Os bispos portugueses, reunidos em plenário em Fátima, consideram que a possibilidade de referendo sobre a eutanásia é uma «possibilidade legal», mas defendem que «há muita coisa a fazer antes disso e em vez disso». «Estamos muito longe de efetivar as possibilidades paliativas que estão ao nosso alcance. Façamos outras coisas que são muito mais humanas, até porque temos países que avançaram para a eutanásia inicialmente de forma muito restritiva, mas viu-se o efeito da rampa deslizante que mostra que, abrindo essa porta, ela vai-se escancarar», afirmou D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na conferência de imprensa que encerrou os trabalhos da 194ª Assembleia Plenária dos bispos portugueses.
O presidente da CEP criticou a decisão de legislar sobre esta matéria, principalmente porque «a quase totalidade das pessoas que estão na Assembleia da República não se apresentaram ao eleitorado com essa proposta na agenda». «Portanto, são pessoas com consciência e responsabilidade e têm de ter isso em conta», apontou.
Como têm feito até aqui, os bispos continuam a defender que a defesa da vida é a prioridade. «Nós temos uma resposta como sociedade que é estar ao lado dessas pessoas e dizer “a sua vida é preciosa para nós, também nesta fase”, como em qualquer fase da vida. A eutanásia não elimina a dor, elimina a vida», disse D. Manuel Clemente.
Os bispos também consideram que esta não é uma questão confessional, mas «humana». «Quando sucessivos bastonários da Ordem dos Médicos nos dizem que a eutanásia não é uma resposta legítima para o problema, não temos de ter isto em conta? Isto não é uma resposta confessional, é uma resposta humana», defendeu.
Mudança de sexo aos 16 anos é processo «muito ilegítimo»

Os bispos refletiram sobre a legislação que permite a mudança de sexo aos 16 anos, e mostraram-se preocupados quanto às possíveis «repercussões legislativas e educativas» que esta legislação pode ter.
Questionado sobre essas repercussões, D. Manuel Clemente referiu que «estar a antecipar para uma fase muito juvenil uma decisão deste género é para nós muito ilegítimo». «Se isso é reservado a um sentimento mais ou menos induzido pelo meio em que se cresça, seja irremediável ou que origine sucessivas escolhas ao longo da vida, isto parece-nos não respeitar a ecologia integral em que insiste o Papa Francisco», criticou.
D. Manuel Clemente assume que há processos de definição em que pode haver «circunstâncias que demorem a ter uma definição absoluta», mas reforça que o «ideal é construir e manter esta unidade», e não avançar para «a desfazer apressadamente». «Temos de ter uma atitude global em relação ao ser humano, é uma realidade psicofísica integrada, que se manifesta em termos de masculino e feminino, isto não é um acrescento cultural», disse.
Texto e fotos: Ricardo Perna
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