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Ex-ministra do Iraque: «ONU parece minimizar sofrimento dos cristãos»
23.06.2016
A antiga ministra do Iraque, Pascale Warda, critica o reconhecimento do genocídio apenas contra yazidis pela Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria.


 
«As Nações Unidas parecem minimizar o sofrimento dos cristãos tentando não reconhecer o genocídio como fazem com os yazidis. Nós, os cristãos, temos de reagir e exigir os direitos do nosso povo, que foi o primeiro alvo», explica em declarações à FAMÍLIA CRISTÃ. Foi isso mesmo que a levou a escrever já ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
 
A antiga ministra do Iraque defende que o genocídio contra cristãos acontece desde 1915 e que «estas atrocidades são condenadas ao silêncio e este silêncio deu a possibilidade de repetir o genocídio e não de acabar com ele. Por isso, a prevenção é possível responsabilizando os autores». Por tudo isso, Pascale Warda afirma que «a ONU tem o dever moral de reconhecer estes crimes contra a humanidade, e os crimes contra os cristãos e yazidis são genocídio contínuo desde 2014. Foi isso mesmo que pedi a este Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas ainda ontem».
 
Pascale Warda acaba de chegar a Erbil, no Iraque. Não fica surpreendida com a notícia do reconhecimento. Tem denunciado os crimes e a perseguição às minorias pelo autoproclamado Estado Islâmico em conferências, palestras e entrevistas por todo o mundo. «O reconhecimento de genocídio contra os cristãos é um passo importante, não apenas para levar os criminosos à justiça e aqueles que os ajudaram e para dar a possibilidade às vítimas de ter os seus direitos nos países onde estão indefesos. É mais importante para prevenir este tipo de genocídios e pôr-lhe um fim.»

 

Ainda recentemente, Pascale Warda, ex-ministra do Iraque e ativista dos direitos humanos, esteve em Portugal e denunciou em entrevista à FAMÍLIA CRISTÃ os crimes contra cristãos e outras minorias no Iraque: «Na organização Hammurabi Direitos Humanos registámos mais de 100 casos de cristãs e yazidis. Ouvimos histórias de violência sexual... piores do que selvagens. Não consegui continuar a escrever o que ouvia da boca de meninas de 12, 20 ou 10 anos que contavam coisas terríveis. Dei-lhe o papel e disse: “És mais corajosa do que eu. Escreve.” Documentei tudo, publiquei e exigi ao governo que fizesse algo. Mas até agora ainda ninguém fez nada. As mulheres vêm quase nuas, mortas de fome, de calor, de sede. É verdadeiramente uma história negra a que se passa neste momento com as mulheres que estão às mãos do Daesh.»
 
Na semana passada, a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, das Nações Unidas, concluiu que a minoria yazidi é alvo de genocídio por parte do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS). O relatório Eles vêm para destruir: os crimes do ISIS contra os yazidis apresentado revela que em, pelo menos, cinco províncias da Síria, meninas e mulheres são oferecidas e vendidas em mercados de escravos. As que tentam fugir são espancadas e, em alguns casos, alvo de violações coletivas. O documento refere ainda transferências e conversão religiosas forçadas. O mandato desta Comissão é apenas para violações contra yazidis em território da Síria.
 
Texto: Cláudia Sebastião
Fotos: Ricardo Perda e UNICEF
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