O programa Protege o teu coração educa para a sexualidade, formando o carácter. Comemora em 2018 os seus 25 anos de existência. Nasceu na Colômbia e atualmente está em 18 países da América, Europa e Ásia. A FAMÍLIA CRISTÃ conversou com os fundadores e com os responsáveis em Portugal.
Juan Francisco Vélez e María Luisa Estrada Vélez são casados e pais de sete filhos. Em 1993, fundaram
Protege tu Corazón (PTC), em Medellín, na Colômbia. María Luisa explica que o programa nasceu depois de uma conversa com uma amiga. «Ela disse-me: “Os nossos filhos estão numa altura em que podem aparecer-nos com um bebé nos braços.” E eu respondi: “Não, primeiro é preciso educar no amor.” Mas ela dizia-me que era preciso dar-lhes preservativos. A crianças de 12 ou 13 anos!» Chegou a casa frustrada por não conseguir explicar à amiga por que razão isso lhe parecia errado. Na mesma altura, a educação sexual tornava-se obrigatória em todas as escolas do país. As dúvidas levaram o casal à procura de soluções. «Conhecemos programas que já existiam há muitos anos nos Estados Unidos e que valorizavam esperar, valorizavam a abstinência e consideravam que o sexo seguro não era assim tão seguro. Começámos a receber informações sobre isso e maravilhou-nos.»
Pais não falam com filhos
Em 1993, fizeram um estudo com os jovens que acompanhavam e 80% diziam que os pais não falavam com eles sobre sexualidade. María Luisa diz que pouco ou nada mudou. «Por um lado, os pais deixam os filhos sós. Podem estar em casa, mas não estão conectados. Por outro, também têm muito medo de falar. Pensam sempre “se lhe falo, vou abrir-lhe os olhos.” “Se lhe falo, saberá mais do que eu.” “Não sei como dizer…” Os pais, em vez de falar, calam-se.» Daí que o programa também tenha sessões para pais e filhos juntos. São oportunidades para conversarem sobre estes temas do amor, dos sonhos, dos valores.
Ponto assente: os pais devem falar com os filhos sobre estes temas. Mas como e quando? «A sexualidade implica, por um lado, dar toda a informação e mais vale chegar um ano antes do que um minuto depois.» Os jovens iniciam a vida sexual ativa cada vez mais cedo e confundem amor e sexo. «A mensagem de que amor é igual a sexo está em todo o lado e associada a esta mensagem está outra: “Amor é igual a sexo e se queres sexo, simplesmente proteges-te.”»
Valores e sexualidade?
O PTC tem formações para pais, adolescentes, professores e pais e adolescentes juntos. A base do PTC é formar os valores e aposta na continuidade ao longo dos anos. María Luisa explica a importância dos valores para a sexualidade. «Não se pode viver bem a sexualidade se não tens um bom carácter e um bom carácter são justamente os valores. Bom carácter é ter fortaleza, é ter autenticidade, é saber resistir às pressões, é valorizar-te a ti mesmo, conhecer-te e valorizar-te. É, também, entender o amor. Tudo isso é bom carácter. Sem valores é impossível, é muito difícil.»

O PTC espalhou-se por vários países da América Latina e atualmente está também em Espanha, Itália, Estados Unidos, Singapura. Desde 2009 que o programa Protege o teu Coração está em Portugal. Atualmente, há cerca de 15 a 20 formadores, e duas equipas, em Lisboa e em Viseu, que asseguram formação em todo o país. Cátia Almeida, da coordenação, explica que «a maior parte são em colégios privados, paróquias, grupos de jovens, escuteiros e também algumas escolas públicas».
Cátia explica que se fala de «temas muito variados, desde emoções, aprender a tomar decisões, a internet, música e vídeos, publicidade, ter um sonho e levar a sua meta até ao fim». A formadora é pedopsiquiatra, e tanto nas formações como no consultório verifica a dificuldade de os pais falarem com os filhos. «A verdade é que têm dificuldade, têm pudor, têm vergonha, não sabem como, às vezes é a própria incoerência da vida dos pais… Quando fazemos sessões para pais e conjuntas, percebem que não é assim tão difícil. É preciso tempo. E os pais não passam assim tanto tempo com os miúdos, não é?»
Cátia apaixonou-se pelo programa Protege o teu Coração quando ainda estava a estudar Medicina. Pela mão de uma amiga conheceu o PTC e foi amor à primeira vista. Nas formações, nota «adolescentes com uma sede imensa, com uma vontade de que lhes falem disto, que lhes toquem no coração. Ficam emocionados e sentem falta que algum adulto de referência e da confiança deles lhes fale destas coisas de coração a coração». Cátia recorda, emocionada, uma conversa depois da sessão «Eu antes de nascer», em que se explica o desenvolvimento do bebé durante a gravidez. «Uma adolescente dizia “se me tivessem falado disto antes eu ainda tinha o meu filho”. Foi muito impactante. Nós não sabíamos a realidade da adolescente. Percebi que estava muito inquieta durante a sessão e até chorou e veio falar connosco no final.»