É a primeira vez que D. Virgílio do Carmo da Silva, bispo de Díli, Timor-Leste, participa num Sínodo, uma responsabilidade que deixa o prelado «muito orgulhoso». «É uma descoberta, uma ocasião para experimentar esta universalidade da Igreja, podemos contactar com diferentes realidades da Igreja no mundo. É uma experiência muito rica, especial», confirma D. Virgílio, em conversa com a Família Cristã num dos dois dias de pausa dos trabalhos do Sínodo, enquanto se redige a primeira versão do Documento Final.
O tempo passado no Sínodo tem permitido perceber um «desafio» para a Igreja universal. «Mesmo que vivamos em várias circunstâncias, temos uma língua comum: a juventude. Esta realidade convida-nos a fazer um caminho de redescoberta, voltar às origens da Igreja, escutar, evangelizar, caminhar com os jovens», defende D. Virgílio.
A realidade timorense está, na perspetiva das vocações sacerdotais, muito diferente da perspetiva europeia. Este país de maioria católica é, na realidade asiática maioritariamente muçulmana, uma exceção. «Dentro de Timor, sente-se um orgulho em ser católico. Na minha intervenção, quando falei das estatísticas, muitos bispos mostraram-se interessados com a minha apresentação, porque é uma realidade única. Na maior parte das Igrejas, no mundo, o número de católicos está a descer, mas em Timor é ao contrário. Isso é uma esperança, também, para a Igreja», sustenta.

As estatísticas de que D. Virgílio fala são as de uma população jovem que enche as vagas nas congregações religiosas do país. «Ao mesmo tempo, o seminário das três dioceses tem 150 seminaristas de Filosofia e Teologia; no próximo ano, esperamos mais de 30 novos alunos, ou seja, 180, 190 seminaristas», explica, acrescentando um problema que é quase irónico, considerando a realidade europeia de encerramento e fusão de seminários. «O nosso problema é saber onde colocar todos estes seminaristas, esta é a nossa realidade», diz, com um sorriso.
Apesar dos números, D. Virgílio está preocupado com as tendências atuais relativamente aos jovens e à sua relação com a religião. «Timor, como sabemos, viveu uma longa experiência de guerra, durante a ocupação indonésia. Este foi um momento em que muitos foram batizados, mas depois da independência, embora a maioria continue a ser católica, os praticantes são poucos. Alguns começam a voltar às práticas tradicionais», lamenta.
É por isto que o bispo de Dili defende uma «nova evangelização». «A tarefa da Igreja é fazer uma nova evangelização, para levar a mensagem de Cristo a esta nova realidade. É a grande tarefa da comunidade católica em Timor, temos de multiplicar os nossos esforços, apostar na qualidade dos nossos formadores, educadores», avança.
Uma perspetiva sinodal muito eurocêntrica
No que diz respeito aos trabalhos do Sínodo, D. Virgílio confirma um sentimento partilhado por alguns membros da aula sinodal, principalmente oriundos de realidades não europeias, que defende que «há muitas coisas orientadas para a realidade europeia» nos trabalhos sinodais. «É algo muito frequente nas várias intervenções, sobre o foco do Sínodo», diz.
No entanto, também defende que a utilidade do Sínodo vai depender de «cada Igreja local». «É necessária uma conversão dentro da Igreja, os bispos, os padres, os religiosos, uma mudança de mentalidade, de atitude, na relação com os jovens. Quando a Igreja local não consegue fazer este caminho de conversão, de transformação, é difícil», avisa.
No que diz respeito a Timor, sustenta, uma das temáticas sinodais que toca a realidade timorense é a tecnologia. «Quando falamos da tenologia, dos media, da globalização, também afeta Timor, por exemplo. Somos uma nação jovem, com 16 anos, e estas novas tecnologias entram rapidamente. Os jovens sabem melhor do que nós» como as aplicar e utilizar, conclui.
Por isso, diz, é importante usar uma das «palavras-chave» deste Sínodo: «escutar». «Escutar os jovens, aprender, ouvir os bispos e procurar interpretar, com a perspetiva da fé, para implementar ações», afirma.
Os trabalhos do Sínodo dos Jovens estão numa pausa, enquanto se redige a primeira versão do Documento Final, com base nas contribuições das intervenções sinodais e dos trabalhos nos Círculos Menores. Amanhã, terça-feira, será apresentada, em conferência de imprensa, a primeira versão do Documento Final, que deverá ainda ser objeto de melhorias e aperfeiçoamentos até sábado, altura em que será votado e redigido o Documento Final.
A reportagem do Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Família Cristã, Agência Ecclesia, Flor de Lis, Rádio Renascença, Voz da Verdade
Texto e fotos: Ricardo Perna
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