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Moçambique: Ataques continuam e número de refugiados aumenta
29.03.2021
Continua a escalada de violência em Moçambique, com o porta-voz da diocese de Pemba, o Pe. Kwiriwi Fonseca, a relatar a chegada a Pemba, ontem, domingo, de uma embarcação com «mais de mil pessoas» que fugiam da zona de Palma, local dos mais recentes ataques terroristas na região. «Pedimos a vossa mão, o vosso socorro», diz o Padre Kwiriwi Fonseca num relato dramático enviado para a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). 


Responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, o sacerdote fala em «total desespero» das pessoas que conseguiram fugir dos combates nesta cidade e lembra que há ainda «muita gente à deriva», que «muita gente está nas matas, que muita gente precisa de alimentação».

No ficheiro audio disponibilizado pela flial portuguesa da orgnaização internaiconal de ajuda, o Pe. Kwiriwi Fonseca afirman que há pessoas que «há quatro dias que não conseguem comer». 

Esta mais recente chegada de refugiados é proveniente, segundo explica o sacerdote, de «funcionários da companhia Total, vindo de Afungi». O sacerdote relata que é muito difícil obter mais informações sobre a situação em Palma, palco de um violento ataque terrorista na quarta-feira, 24 de Março, e que as autoridades não permitem para já o acesso à cidade. «Alguns, raríssimos, que foram para lá, não conseguiram aproximar-se porque a orientação do governo é para não tirar nem foto, nem fazer algumas gravações», explica o responsável da Diocese de Pemba.

Na mensagem gravada, o sacerdote pede ajuda para salvar vidas pedindo «socorro» para estas populações deslocadas que vêm agora engrossar o número dos que fugiram dos ataques terroristas que têm vindo a semear violência e morte em Cabo Delgado. «O povo clama por socorro. Não temos muitos detalhes, mas o mais importante é salvarmos vidas», realça.

Esta situação, que já estava má, tem vindo a piorar nos últmos tempos. Depois da saída do bispo de Pemba, D. Fernando Luiz Lisboa, sem ser possível estabelecer uma ligação direta, com essa saída, têm aumentado os ataques. Há dias era o Pe. Eregard Silva, missionário que estava na missão de Nangololo, que foi destruída, enviar um relato de preocupação para a situação dos refugiados que já estavam deslocados.

Ontem, Dominogo de Ramos, o administrador apostólico da Diocese de Pemba afirmou, citado pela Agência Ecclesia, que a «justiça numa nação é inegociável», lembrou que «tudo o que é violência deixou de ser religião» e pediu que a guerra na região termine «quanto antes». «Confiaremos a Jesus para que ele coloque o sofrimento da nossa Província de Cabo Delgado junto do Pai e pronuncie a palavra da misericórdia para que sejamos transformados todos desde dentro, para que esta guerra que ninguém entende e maltrata a todos termine quanto antes», afirmou D. António Juliasse.

O ataque a Palma, segundos os dados divulgados pela Fundação AIS, «teve início na quarta-feira, dia 24 de Março, e provocou até agora um número ainda desconhecido de vítimas, havendo o relato de que grande parte da população terá tentado fugir. Num relato de uma dessas pessoas em fuga, a que a Fundação AIS teve acesso logo nas primeiras horas após a ofensiva terrorista, dizia-se que "as casas" estavam "abandonadas", e que havia "tiroteios em todo o lado"», pode ler-se no comunicado enviado pela organização aos meios de comunicação social.

A região de Cabo Delgado tem sido palco de ataques por grupos armados que têm reivindicado a sua ligação ao Daesh, os jihadistas do grupo Estado Islâmico, desde Outubro de 2017 e que têm conduzido a região para uma situação de profunda crise humanitária. De acordo com as Nações Unidas, no final do ano passado havia já mais de 670 mil deslocados e mais de dois mil mortos.

 
Texto: Ricardo Perna (com Fundação AIS e Agência Ecclesia)
Foto: Fundação AIS

 
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