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Moçambique: ataques em Mocímboa da Praia obrigam à fuga da população
29.06.2020
Este fim de semana, registaram-se novos ataques por grupos «fortemente armados» em Mocímbua da Praia, Moçambique. Segundo avança a Fundação AIS com base em testemunhos da Irmã Graça António Guitate, das Filhas do Imaculado Coração de Maria, «às 5 horas, eles atacaram a vila de Mocímboa da Praia». Os combates entre exército e os grupos armados terão durado «até ao meio-dia» e «não se fala em muitas infraestruturas danificadas, mas sim conta-se que morreram muitos militares moçambicanos», explica a religiosa.

Foto: Fundação AIS


Nuno Rogeiro, o conhecido analista político e comentador especialista em assuntos internacionais, publicou no Facebook um post sobre o ataque, dizendo que «depois de cerca de um mês sem grandes ataques, o Daesh EIPAC executou um assalto às posições policiais de Mocimboa da Praia, desde as 5 da manhã de hoje, hora de Moçambique», usando «morteiros de 60mm e canhões sem recuo SPG-9 pelo Daesh». O autor do livro O Cabo do Medo, sobre os ataques em cabo Delgado, afirma que «a intervenção de helicópteros terá evitado a reocupação total da terra pelo bando, mas muitos civis voltaram a estar na situação de refugiados nas matas circundantes». Nuno Rogeiro explica que o grupo armado procura «um grande objetivo militar em Moçambique». «Os atacantes - em grande número- vieram de um dos campos do norte da antiga base «Síria»/Siri (antes comandada pelo tanzaniano Ambasse, entretanto morto), perseguidos por um coluna das FDS. Mas parece certo que gozam de grande cumplicidade local, pois não poderiam permanecer na zona quase em permanência, sem apoio logístico continuado», continua.
 
Ainda antes do ataque ter ocorrido, as Irmãs Graça e Joaquina, da Congregação das Filhas do Imaculado Coração de Maria, enviaram mensagens à Fundação AIS em que descreviam um ambiente de caos humanitário na região de Pemba, para onde têm fugido milhares de pessoas por causa dos ataques dos jihadistas. «Os ataques têm sido algo cada vez pior aqui na nossa província, e os missionários nessa zona norte, nomeadamente de Palma, Mocímboa da Praia, Nangade, Mueda, Muidumbe, Macomia, Meluco, Quisanga e Ibo já abandonaram as missões.»

A Irmã Joaquina Tarse salienta que se vive «uma situação preocupante» no norte de Moçambique, afirmando que em 2017 «parecia que o interesse [dos grupos armados] era mais a zona norte da província… hoje percebe-se que eles querem tomar toda a província porque já estão a alastrar-se para sul de Cabo Delgado».

A violência em Cabo Delgado provocou já centenas de mortos e mais de 200 mil deslocados. O Bispo de Pemba explica que «o alojamento não é suficiente para todos, porque aqui em Pemba, por exemplo, as famílias estão a receber [os desalojados], mas há também grandes acampamentos sem as condições necessárias. Não há tendas suficientes, não há comida que chegue, porque é muita gente».

Por André Koehne - my draw, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2436507
À Fundação AIS, tanto a Irmã Graça como a Irmã Joaquina revelam que a Congregação das Filhas do Imaculado Coração de Maria está a apoar os deslocados «também moralmente porque é uma população que não precisa apenas de alimentos mas também de um acompanhamento espiritual». A Irmã Graça explica que «são pessoas que viram os seus pais, os seus irmãos a serem degolados…».

 
Texto: Cláudia Sebastião
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