O selecionador nacional de Portugal agradeceu publicamente a vitória do Euro 2016 a Deus e a Nossa Senhora. Tornou-se aí mais evidente aos olhos do mundo inteiro que Fernando Santos é um homem de fé. À FAMÍLIA CRISTÃ fala do seu reencontro com Deus e do modo como vive a fé.
– Como vive a Quaresma e a Páscoa? O que faz neste tempo?
– O que é normal um cristão fazer. Este é um tempo muito importante, porque é de renovação interior. Estamos a preparar-nos para a morte e ressurreição de Cristo. É um momento muito de conversão interior, de pensar e tentar essa procura de sermos melhores e cada vez estarmos mais perto daquilo que dizemos, quer no Credo, quer quando dizemos que o mais importante é amar a Deus acima de todas as coisas e aos irmãos como a nós mesmos.
O caminho da Quaresma para mim é muito mais um caminho de conversão interior, neste sentido de me ir modificando cada vez mais.
– Disse que uma conversa para si não era uma confissão e acabou por se confessar. É algo que tem peso para si? E a oração?
– A oração é a força que vence a dúvida. Obviamente que todos os sacramentos são importantes para mim, e o sacramento da Confissão também. Se me perguntar se me confesso com essa regularidade, é verdade que não. Talvez seja um dos meus caminhos a percorrer. Confesso-me naturalmente várias vezes, mas não tenho uma prática mensal.
Estou convencido que tenho o pecado da presunção de que tenho uma relação com Deus que me permite falar com Ele todos os dias e em qualquer momento. Talvez esta presunção, às vezes, me leve a não ser tão assíduo à confissão como devia ser.
– É uma relação de intimidade. Reza com fórmulas, com o coração?
– Rezo essencialmente com o coração. Não tenho muitas fórmulas. De manhã, invoco o Espírito Santo. À noite, rezo as orações que vêm desde pequeno.
O Pai Nosso e a Ave-Maria são as orações de eleição, e o Glória também. São muito importantes para mim e faço-as muitas vezes durante o dia, porque me tocam muito. Depois é o que me vem à cabeça, é mais uma conversa pessoal. Eu acho que conversar com Deus é rezar.
«Sinto obrigação moral de chamar outros»
– Já disse que a missão da sua vida é evangelizar e que o faz através do testemunho. Sente que o faz enquanto treinador e selecionador de futebol?
– Sempre o fiz no meu trabalho. Acho que isso faz parte da vivência cristã.
Às vezes, os cristãos e católicos, e eu também, corremos esse risco que é o de nos darmos por satisfeitos por: «Conhecemos Deus, porreiro.»; «Vou à Eucaristia todos os domingos e o meu trabalho está feito.» E eu acho que isso é curto. Tenho muito isto porque eu fui chamado ao reencontro, porque alguém de quem Deus se serviu me chamou. Se é assim, eu sinto quase esta obrigação moral de chamar outros. É por isso que sinto esta missão de evangelizar.
– Com o Euro, falou-se muito do impacto que a sua fé teria nos jogadores. O Ricardo Quaresma batizou-se. Vemos jogadores fazerem o sinal da cruz ao entrar em campo. É superstição ou há fé?
– Sempre fizeram. É uma postura. Também não se pode cair no erro de pensar que tudo isso é só fezada ou superstição. Em muitos casos é convicção.
Eu benzo-me e não é por fezada ou por superstição. É aquilo que eu faço quando vou trabalhar de manhã, ou quando me levanto e ofereço o meu dia. Se vou trabalhar naquele momento, ofereço aquele trabalho a Deus e acho que muitos jogadores o farão. Outros casos será pura fezada ou superstição.
– Vai acompanhar a peregrinação do Papa a Fátima?
– Eu vou com alguma regularidade ao Santuário de Fátima. Gosto de falar com a Mãe e gosto muito do silêncio de Fátima. Uma das coisas que mais me apaixona em Maria é o seu silêncio. E Fátima, para mim, tem muito que ver com o silêncio, esta aceitação de Maria. Aquelas palavras dela «faça-se em mim de acordo com a vossa palavra» ressoam-me sempre aqui. Esta aceitação e este silêncio é algo que me marca muito.
Por isso, com alguma frequência vou ao Santuário de Fátima. Há ali uma presença muito forte, muito constante. Mas tenho este problema que é: fora do silêncio tenho muita dificuldade em estar em Fátima.
Penso um bocadinho: agora sou selecionador nacional em Fátima e, de repente, num momento de oração, começam a pedir-me e a tirar-me fotografias... Por isso, Deus me há de dar o recado «vais ou não vais». Por um lado, quero ir; por outro, retraio-me um bocadinho.
Este é um excerto de uma reportagem que pode ler na FAMÍLIA CRISTÃ de abril de 2017.