22.11.2021
É cada vez mais notório que a cadeia alimentar portuguesa é hoje marcada por problemas estruturais e dependência de importações, tanto de alimentos como de fatores intermédios para os produzir, começando desde logo pelo facto de Portugal ser deficitário na produção de vários alimentos essenciais, como as leguminosas.
As leguminosas, como sejam a ervilha, o grão-de-bico, a fava, o feijão ou as lentilhas, são um dos grupos alimentares da Dieta Mediterrânica, cuja promoção faz parte dos eixos de ação de várias estratégias e planos nacionais. No entanto, continua em falta uma estratégia para a capacitação produtiva e comercial num quadro de uma transição ecológica justa do sistema agroalimentar. Os índices de autoaprovisionamento nacionais continuam embaraçosamente baixos para alguns dos bens alimentares estratégicos, como é o caso das leguminosas secas (18%) ou mesmo dos cereais (20%), ainda que para estes últimos o país apresente limitações ao nível da disponibilidade de áreas adequadas ao cultivo.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, não só a área de terra arável tem vindo a contrair (uma diminuição de 19% em 20 anos), como em 2019 a maior parte da produção de cereais (61,9%) foi destinada para a alimentação animal. Os solos agrícolas privilegiados estão ocupados sobretudo por culturas permanentes em regime de monocultura – um ordenamento irracional das culturas e um desaproveitamento do potencial produtivo dos solos. Por outro lado, a Balança Alimentar Portuguesa apresenta um défice de 8,8% no consumo de vegetais, enquanto os consumos de carne e de peixe se encontram 11,5% acima do valor recomendado.
Só uma estratégia alimentar que procure o aumento do consumo de proteínas de origem vegetal e a incorporação de leguminosas nos sistemas agrícolas poderá ajudar a equilibrar as nossas dietas, valorizando produtos cultural e ecologicamente adequados. Adicionalmente, o cultivo de leguminosas pode possibilitar a diversificação de culturas agrícolas, devido à capacidade de se associarem a árvores e arbustos com interesse alimentar e forrageiro. As leguminosas podem ainda contribuir para o equilíbrio dos agroecossistemas através da redução da dependência de fertilizantes de síntese e do desempenho de funções ecológicas essenciais como a proteção do solo e o fomento de populações de polinizadores. Na sua alimentação, aumente o consumo de leguminosas a bem da saúde e do ambiente.