Manuel Martínez-Sellés é médico cardiologista, em Espanha, e o autor de um livro intitulado
E Deus fez-Se célula, que será apresentado esta semana em Portugal. O investigador afirma que «do ponto de vista científico a vida dos seres humanos começa com a fecundação». Tanto é assim que «está legalmente estabelecido desde outubro de 2011 pelo Tribunal de Justiça Europeu». Daí que Manuel Martínez-Sellés diga que «não são aceitáveis técnicas que impliquem a destruição de embriões humanos, como é o caso da fertilização
in vitro».
E porquê? O investigador afirma que esta técnica de reprodução medicamente assistida «permite, tipo fábrica, produzir filhos para os pais que não podem tê-los». Manuel Martínez-Sellés explica que «os laboratórios de fertilização
in vitro “fabricam” rotineiramente vários embriões por ciclo e, em seguida, selecionam os “melhores” para os implantar na mãe, os seus irmãos “piores” ou são mortos (aborto eugénico), ou congelados (no processo de congelamento cerca de um terço morre) ou são usados em investigação».
Uma das questões mais polémicas relativas à moral sexual da Igreja tem que ver com a contraceção. Como médico e investigador, Manuel Martinéz-Sellés salienta que é preciso distinguir contraceção «de métodos abortivos por anti-implantatórios como o dispositivo intrauterino (DIU) ou a chamada pílula do dia seguinte (Levonorgestrel) que apresentam um agravante ético “extra”». Nestes casos, já há óvulo fecundado e portanto vida que estes métodos impedem que continue com a implantação no útero.
Muitas católicas usam o DIU e casais recorrem a fertilização
in vitro. Manuel Martínez-Sellés já foi confrontado. «Já me aconteceu várias vezes dar conferências sobre estes temas e vir no fim um casal católico, bem intencionado, que tinha usado a fertilização
in vitro sem saber o que implicava e a destruição de embriões que lhe é inerente.»
O médico acusa as clínicas privadas, onde muitas vezes estas fertilizações são feitas, de procurarem mais o lucro do que informar. «No momento de dar informação é habitual que a relação direta da fertilização in vitro com o aborto se oculte», afirma.
De acordo com dados do registo dos embriões criopreservados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida português (CNPMA), a que a agência Lusa teve acesso e divulgou na semana passada, há 20 875 embriões criopreservados. A mesma notícia dava conta da doação de 44 embriões a outros casais e da descongelação e morte de 331. De acordo com a lei portuguesa, os embriões que não forem transferidos devem ser criopreservados. Os beneficiários comprometem-se a utilizá-los no prazo máximo de três anos.
A ciência tem evoluído muitíssimo e nesta área da genética também. Mas nem todas as evoluções e descobertas vão no sentido positivo e de defesa da vida. Manuel Martínez-Sellés diz que «há quem defenda que se possam matar crianças até aos dois anos, mesmo que não tenham nenhuma doença!» O médico defende que avanços científicos como «a manipulação genética podem ser muito úteis quando aplicados a plantas ou animais, mas também podem ser perigosos e inaceitáveis se se pretendem aplicar no homem».
Numa Europa envelhecida, Manuel Martínez-Sellés pede políticas de promoção da natalidade urgentes. Aos casais cristãos pede: «Devemos ser generosos e lembrar que um filho é um dom, um bem. É preciso justificar por que motivo não queremos um bem. O marido e a mulher estão chamados a procriar, deve haver razões para não procriar, e não para procriar.»
Manuel Martínez-Sellés d´Oliveira Soares é médico cardiologista em Espanha. Nas suas atividades na pastoral familiar confrontou-se com «o frequente desconhecimento que havia de diversos aspetos da origem da vida tanto duma perspetiva de doutrina cristã como do ponto de vista científico». Além disso, havia a noção de que as visões da fé e da ciência podiam ser contraditórias. «No meu dia a dia como médico e investigador científico, comprovo que o estudo da criação, da vida, do homem permite descobrir uma beleza que nos pode aproximar de Nosso Senhor», afirma. Daí à vontade de partilhar esta visão e conhecimentos foi um pequeno passo. O livro
E Deus fez-Se célula foi publicado em Espanha e agora editado pela PAULUS Editora em Portugal.
A obra será apresentada publicamente 23 de setembro, pelas 21h00, no auditório da Igreja do Cristo Rei, da Portela, em Lisboa. O autor proferirá uma conferência e o livro será apresentado por António Pinheiro Torres, da Federação Portuguesa pela Vida, e Dina Matos Ferreira, professora universitária e autora da nota introdutória da edição portuguesa.
Manuel Matínez-Sellés é casado e tem sete filhos. É médico cardiologista, professor universitário, presidente da secção de Cardiologia Geriátrica da Sociedade Espanhola de Cardiologia e vice-presidente do Comité de Ética do Hospital Universitário Gregorio Marañon. Já recebeu inúmeros prémios nas áreas de cardiologia e bioética. O autor é Doutor em Medicina e Cirurgia, Mestre em Desenho e Estatística em Ciências da Saúde e Especialista Universitário em Pastoral Familiar.