O Papa Francisco e o Patriarca Ecuménico Bartolomeu uniram-se para escrever a
mensagem para o Dia de Oração pela Criação, instituído em 2015. Os dois líderes religiosos afirmam que «o nosso relacionamento com a natureza já não é para a sustentar, mas para a subjugar a fim de alimentar as nossas estruturas».

Daí que o Papa e o Patriarca deixem dois apelos. Toda a Humanidade deve «trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral». Aos responsáveis sociais, económicos, políticos ou culturais, «dirigimos um apelo urgente a prestar responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja sanada a criação ferida». Francisco e Bartolomeu afirmam: «Estamos convencidos de que não poderá haver uma solução genuína e duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças climáticas, sem uma resposta concertada e coletiva, sem uma responsabilidade compartilhada e capaz de prestar contas do seu agir, sem dar prioridade à solidariedade e ao serviço.» Este apelo é tanto mais importante quando o presidente dos Estados Unidos da América retirou o país do Acordo de Paris para travar o aquecimento global. Donald Trump não acredita nas alterações climáticas. Quando esteve com o Papa, em maio, Francisco ofereceu-lhe uma cópia da Encíclica
Laudato Si, precisamente sobre o ambiente.
Homens deixaram de ser «cooperadores de Deus»
Na mensagem defende-se que «a terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja responsabilidade todos compartilhamos até que, “no fim”, todas as coisas no céu e na terra sejam restauradas em Cristo». Mas os homens têm tratado a natureza de forma diferente e já não como «cooperadores de Deus». O Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu afirmam que «a nossa tendência a romper os delicados e equilibrados ecossistemas do mundo, o desejo insaciável de manipular e controlar os limitados recursos do planeta, a avidez de retirar do mercado lucros ilimitados: tudo isto nos alienou do desígnio original da criação». Passamos a encarar a natureza como «posse privada». Daí que o planeta se deteriore. Os dois líderes religiosos salientam como consequências as mudanças climáticas que atingem «aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo».
O Papa Francisco e o Patriarca Ecuménico Bartolomeu convidam todos a rezar, neste 1 de setembro, pela criação.
Bispos portugueses lembram impacto dos incêndios
Os bispos portugueses quiseram associar-se também a este dia de oração pelo cuidado com a criação. A Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana tornou pública uma nota em que salienta o impacto dos incêndios e da seca em Portugal. «Num ano de tão grande seca seria desnecessário falar das alterações climáticas. São evidentes. Os impactos negativos sobre as populações atingidas pelos incêndios têm sido enormes: a morte de tantas pessoas, a perda de habitações permanentes, o desaparecimento de postos de trabalho (em zonas onde já não abundam), a morte de animais e a destruição de pastos…»
Em abril, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou a nota pastoral
Cuidar da casa comum, prevenir e evitar os incêndios. Agora, a Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana convida todos a «dar graças a Deus pela Criação e a pedir ao Criador a conversão do coração daqueles que se consideram donos e senhores do mundo em que vivemos». Os bispos pedem «que nunca mais sejam esquecidos os milhões de pessoas, nossas irmãs e irmãos que, em tantas zonas do planeta, sofrem de fome, de doenças e de miséria devido à má distribuição dos bens da Criação que Deus destinou a todos».
Cristãos unidos pela criação
Também o
Conselho das Conferências Episcopais da Europa, a
Conferência das Igrejas Europeias (que reúne 114 Igrejas Ortodoxas, Protestantes, Anglicanas e Católicas Antigas) e a
ECEN (Rede Cristã Europeia para o Ambiente) elaboraram uma mensagem conjunta. No comunicado, estas organizações convidam a um «Tempo para a criação: Tempo para orações pelo mundo e ambiente» entre os dias 1 e 4 de setembro. «Celebraremos o Tempo para a Criação juntos, dentro das próprias tradições litúrgicas e sustentados pela comum fé cristã em Deus Criador. Apelamos a que cada um no seu ambiente de vida a ofereça orações e súplicas pelo dom da Criação», pedem.