A Capela Sistina foi o palco de um concerto histórico no Vaticano. Lado a lado, o coro da Capela Sistina, liderada por Mons. Marcos Pavan, e o Coro da Santíssima Trindade da Catedral de Tbilisi interpretaram Ave Maria, numa composição original do Patriarca Ilia II, líder da Igreja Ortodoxa da Geórgia, e Patriarca Católicos de toda a Geórgia, na conclusão de mais de duas horas de concerto de música tradicional cristã georgiana, uma das mais antigas nações cristãs da Europa.
Em palco, os mais de 34 elementos do coro executaram obras que remonta a uma música tradicional polifónica georgiana, antiga na sua origem, que remonta à fundação da nação georgiana. «Ė uma música única muito rica nas suas harmonias, enraizadas na tradição cristão e devoção à Santíssima Virgem Maria, aos Pais da Igreja, Santos e Mártires da Igreja, deste país cristão do Cáucaso, que se encontra rodeado de nações de maioria islâmicas», explica D. José Bettencourt, núncio apostólico para a Geórgia e Arménia, um dos principais impulsionadores desta iniciativa, que partiu do Papa Francisco.
A voz grave dos homens do coro ecoava, fruto da bela acústica da Capela Sistina, pelo espaço e isentava qualquer necessidade de acompanhamento musical de instrumentos. Em algumas canções, a voz da solista Ketevan Kartvelishvili acrescentava uma suavidade que contrastava com a dureza das vozes masculinas, transportando o espetador para uma realidade bem longe do Vaticano ou das suas belas capelas.
Ao coro georgiano juntou-se o Coro da Capela Sistina, que abriu o espetáculo com algumas músicas do seu belo reportório. O coro é composto apenas por homens e crianças do sexo masculino, as chamadas vozes brancas, os meninos que cantam a parte habitualmente ligada às vozes femininas, e mereceu os aplausos de todos os presentes na Capela Sistina.
No final, a cereja no topo do bolo: os dois coros uniram-se sobre a direção do Maestro Svimon Jangulashvili para entoarem a Ave Maria, com a participação da solista Iano Tamari, a peça musical que será apresentada no dia 29, na solenidade de S. Pedro e S. Paulo, perante o Papa Francisco.
Um concerto em nome da Paz
Tudo começou em 2019, quando o Papa Francisco escreveu ao Patriarca Ilia II a propor um encontro no Vaticano para celebrar os 40 anos da histórica visita do Patriarca, em 1980, ele que era, na altura, o diplomata mais empenhado na independência da Geórgia da Rússia no palco mundial. Na sua carta, o Papa propôs que o evento fosse uma celebração musical com a participação do Coro Patriarcal que deveria mostrar a música georgiana e a as composições originais do Patriarca no Vaticano.
A carta foi entregue por D. José Bettencourt, que estava então a assumir o papel de Núncio Apostólico na Geórgia e na Arménia. Na Páscoa deste ano, na habitual troca de saudações pascais, o Patriarca Ilia II aceitou oficialmente o convite para o Coro cantar no Vaticano.

À Família Cristã, D. José Bettencourt recorda que «o frágil Patriarca Ília II, tem 90 anos de idade, quis que o seu coro o representasse em Roma e levasse algumas das suas próprias composições musicais, entre elas uma extraordinária composição musical do Ave Maria, como prece». «O concerto da Capela Patriarcal Ortodoxa da Catedral da Santíssima Trindade de Tbilisi, Geórgia, na Capela Sistina no Vaticano no dia 26 de junho, foi um acontecimento histórico por ser a primeira vez que aconteceu, e é monumental dado a situação mundial que vivemos e que é muito sentida nesta região do Cáucaso», refere, já que o povo da Geórgia enfrentou tempos e dificuldades semelhantes aos da Ucrânia no seu caminho para a independência.
O prelado recorda que, «em 2008, na Geórgia viveu-se aquilo que a Ucrânia vive hoje». «Na Geórgia houve muita gente que, na guerra de 2008 com a Rússia, perdeu a vida, muitos tiveram que abandonar as suas casas na Ossétia do Sul e anteriormente na Abecásia, hoje ainda sob ocupação russa, e que não podem tão pouco visitar as campas dos seus entes queridos que lá se encontram sepultados. Perderam tudo. Vive-se em sofrimento», reconhece o núncio, que desde 2019 desempenha essas funções diplomáticas.
Para D. José Bettencourt, o concerto de ontem e a presença perante o Papa Francisco são «parte de uma esperança que algo de melhor possa tornar-se realidade». «Só a intercessão da Virgem Maria Santíssima e de Deus poderá mudar corações e dar paz ao mundo», sustenta.
A reportagem em Roma resulta de uma parceria entre a Família Cristã, a Agência Ecclesia, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.
Reportagem e fotos: Ricardo Perna
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