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«Fomos ver o Papa passar e acenar-lhe»
04.05.2017
São irmãos e alguns cônjuges da família Felícia Domingues. A mais velha, Maria, tem 87 anos. A mais nova, Zulmira, 66. Cresceram na Ortigosa, uma aldeia a sete quilómetros de Monte Real.

Mário, Júlia, Maria, Rosa, Manuel, Zulmira, Hermínia e Luís

Todos se lembram bem do dia 13 de maio de 1967 quando o Papa Paulo VI chegou a Portugal para visitar o Santuário de Fátima. Maria e Hermínia viviam já em Monte Real. Maria tinha mesmo uma pensão para acolher quem vinha fazer termas em Monte Real. «Paulo VI aterrou em Monte Real e ia de carro em procissão por aí afora. As crianças todas vestidas de branco. Em Monte Real, eram as meninas e meninos das escolas de Amor, Carvide e Monte Real. Juntaram-se todos e fizeram alas de um lado e de outro da estrada desde o campo até Monte Real», recorda.

Paulo VI fez o percurso de cerca de 40 km de carro, atravessando aldeias e a cidade de Leiria. Sempre rodeado por um mar de gente. Mário Domingues lembra-se bem do que viu: «À beira da estrada estava tudo cheio de pessoal! Nem sei o que aquilo parecia. Não se rompia com gente.»

As pessoas mobilizaram-se para ir ver passar o Papa. «Nós fomos para o adro da Igreja», dizem em uníssono Zulmira, Mário e Júlia. O irmão tinha 33 anos. Zulmira tinha apenas 16: «Assentámo-nos no adro da igreja para ver passar o Papa e lhe acenar com a mão. Soubemos através do rádio.» Mário acrescenta que, na paróquia, «o padre avisava que passava o Papa ali às tantas horas».

Papa Paulo VI em Fátima, em 1967. Foto: CPP

Manuel, marido de Rosa, e natural das Várzeas, estava na altura «em Torres Novas na tropa». Conta que a maior parte dos colegas foi mobilizado para Fátima para garantir a segurança. «Eu não fazia serviço de capacete e pude vir para casa com dois colegas que estavam mobilizados para o Ultramar. Viemos a pé. Quem é que nos dava boleia naquela altura?! Vínhamos para casa e foi na altura em que o Papa passou. Era lusco-fusco e ele vinha de regresso à Base, num carro aberto em pé. Muita gente de um lado e do outro.»

Em 1967, nos 50 anos das aparições, nenhum foi a Fátima. Mas lembram-se de ir a pé desde pequeninos. Em casa, eram nove filhos e rezavam o terço a Nossa Senhora de Fátima à noite junto da lareira.

Maria, a mais velha dos irmãos, conta a primeira vez que se lembra de ter ido a Fátima: «Era muito pequenininha. Levavam-me pela mão que eu já não queria andar, que me doíam as pernas. E a minha mãe e a Ti’Ermelinda, coitadinha: “Vá, mais um bocadito, mais um bocadito.” Lá cheguei. Deitaram-me em cima de umas pedras em cima de um xaile. Depois fomos ao pé de Nossa Senhora e lá estivemos. Para cá, os homens começaram a mostrar quem tinha a perna mais grossa e partiram o barril da água. Fizeram uma grande festa, porque foi a água e não o quarto do vinho.» Ri-se enquanto conta o episódio que ficou bem marcado na memória.

Todos já tinham ido a Fátima em 1967. Mário recorda que «a primeira vez ainda havia aquelas pedras todas de volta da azinheira. Dormi entre uma pedra e outra. Fazia de cabeceira uma pedra e era todo o povo assim. Dormíamos lá no chão ao frio». Zulmira acrescenta que «íamos em pé, em grupos e dormíamos lá de noite». As condições das peregrinações eram muito diferentes das de hoje. Rosa conta: «Lembro-me de ir uma vez e no caminho só se podia pão e água. Tinha-se fome comia-se pão. Tinha-se fome bebia-se água. Não havia mais nada e já era bom. Caminhos, com silvas, tojos e tudo.»

Desde então todos já foram a Fátima muitas outras vezes. Nos últimos anos, de carro, que as pernas e a idade não dão para mais.

Depois de Paulo VI, também aterrou em Monte Real João Paulo II, em 1991, mas seguiu de helicóptero para Fátima. Os dois rezaram na Capela da Base Aérea, como fará também o Papa Francisco.
Reportagem e fotografias: Cláudia Sebastião e CPP


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