No início de maio, quando as atenções mundiais estavam concentradas no que se passava na península coreana, algo de muito importante aconteceu no Médio Oriente.
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Aviões de combate israelitas entraram no espaço aéreo sírio e executaram dezenas de ataques contra alvos naquele país. O próprio Estado-Maior israelita descreveu esta ação como «a maior ali realizada em décadas», mas não foi isso que a tornou tão importante. A nacionalidade dos alvos é que faz toda a diferença, porque eram iranianos e não sírios, como seria de esperar.
Esta ofensiva sem precedentes visou bases e meios da Força Al Quds da Guarda Revolucionária do Irão, a força militar mais importante do regime xiita. O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, garantiu que a sua Força Aérea «tinha atingido toda a infraestrutura iraniana na Síria». Os russos, que também têm uma presença militar importante naquele país, contaram 28 aviões de combate e 70 mísseis israelitas disparados.
Moscovo garantiu que mais de metade destes últimos foram abatidos pelas baterias antiaéreas de Damasco, mas tudo indica que isso não corresponde à realidade. Israel afirmou ter destruído cinco dessas baterias e há notícias de que alguns países árabes se mostraram muito impressionados com a capacidade israelita de atacar com eficácia, precisão e impunidade um conjunto tão grande de alvos.
A causa imediata de tudo isto foi o bombardeamento realizado pelo Hezbollah e por milícias pró-iranianas contra território israelita a partir de posições nos Montes Golan, na fronteira sírio-israelita. Isto levou o governo de Telavive a acusar pela primeira vez Teerão de estar a atacar diretamente Israel. Na sequência dos ataques aéreos, Avigdor Lieberman garantiu que o seu país não permitiria que a Síria se tornasse numa «base avançada» do Irão.
Apesar de o sistema antimíssil “Cúpula de Ferro” dar aos israelitas uma grande proteção em relação aos ataques de artilharia e com mísseis que possam vir da Síria, a verdade é que a guerra civil naquele país constitui um risco acrescido muito importante para a segurança de Israel.
O problema para Israel é que esta situação tirou autonomia ao governo de Damasco para controlar a ação dos seus aliados dentro do seu próprio território. Russos e iranianos têm agora milhares de combatentes na Síria e bases permanentes cada vez mais importantes, o que significa que vieram para ficar – pelo menos no curto e médio prazo.
Dado que Israel já tem de enfrentar a ameaça do Hezbollah, no Líbano, que na última guerra, há 12 anos, deu muitos problemas ao seu exército, isto significa que a sua fronteira Norte está agora muito mais exposta ao risco.
Esse risco poderia ser muito mitigado por um enquadramento mais pacífico do Irão nas relações internacionais, mas o que está a acontecer é exatamente o oposto. A 8 de maio, dois dias antes de os israelitas lançarem os seus ataques aéreos na Síria, o presidente dos Estados Unidos anunciou a retirada do seu país do acordo de 2015 sobre o programa nuclear iraniano.
Sem esse compromisso estratégico entre os EUA e o Irão, muitos observadores temem que qualquer incidente mais grave na fronteira israelo-síria possa provocar uma guerra generalizada, de grande escala, com o Irão. Israel nunca acreditou que o acordo internacional de 2015 fosse suficiente para travar as ambições nucleares iranianas e que Teerão alguma vez tenha desistido de ter a bomba atómica. Se esse eventual conflito fronteiriço escalar para algo mais grave, Israel pode sentir-se suficientemente apoiado pela administração Trump para destruir o Irão militarmente. O custo humano seria incalculável.
Texto: Rolando Santos
Fotos: Mil.ru e Andrew Shiva
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