Um conjunto de personalidades da sociedade civil portuguesa, incluindo responsáveis católicos, vai promover uma jornada de «memória, luto e afirmação da esperança» de homenagem às vítimas da pandemia, com o alto patrocínio do presidente da República, de 22 a 24 de outubro.

«O rasto deixado é de desolação: o número dos diretamente afetados caminha para os 180 milhões e, desses, perto de quatro milhões perderam a vida. Estamos perante uma tragédia de proporções avassaladoras», lê-se na declaração enviada à Família Cristã.
Os promotores da ‘Jornada de memória, luto e afirmação da esperança’ afirmam que não podem, nem querem esquecer as «perto de 900 mil pessoas contagiadas» pelo novo coronavírus, dado que «muitas passaram por situações desesperadas de que estão ainda a recuperar física e psiquicamente».
Neste contexto, evocam «as mais de 17 mil vítimas mortais», sublinhando que «grande parte delas sofreu sozinha, morreu longe dos seus e sem possibilidade de um último adeus».
O manifesto recorda também familiares e amigos das vítimas, as várias categorias de profissionais que trabalharam até ao esgotamento nas linhas da frente.
Neste sentido, a jornada nacional pretende «mobilizar» a sociedade portuguesa e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem, e «dar densidade, rosto, vida e sentido coletivo» aos números, estatísticas e gráficos que têm sido apresentados, desde março de 2020, quando começou a pandemia Covid-19.
A organização explica que a jornada propõe-se a «prestar tributo» às pessoas que faleceram, a «acolher o sofrimento e as narrativas» dos que foram afetados pela pandemia e suas consequências e «celebrar e agradecer a todos os que cuidaram da saúde e minoraram o sofrimento e a dor de tantos».
Não está ainda definido como tudo irá decorrer, mas tudo aponta, diz a organização, para uma cerimónia nacional, e múltiplas iniciativas locais ou setoriais, de carácter livre.
Num dos dias da jornada, os promotores pedem que os sinos das igrejas toquem ao meio-dia e as famílias vão ser convidadas a colocar, à noite, uma vela num espaço público coletivo ou na janela das suas casas.
Todos os setores e áreas da sociedade portuguesa são convidados a participar, as instituições religiosas, «atendendo à proximidade com as respetivas comunidades e aos rituais próprios que têm para lidar com o sofrimento e a morte», os órgãos do poder autárquico municipal e de freguesia, as escolas e as instituições educativas, as de saúde, de ação/intervenção social e de proteção civil, as instituições e os atores culturais e os meios de comunicação social.
Para o grupo de cidadãos «é imprescindível» fazer o luto pessoal e comunitário e destacam que é igualmente necessário «afirmar a esperança». «Afirmar a esperança será também não desistir de pensar um outro mundo, de questionar o modelo de sociedade centrado no ter e não no ser. Reconhecer que somos todos vulneráveis e interdependentes, que estamos todos no mesmo barco e que reconhecê-lo pode ajudar a superar o medo», concluem.
Texto: Ricardo Perna (com Agência Ecclesia)
Foto: Ricardo Perna
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