Durante a gravidez, os pais começam a pensar: “onde ficará o meu filho quando terminarem as licenças?” Há várias hipóteses em cima da mesa, algumas não acessíveis a todos: ficar em casa com a mãe ou o pai, ficar com os avós ou um familiar, ama, berçário ou creche (dependendo da idade), permanecer em casa com uma empregada, etc.
Bárbara Wong é jornalista do Público, onde acompanha há muitos anos os temas de educação. Nesta área, escreveu vários livros, entre os quais
A Escola Ideal – Como escolher a escola para o seu filho dos 0 aos 18 anos. Em entrevista, aconselha os pais de bebés e de crescidos a «usarem os sentidos todos: têm de usar o olfato para perceber se, quando se entra no berçário ou na creche, cheira muito a xixi, se cheira ao bolsado dos bebés. Então se calhar a higiene não é a prioridade na instituição. Depois a questão da segurança: os berços como estão, as esquinas dos móveis, essas coisas todas. É olhar e pensar “eu deixaria aqui o meu filho, deixaria aqui o meu filho em segurança?” É observar as pessoas que estão e os pais não têm que der medo de perguntar que formação é que fez». Outro ponto importante é «ouvir outros pais, ou outro profissional que já esteve naquela instituição».

Nair Ferreira Ramos é mãe da Constança de cinco anos, da Mafalda de três e de um menino quase a nascer. As duas meninas entraram no infantário aos doze meses. «A Mafalda está no infantário e a Constança na pré-escola. Tive de andar mesmo à procura ao pormenor porque a Constança tem necessidades especiais, tem Trissomia 21, e eu queria uma escola normal com crianças normais e perto dos nossos trabalhos», conta. A prioridade era que fosse uma escola normal. A pesquisa começou pelas instituições particulares de solidariedade social. «Vimos algumas privadas, mas não gostámos porque eram um pouco paradas, não tinham muitas atividades e eram mais caras. Encontrámos esta [Fundação António Leal – O Búzio] e fomos ver as instalações», recorda Nair. A visita acabou por ser muito importante. «Tivemos a sorte de conhecer logo a educadora que no ano seguinte ficaria com a Constança. Ela já tinha experiência com crianças com necessidades especiais. Pôs-nos logo à vontade e isso criou um laço, tivemos muita empatia.» Conheceram-se e conversaram. «Expliquei que a Constança estava a fazer terapias, tinha doze meses e ainda não andava. E ela disse logo para não me preocupar. O que eu queria era que a Constança fosse tratada de maneira igual às outras crianças. Se fosse tratada de forma diferente, eu tirava-a de lá», conta. Quando Mafalda fez um ano juntou-se à irmã na mesma instituição. No próximo ano letivo, vão mudar. «Agora já estamos a pensar na escola primária e como vou ter outro filho, já fui inscrevê-las numa pública que sei que tem uma educadora de ensino especial.» E que critérios usaram para escolher a escola? «Inscrevi-me mais pela localização. É muito mais perto da nossa casa», revela Nair. Além disso, o meio é pequeno e rapidamente os pais conseguiram saber todos os aspetos relativos à parte administrativa, componente de apoio à família, etc.
Estão a decorrer até dia 15 de junho as matrículas para o pré-escolar e primeiro ano do ensino básico público. Quer se trate de uma escola pública ou de uma privada a que devem os pais estar atentos? Renato Paiva é diretor da Clínica da Educação, licenciado no curso de professores do ensino básico e mestre em Multimédia na Educação. É formador de professores e consultor pedagógico. Explica que «nada melhor do que ir conhecer. Mais do que conhecer instalações é conhecer as pessoas, a estrutura, a dinâmica, que tipo de ofertas pedagógicas inclui, de que forma está organizada».
Renato Paiva salienta que mais do que isso é importante olhar para o modelo pedagógico no qual os pais se reveem mais. «De que forma esta escola integra a comunidade e participa ativamente em ações que envolvam um conjunto social de instituições? Depois é preciso conhecer também a oferta formativa da escola. Há escolas que têm componente de apoio à família depois do horário escolar que pode ser considerado como opção, outras vezes tem que ver com atividades extracurriculares que as autarquias ou associação de pais colocam à disposição dos meninos que possam ser mais interessantes para uns e para outros.» Há outras coisas que lhe podem parecer básicas e não o são em todas as escolas. É importante perguntar e «salvaguardar se as casas de banho têm portas, se têm papel higiénico, quais os recursos humanos de apoio aos recreios – muito importante porque é onde normalmente há conflitos ou em situações de isolamento ou dificuldades de integração».
Depois da escolha da escola estar feita, Renato Paiva e Bárbara Wong aconselham a integração dos pais nas associações de pais. «Ajudam muito a própria escola a melhorar coisas que, às vezes, não conseguem. É uma força maior junto das autarquias e do ministério», afirma Renato. Bárbara concorda e acrescenta: «É importante para os nossos filhos, porque eles percebem que nos interessamos pelo que andam a fazer na vida. É muito importante falar com os outros pais. Se a professora do meu filho é muito boa e a do lado não é tão boa, é preciso ajudar os outros pais para que haja igualdade dentro da escola. É muito importante estarmos por dentro do que se passa e não sermos os últimos a saber.»
Pegando no título do livro de Bárbara Wong, há uma escola ideal? «Não há. A escola ideal é a escola em que os pais são ouvidos, os pais conseguem ouvir os professores, os alunos gostam dos seus professores, os professores gostam dos seus alunos. Às vezes a escola ideal não tem de ser a que tem as melhores instalações. A escola ideal é aquela em que os miúdos se sentem felizes e sentem que fazem parte de uma comunidade, fazem coisas», afirma. E essas escolas são construídas com a ajuda de todos. «A nossa preocupação é eles terminarem a escola, e terem um trabalho, e terem não sei o quê, e terem, terem, terem. Quando eu acho que a nossa preocupação devia mesmo eles serem felizes e fazerem uma coisa de que gostem. Não vamos conseguir controlar tudo. É dar-lhes o espaço para eles crescerem e crescerem felizes.»
Leia o artigo na íntegra na edição da FAMÍLIA CRISTÃ de junho de 2019.