na minha casa, na escola, no trabalho, e às vezes não é fácil explicar aos jovens, porque deve ser um caminho mais de atitude. A palavra é importante, mas as atitudes concretas valem mais», considera este jovem.

A necessidade de atrair os jovens à Igreja já está presente na Igreja há algum tempo, considera Pedro, que destaca os três últimos Papas nesse esforço. «Se olharmos para a história da Igreja, a relação com os jovens evoluiu muito ao longo dos anos. Há um tentativa de chamar e cativar os jovens, mas os jovens também têm de se mostrar de coração aberto para serem interpelados», sugere.

Neste sentido, a marcação deste Sínodo foi algo que já segue nesta continuidade da preocupação com os jovens. «A Igreja foi compreendendo que precisa de mudar, embora não a qualquer custo. Os fundamentos estão lá, e não é por este movimento ou aquela cor política que a Igreja tem de flutuar em função disso.»

Se colocado frente a frente com o Papa, Pedro Feliciano falar-lhe-ia de uma Igreja portuguesa cuja maior força pode ser, ao mesmo tempo, a sua maior fraqueza. «O melhor que a Igreja tem é esta mensagem de Amor que Jesus nos trouxe, que nos diz que, para sermos completos, nos devemos dar aos outros. Ao mesmo tempo, a Igreja tem de trabalhar isto, porque sinto que é um problema com que se depara todos os dias. Existe um pouco esta cultura do ego, não só nas pessoas, mas nos movimentos da Igreja, no sentido de cada grupo querer puxar para si. Esta dinâmica é que a Igreja tem de trabalhar, porque pode ser o exemplo, a referência, mas por outro lado enfrenta ela própria este problema», afirma Pedro.

Questionado sobre se o Sínodo terá impacto a nível local, Pedro acha que sim, mas coloca a responsabilidade deste impacto na atitude de jovens e agentes pastorais ao nível local. «Terá impacto real, mas depende de como as comunidades vão responder e acolher o que sair de lá. Acho que pode ter impacto significativo, mas as pessoas têm de estar predispostas a isso, não basta que vejam isso nas notícias». Até porque, continua, «quando se fala de respostas ao nível local, primeiro têm de ser os responsáveis a interessar-se por este assunto. Não podem dizer que isto é apenas para os jovens e ignorar, porque os jovens precisam de quem os auxilie, de quem lhes aponte caminhos», avisa.

Gostava que do Sínodo saíssem «conclusões». «É bom que a Igreja consiga encontrar caminhos mais eficazes para interpelar os jovens», espera Pedro. Até porque, às vezes, parece que «se acomoda um bocadinho». «Muitas vezes sinto que, em certos projetos, se conta muito com os jovens que já lá estão, e se esquece que esses vão deixar de ser jovens, e há outros a quem é preciso falar. Gostava que o Sínodo mostrasse uma Igreja que não se acomoda, que vai ao encontro, de preferência com formas eficazes de fazer as coisas, adaptada à realidade, mas sobretudo que não se acomode e vá ao encontro do que achar que são as necessidades dos jovens», conclui.

Leia este testemunho na íntegra na FAMÍLIA CRISTÃ de março de 2018.
Texto e fotos: Ricardo Perna
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