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Livro sensibiliza crianças para os refugiados
20.06.2018
Carla Alves é mãe de Mariana. A filha fez anos em abril. Com ela, outros três colegas do 2.º ano também comemoraram o aniversário nesse mesmo mês. Os pais da turma do Colégio de São João de Brito têm juntando as comemorações dos aniversários dos filhos. Neste caso, Carla e os outros pais não quiseram presentes para as crianças. «Pedimos a cada pai que contribuísse com um donativo e escolhemos o JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) este ano», explica à FAMÍLIA CRISTÃ. E as crianças perceberam? Esta mãe explica que sim, embora tenha havido inicialmente pena por não receberem os habituais brinquedos. «Explicámos que, quando eles têm tantos brinquedos, há meninos que não têm brinquedos nem roupa. Conseguimos angariar 580 euros. Eram quase 40 crianças.



Neste dia mundial do refugiado, a turma destes quatro meninos marcou presença na apresentação do livro Os meus irmãos refugiados, de Thereza Ameal, com ilustrações de Pedro Rocha e Mello. O local escolhido foi o Centro de Acolhimento de refugiados da Câmara Municipal de Lisboa, no Lumiar, ao cuidado do JRS. Neste momento, vivem aqui 26 refugiados. Mas desde a abertura, em fevereiro de 2016, já passaram pelo centro 200 pessoas. André Costa Jorge, diretor do JRS, acredita que é «importante irmos sensibilizando as crianças e os mais jovens que estão deste lado do mundo e que felizmente vivem longe do contexto de perigo e de risco em que vivem os refugiados». Este responsável salienta, em entrevista à FAMÍLIA CRISTÃ, que todos temos de «estar atentos à realidade que nos rodeia e que existem outras pessoas que estão em sofrimento. E isso deve levar-nos a agir e não nos aburguesarmos no nosso bem-estar. Sairmos de nós, irmos ao encontro de Deus e Deus está no rosto dos pobres e dos que sofrem.»

Um dos trabalhos feitos por crianças do Colégio Valsassina.

A apresentação do livro contou com a presença de dezenas de crianças de vários estabelecimentos de ensino de Lisboa (Colégio São João de Brito, Colégio Valsassina, Colégio São Tomás e crianças do projeto All Together da Associação de Pais das Escolas do Alto do Lumiar). Uns trabalharam o tema dos refugiados, outros o próprio livro escrito por Thereza Ameal. Os trabalhos foram expostos no local. A autora revela tê-lo escrito por se ter deixado tocar pelo que lhe foi contado pelo sobrinho e pelo filho e nora que estiveram a trabalhar, como voluntários, com refugiados, na Grécia. «O Pedro [Rocha e Mello, sobrinho] mandou-me uma foto de uma menina com uma cara amorosa e eu rezava todos os dias pelos refugiados e vinha-me sempre à cabeça a cara daquela menina», conta. Foi nessa menina que se inspirou para contar a história de Miriam. Mas por que razão alguém escreve um livro sobre refugiados para crianças? «É importante falar com as crianças de coisas sérias», defende. Dirigindo-se aos mais pequenos presentes, a autora pediu: «Ponham o dedo no ar os que já ouviram falar deste assunto no telejornal ou noutro sítio?» Quase todos se levantaram. «Às vezes, os pais não se lembram de conversar sobre isto com os filhos. Ajudem os vossos pais a abri o coração aos refugiados, se eles tiverem medo», pediu.

Thereza Ameal, a autora

Thereza Ameal disse compreender porque tantos têm medo dos refugiados: «A diferença, em geral, assusta, mete medo. Não devemos deixar nunca nunca que a diferença nos faça um coração duro e que nos feche o coração. Gostaria muito que este livro nos ajudasse a promover a paz e a acolher os nossos irmãos refugiados», pediu. O ilustrador Pedro Rocha e Mello sublinhou o mesmo pedido, com base na sua própria experiência. «Há dois anos, trabalhei no centro do JRS em Atenas. Ao fazer este livro olhei para trás e vi o que conhecia dos refugiados antes de ir para a Grécia. Foi ótimo ir descobrindo, ir abrindo o coração.» No livro, a história de Miriam é ficção, mas tem muito de real nela. «Nesta história estão centenas de pessoas e de caras diferentes verdadeiras e como portugueses temos esta responsabilidade de saber acolher e de saber acolher o que é diferente e que não nos deve assustar», defendeu.

O livro Os meus irmãos refugiados tem prefácio e introdução de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Guterres. Os direitos de autor resultantes da venda da obra serão doados ao JRS.
 
Reportagem e fotos: Cláudia Sebastião
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