D. Mieczyslaw Mokrzycki, Arcebispo de Lviv, Ucrânia, esteve em Fátima a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. O seu país sofre com uma guerra civil há anos, e o arcebispo confia que a oração do Terço e a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima, cujo centenário das aparições encerra esta semana, podem ajudar o seu povo. Isso e a pressão internacional contra a Rússia, que poderia e deveria ser mais efetiva da parte dos político e do próprio Vaticano, segundo afirma o prelado nesta entrevista.
Qual é o significado da Mensagem de Fátima no contexto da Ucrânia?
Quando a Mensagem de Fátima aqui se revelou há já 100 anos, chamou o mundo todo à oração, à penitência e à conversão. Porque, como se sabe, as pessoas nem sempre seguem os Mandamentos de Deus, afastam-se de Deus, e para o mundo pode vir um perigo como o do comunismo. Este pode destruir a Igreja, pode destruir a comunidade. E sabemos que estes Países, sobretudo na Europa, se podem converter e voltar-se para Deus com a oração. Com a oração do Terço, podemos dizer que se salvaram deste grande desastre do comunismo. Por exemplo, na Polónia, o comunismo era mais recente e arruinou a vida da Igreja e da humanidade. Ao contrário, a Rússia e todas as suas repúblicas foram iludidas e tiveram que viver submetidas a este grande Partido Comunista que destruiu a religião, as igrejas e ainda, podemos dizer, destruiu também espiritualmente o homem.
A mensagem de Nossa Senhora de Fátima, para nós ucranianos, é ainda hoje atual. N. Sra. pede-nos a força da mudança e da nossa conversão, e sobretudo a oração pela conversão da Rússia. Neste País (em Portugal), a santa Mãe de Deus também pediu para que se rezasse pela conversão da Rússia. Podemos dizer que a Rússia é uma nascente deste mal pelo qual muitos Países, precisamente por causa daquele País, tanto sofreram.
Nossa Senhora fala de paz, mas nem todos escutam…
Sabemos que cada homem tem a sua liberdade. Muitos ligam à voz de Deus e à voz da Mãe. Mas apesar de tudo isso, muitos outros são indiferentes, e, porque se encontram bem neste mundo, não querem nem se abrem às necessidades dos outros. Esperamos que Nossa Senhora e também a força das orações de todo o mundo possam mudar o seu pensamento.
Que importância pode ter a Mensagem de Fátima nos destinos da Ucrânia em guerra?
Nossa Senhora de Fátima afirmou que podemos alcançar a paz através da oração, da nossa conversão e que podemos rezar também pela conversão da Rússia. E na Ucrânia vemos, porque não há paz, que o problema é mesmo a Rússia, que continua a fazer guerra ao nosso País e que até anexou uma parte do nosso País, a Crimeia, e quer ainda destruir e abusar da independência do nosso País, através da guerra na região de Donetsk, no leste.
Pensa que, com muita oração, a Rússia acabará por se converter?
Eu acredito e espero que, através das orações, não só na Rússia mas em toda a Igreja, sobretudo aqui em Fátima, que junta aqui tanta gente, possa existir a força para terminar com a guerra no nosso país.
Como está a vida no país?
A guerra não trouxe nem paz nem tranquilidade, e trouxe a morte de tantas pessoas, destruições, deportações, e ainda emigrações de muitas pessoas. As pessoas dão-se conta de que a nossa força vem apenas da oração. Somente com a ajuda de Deus e com a sua bênção podemos ganhar realmente a paz e vencer o mal.
Está a ser mais difícil as pessoas viverem a sua fé na Ucrânia por causa da guerra?
A Ucrânia é praticamente toda crente, e cristã, com muitos ortodoxos. São 14 milhões de católicos, dos quais um milhão e meio são latinos, e hoje temos plena liberdade de professar a nossa fé e de ir à igreja. Mas há ainda muita gente indiferente; e devemos tentar levar muito mais gente à Igreja e à oração.
Acredita que Nossa Senhora sofre por causa dos seus filhos na Ucrânia?
Nossa Senhora pediu que nos convertamos, que mudemos o nosso comportamento, que não ofendamos mais o seu Filho que sofre quando nós não somos fiéis, quando não observamos os mandamentos. Como Mãe, tem no coração também todo o povo ucraniano. E espera que também neste País tão cristão possa reinar a paz, a bondade e a tranquilidade.
As pessoas mantêm a sua fé ou, com o passar dos anos, à medida que a guerra persiste, perdem a sua fé em Deus?
Durante esta guerra há muita gente que cada vez mais se aproxima da Igreja, porque com as políticas e a diplomacia não se conseguem resultados. Então, a única esperança está na oração. Observamos cada vez mais pessoas nas igrejas, seja ortodoxas, seja nas da Igreja Católica. As pessoas finalmente descobriram que a esperança e a mudança só se alcançam com a ajuda divina.
Pensa que os bispos poderiam ser mediadores importantes para alcançar uma plataforma de paz neste conflito?
Nós podemos falar, e falamos, com os políticos da Ucrânia, e quando nos encontramos com outras personalidades da Europa, falamos deste problema e pedimos que intervenham através do mundo internacional. Pedimos que não sejamos esquecidos porque também a Ucrânia tem direito a ser um País independente, de ter as suas fronteiras estáveis, e de viver em plena dignidade na paz.
Sentem-se marginalizados pela comunidade internacional?
Infelizmente, podemos dizer assim: nem no l’Osservatore Romano se fala disto; no entanto, o Papa assegura-nos, quando o encontramos, que se lembra de nós nas suas orações. Mas queremos mais, até mesmo da Santa Sé. Queremos que, de vez em quando, dirija um apelo em favor da paz na Ucrânia. Recebemos uma ajuda humanitária, mas queremos estar mais presentes no mundo da política, e até mesmo no Vaticano.
Entrevista e fotos: Ricardo Perna
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