O Cardeal Saraiva Martins é o enviado do Papa ao Congresso Mariológico Internacional, que tem início amanhã, dia 6 de setembro, em Fátima. O congresso é mais um passo na preparação do centenário das aparições de Fátima, que ocorre em maio do próximo ano, tudo indica com a presença do Papa Francisco no nosso território.
O que espera deste congresso mariológico em Fátima?
Espero uma coisa extraordinária, o início de uma preparação autêntica e profunda para o centenário que viveremos no ano que vem. É o melhor modo de preparar a opinião pública, a começar pelos teólogos e cientistas, para uma data que tem uma dimensão mundial. O Centenário de Fátima vai ser celebrado não só pelos portugueses, mas por todo o mundo. Fátima tem uma dimensão mundial, é o altar do mundo.
Por isso é que o Papa autorizou o tema centrado no centenário das aparições?
Sem duvida, tem uma importância extraordinária no panorama teológico, devocional e religioso do mundo. Mas a respeito deste “altar do mundo”, eu geralmente acrescento que é a cátedra do mundo.
Porquê?
Porque Nossa Senhora, em Fátima, serviu-se das aparições para ensinar aos pastorinhos e, por meio deles, a toda a humanidade, os princípios fundamentais do Evangelho. A Mensagem de Fátima é a essência da mensagem evangélica. Altar e cátedra do mundo.
É por isso que tanto se continua a falar de Maria? Falta aprofundar a importância da mãe no catolicismo?
É preciso aprofundar cada vez mais o lugar de Maria na história da salvação. A sua função, como mãe de Deus, da Igreja e nossa mãe. Ela é nossa mãe, e como mãe, é ela quem educa os seus filhos a seguir o Evangelho e a vivê-lo em concreto na vida de cada dia. Por isso é que é cátedra do Evangelho.
O Papa Francisco nomeou-o seu representante neste congresso. O que é que ele lhe disse que esperava deste congresso?
Ele enviou-me uma carta muito longa sobre isso. No fundo, ele espera que seja a primeira etapa de uma preparação autêntica, profunda, real e atual para o centenário. Preparar a opinião pública e aprofundar a mensagem de Fátima para preparar os cristãos de hoje para celebrarem o centenário das aparições. A finalidade é sempre o centenário, mas não devemos esquecer nunca que este é o 24º congresso sobre Fátima, e quem promove esses congressos é a pontifícia academia mariana internacional, com sede em Roma, em colaboração com o Santuário de Fátima. O pensamento do Papa é muito claro, que é o pensamento de todos nós: aprofundar para viver mais profundamente a mensagem de Fátima.
Este será o único santuário que, nos seus 50 e 100 anos, recebe o congresso. Prova da importância deste santuário?
É evidente que Fátima tem uma importância especial, única, que não têm outros santuários. A importância de Fátima deriva da importância da Mensagem, que é, antes de mais, um apelo à fé. Num mundo em que a fé está a desaparecer, em que os ateus aumentam, é um apelo ao mundo de hoje para viver a fé que os cristãos professam, não só teoricamente, mas concreta, vivida, existencial. Em segundo lugar, é também um apelo à conversão, a uma maior aproximação do cristão com Cristo, para que possa dizer que “é Cristo que vive em mim”. Terceiro ponto, é um apelo à paz. Vivemos num clima de guerra, talvez pior que as outras duas guerras mundiais. Falta-nos harmonia de uns com os outros, independentemente da religião, cultura ou nacionalidade. Viver juntos como irmãos, e o homem nunca precisou tanto da paz como hoje. Depois, o último aspeto é o apelo à esperança. O homem que não vive de esperança é um homem morto, e não é cristão. Muitas vezes separamos o humano do cristão, e isso é um tremendo disparate. Os valores humanos são cristãos, porque o cristianismo é essencialmente humano. Isto é uma síntese da Mensagem de Fátima, que o Papa quer que seja posta em relevo, para que os crentes vivam mais profundamente esta realidade que Nossa Senhora recordou aos três pastorinhos e, por meio deles, a toda a humanidade.
O Papa quer que as pessoas se preparem em condições para o centenário, e acaba por criar mais motivação com a sua vinda a Portugal. Como é que as pessoas se podem preparar para esta visita?
Vivendo e aprofundando a Mensagem de Fátima. Muitas vezes fala-se da mensagem de forma teórica, mas se perguntamos “já leu?”, poucos o fizeram. Viver não é só falar, mas para celebrar dignamente, o único meio é aprofundar o que diz Nossa Senhora é ver se, na minha vida concreta do dia a dia, tenho em conta ou não o que Nossa Senhora disse. Esta é a ideia principal.
O que é que o Papa gostaria de encontrar em Portugal?
Pessoas que realmente estejam convencidas, que acreditem na Mensagem de Fátima, na sua urgência, e a manifestem. Porque vivemos a fé como membros de uma comunidade universal, e por isso devo falar com os meus irmãos sobre ela. Isso é o que o Papa espera como fruto maior do Centenário. Conhecer, celebrar e viver este conteúdo da Mensagem de Fátima em cada dia. Por isso também estamos no Ano da Misericórdia.
O Papa Francisco é claramente um Papa que dá muita importância à Mãe. Este também será um centenário muito especial para ele...
Certamente que sim. O Papa foi sempre muito devoto da Nossa Senhora de Fátima, em Buenos Aires. Ele conhece bem a Mensagem de Fátima, viveu-a como arcebispo de Buenos Aires, continua a vivê-la como sucessor de Pedro, e certamente que para ele este centenário é um dom de Deus para toda a Cristandade.
Texto e Fotos: Ricardo Perna
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