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Fátima revela História do mundo
03.05.2017
A História do mundo está intimamente ligada a Fátima. Esta ideia, defendida por especialistas e teólogos, está apoiada na ideia de que as aparições de Nossa Senhora na Cova de Iria trouxeram profecias e revelações que deram credibilidade às aparições. No entanto, não é essa a mensagem principal das aparições, e foi a própria Ir. Lúcia quem o disse nas notas que escreveu antes da sua morte.


Estamos em 1917 e o mundo vive o drama da Primeira Guerra Mundial. As tropas do eixo germano-húngaro avançam e provocam baixas pesadas junto dos Aliados. Em Roma, no Vaticano, o Papa Bento XV pede, em 5 de maio, a oração das crianças e das pessoas simples, e determina que, a partir de 1 de junho, se juntaria à Ladainha de Nossa Senhora a invocação Rainha da Paz. Em Portugal, num pequeno lugar chamado Cova da Iria, estamos em 13 de maio e três crianças passeiam o seu rebanho no meio das oliveiras. Francisco, Jacinta e Lúcia veem «uma Senhora mais brilhante que o Sol», que lhes pede para rezarem muito pela salvação dos homens. Nos meses seguintes, continua a aparecer e revela as várias partes de um segredo. «A Mensagem de Fátima faz parte de uma revelação particular, uma revelação que não junta nada à própria revelação entendida no sentido Pe. Luciano Cristinateológico, que terminou com o contributo do último Apóstolo, que recebeu oralmente e depois passou para os evangelhos. Não acrescenta, mas visa facilitar a compreensão dos acontecimentos históricos que vão decorrendo», explica-nos o Pe. Luciano Cristina, do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima.
 
Previsões ou profecias?
Apesar de não terem sido conhecidas de imediato, as revelações feitas pela Senhora aos pastorinhos têm o condão de prever, de forma profética, os acontecimentos negativos que se passaram no mundo nas décadas seguintes. «Em 1917, dão-se as aparições, e é o ano do momento decisivo da Primeira Guerra Mundial, quando a Rússia sai da guerra, os Estados Unidos da América entram e a guerra muda. Esse é o anúncio que é feito no imediato, que a guerra vai acabar em breve, e esse é um momento decisivo porque ninguém sabia, nessa altura, que isto iria acontecer», muito menos três crianças do interior de Portugal, diz João César das Neves, autor do livro O Século de Fátima, que acrescenta mais duas datas importantes. «Em 1941, ano chave da Segunda Guerra Mundial, Pio XII faz a consagração da Rússia ao Sagrado Coração de Maria. Há uma realização dos pedidos da Senhora e é nesse momento que a guerra muda, com a batalha do Midway, etc. Depois, em 1984, quando o Papa faz a consagração da Rússia e de todo o mundo, em comunhão com todos os bispos, ao Imaculado Coração de Maria, é dias antes de Mikhail Gorbachev ser eleito presidente do Partido Comunista na União Soviética e dar início ao processo que vai culminar com a queda do Muro de Berlim. É muito curioso que estes três momentos centrais da história de Fátima sejam três momentos centrais da história do séc.XX», defende o autor.
 
Estes momentos acabam por não ser todos proféticos, já que muitos são tornados públicos depois de terem acontecido, mas isso não diminui o valor das revelações, segundo João César das Neves. «Foram revelados mais tarde, mas ninguém duvida que foram ditos em 1917», defende. Este autor considera que «esta é uma aparição extremamente envolvida na História», já que «Nossa Senhora falou de coisas em 1917 que iriam fazer manchetes dos jornais anos mais tarde». O facto de se ter conhecido o teor das conversas entre Nossa Senhora e os pastorinhos torna estas aparições marianas excecionais. «Aconteceu em Fátima o que não acontece noutras aparições marianas, que foi o ficarmos a saber o que Nossa Senhora disse. Em Lourdes, por exemplo, Bernardette nunca chegou a contar o que lhe tinha sido dito e morreu com o segredo. Aqui é possível fazer a comparação histórica com as profecias, e isso é muito interessante», afirma João César das Neves.
 João César das Neves
Papas deram credibilidade às aparições
Parte da importância das aparições de Fátima prende-se com a credibilidade que desde cedo a hierarquia da Igreja, ao mais alto nível, lhe concedeu, mesmo antes de se conhecer o decreto diocesano que confirma a veracidade das aparições, que surge depois de um processo de inquirição dos vários intervenientes no processo. «Desde Bento XV até Bento XVI, houve oito Papas que estiveram em contacto com a mensagem e a história de Fátima, e até agora o Papa Francisco se mostrou já conhecedor desta mensagem. Pio XI tem elementos de ligação com Fátima muito importantes. Em janeiro de 1929, antes de sair o decreto diocesano que confirmava o carácter verdadeiro das aparições, o Papa entregou aos alunos do colégio português em Roma uma estampa com uma novena a Nossa Senhora de Fátima. "Dou-vos duas, uma para ficar convosco, outra para enviarem às vossas famílias", e no final desse ano benzeu uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, idêntica à que estava no santuário, oferecida pelo mesmo escultor. Isto são sinais pequenos, mas muito importantes», considera o Pe. Luciano Cristina, que explica ainda que o Papa Pio XII foi ordenado bispo precisamente no dia 13 de maio de 1917, e que por isso era considerado o Papa de Fátima. Foi, aliás, consciente dessa coincidência de datas que, no ano em que celebrou 25 anos de episcopado, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, numa radiomensagem em português. A vontade dos papas de cumprir os desejos de Nossa Senhora dá a estas aparições «maior credibilidade», considera o sacerdote.
 

O papel de Lúcia
Na opinião de César das Neves, outro aspeto que contribuiu muito para a credibilização das aparições foi a escolha da vidente. «Nenhuma das aparições tem o grau de influência e detalhe de Fátima, que se deve muito à personalidade escolhida por Nossa Senhora. Lúcia de Jesus é uma vidente particularmente anormal. Viveu quase 100 anos, foi sempre de uma fidelidade e de um realismo e bom senso notável, nunca se deixou incensar por nada, sempre teve um cuidado enorme em diferenciar "o que é que Nossa Senhora me disse" e "aquilo que eu penso sobre o assunto", explica. Apesar da força das profecias, que são verificáveis na História do mundo, é preciso compreender que as aparições de Fátima tinham outro objetivo, sublinhado pela Ir. Lúcia numas notas que foram publicadas após a sua morte.

«Quando a Ir. Lúcia faleceu, a sua superiora publicou umas notas que ela tinha deixado nas quais descreve que estão todos preocupados com os segredos que foram escondidos e escreve: "Porque é que não ligam ao essencial que está divulgado desde maio e junho de 1917?" Portanto, o que interessa não são os detalhes, são as ações para que se possa atingir a Paz. Estamos a falar de emenda de vida, oração, rezar o terço todos os dias, isto são as coisas centrais e estavam reveladas desde o início», diz o professor. Foi neste sentido que, mesmo sabendo que as profecias de Fátima foram todas reveladas, como confirmou o Card. Ratzinger na sua nota teológica, o Papa Bento XVI afirmou, na sua visita a Portugal, que a vitória do Imaculado Coração de Maria ainda não tinha chegado.

Conversão é central
«Há evidentes cumprimentos da profecia, tendo em conta os acontecimentos do mundo. E aí o Coração Imaculado de Maria triunfou. Mas esse triunfo não é definitivo, e para nós coloca-se outra vez o mesmo tipo de dramas e exigências que se colocavam nessa altura. Continua a ser verdade o termos de rezar o terço todos os dias, sacrificarmo-nos pelos pecadores, e sobretudo colocarmos no centro da nossa vida o Imaculado Coração de Maria, que é, junto com o Sagrado Coração de Jesus, a forma como as aparições se têm dado nos últimos tempos», diz o professor, que considera que esta vitória vai acontecendo no dia a dia. «O Coração Imaculado de Maria vai triunfando sempre que alguém se converter. O aspeto concreto dos segredos é acessório, o fundamental é o pedido de conversão e mudança de atitude», avisa.
 
Apesar de todas estas "provas", nem todos reconhecem a validade das aparições e nem todos se converteram. João César das Neves lembra: «Nossa Senhora disse nas aparições de outubro uma coisa que nunca disse antes: "Não ofendam mais o meu Filho, que já está muito ofendido." O "castigo" que vem não é imposto por Deus, é imposto pelas nossas ações. Se as pessoas tivessem feito o que foi pedido, a Segunda Guerra Mundial não teria acontecido.» É por acreditar nisto que o autor considera que só na «vida eterna», haverá o triunfo do Coração Imaculado de Maria. «O Coração Imaculado de Maria triunfa cada vez que uma pessoa faz o que Nossa Senhora pediu. O triunfo total e completo só acontecerá na vida eterna, porque antes sabemos que é impossível, porque o pecado vai sempre acontecer», conclui.
 
Texto e fotos: Ricardo Perna
Texto publicado na FAMÍLIA CRISTÃ de maio de 2013.
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